Combate à Covid-19

Respiradores em desuso recolhidos em hospitais pela PM chegam a BH para reparos

Aparelhos serão consertados e utilizados no tratamento de pacientes com coronavírus no Estado; engenheiros e técnicos do Senai e de outras empresas realizam manutenção

Ter, 07/04/20 - 15h05

Começaram a chegar nesta terça-feira (7) a Belo Horizonte os respiradores mecânicos danificados que foram recolhidos em todo o Estado pela Polícia Militar (PM) e serão consertados na capital. Esses aparelhos, em desuso em clínicas e hospitais públicos e particulares, são essenciais para o tratamento de pacientes graves de Covid-19.

Também nesta terça-feira, 18 respiradores de unidades hospitalares de Macapá (AP) e Brasília chegaram à capital mineira, trazidos em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), para serem reparados no Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e posteriormente utilizados no enfrentamento à pandemia.

O conserto dos respiradores começou há duas semanas no CIT. Além dos 18 transportados pela FAB, o local conta atualmente com nove respiradores em fase de higienização, que antecede o conserto, e dez em processo de manutenção. Os aparelhos são de hospitais do interior do Estado e da capital.

Cerca de dez engenheiros e técnicos do Senai atuam no centro, além de profissionais da ArcelorMittal, empresa parceira no projeto. O trabalho é voluntário. “Eles já são conhecedores de manutenção, eletroeletrônica e mecânica, só que nunca fizeram manutenção de respiradores antes. Então, a gente está contando com o apoio de engenheiros clínicos e com o conhecimento deles de como funciona o equipamento”, explica o gerente de inovação e tecnologia do Senai Minas, André Zanatta.

“É uma coisa muito legal, porque estamos salvando vidas, temos expectativa de que cada respirador pode atender até dez pessoas”, diz. Segundo Zanatta, várias empresas estão procurando o Senai para oferecer doações e disponibilizar mão de obra para os reparos.

Agora, o serviço se prepara para receber os respiradores recolhidos pela PM. “Já estamos preparados com várias bancadas de manutenção e nos organizando para que possamos entregar os aparelhos em funcionamento o mais rápido possível. Claro que tem a curva de aprendizagem, que está crescendo com o passar do tempo, são muitos modelos e problemas diferentes, alguns equipamentos estão parados há muito tempo. Alguns não vamos conseguir recuperar, porque não há mais peças para eles no mercado”, afirma o gerente.

Ele diz que parte dos aparelhos vai para o Senai e parte para a fábrica da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), em Betim, na região metropolitana, que também é parceira no projeto. A meta é consertar os respiradores em uma semana, contada a partir da chegada de cada aparelho.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), Minas Gerais tem, atualmente, 6.272 respiradores e ventiladores, sendo que 5.935 estão em uso. Do total, 4.743 estão no Serviço Único de Saúde (SUS).

Esses aparelhos ajudam as pessoas a respirar quando o sistema respiratório tem dificuldades de funcionar, como pode ocorrer com pacientes com casos graves de coronavírus. Eles "forçam" o ar a chegar aos pulmões do paciente e eliminam o gás carbônico do organismo.

O porta-voz da PM de Minas Gerais, major Flávio Santiago, diz que o trabalho de coleta dos respiradores por parte da corporação deve se encerrar nesta quarta-feira (8). Ele não informou quantos aparelhos já foram recolhidos – na última semana, quando o governador Romeu Zema (Novo) determinou a ação, a expectativa era que cerca de mil equipamentos fossem buscados.

“Desde sexta-feira (3), estamos visitando todos os estabelecimentos hospitalares de Minas Gerais, sem exceção, para fazer essa verificação. Nós registramos em boletim de ocorrência o respirador que, por ventura, está quebrado e que o hospital topa emprestar para ver se o Estado consegue fazer a manutenção. Trazemos aparelhos de todo o Estado para Belo Horizonte e, se a manutenção der certo, o respirador fica como uma opção caso haja o colapsamento do sistema, para que ele possa atender mais pessoas”, afirma o major Flávio Santiago. “Quando terminar a pandemia e a vida começar a se normalizar, esse respirador pode voltar, consertado, para o hospital que emprestou”, conclui.

O Senai atua na manutenção de respiradores mecânicos em todo o país, em parceria com dez indústrias. A rede voluntária conta com 25 pontos de manutenção em 13 Estados brasileiros.

Na ArcelorMittal, engenheiros das áreas de eletrotécnica e eletromecânica foram cedidos pela empresa para trabalharem na recuperação dos equipamentos. “Um dos maiores desafios será encontrar soluções para os mais de 200 modelos de respiradores existentes, alguns dos quais sem manuais ou referências técnicas”, diz a companhia, em nota. No total, 18 profissionais estão envolvidos no projeto. Segundo a empresa, os três primeiros respiradores serão entregues ao Hospital Margarida, em João Monlevade, na região Central, nesta semana.

Na FCA, 18 técnicos, sendo 15 da montadora e três da Comau, empresa de automação e serviços do grupo, foram treinados para atuar no conserto dos equipamentos.

Empresa mineira produz respiradores inteligentes

A Tacom, empresa mineira especializada em soluções para o transporte coletivo, está desenvolvendo um projeto de respiradores inteligentes para atender pacientes com Covid-19. A ideia é produzir, ainda neste mês, de 500 a mil aparelhos, sendo até 10 mil durante a pandemia, e disponibilizá-los a unidades de saúde.

“Conseguimos sair do zero e desenvolver um respirador para atender pacientes de média e alta complexidade, com as características específicas para o combate à Covid-19. Temos intensivistas nos ajudando na configuração, e a ideia é fazer um equipamento muito complexo do ponto de vista tecnológico, mas de operação simples por parte dos profissionais”, afirma um dos diretores e sócio da Tacom, Marco Antônio Tonussi.

Os respiradores vão funcionar em rede com centros de controle e monitoramento, para que o profissional de saúde possa monitorar as condições de diversos leitos remotamente e ao mesmo tempo. Outro benefício é que os aparelhos isolam o ambiente do ar expirado pelo paciente, por meio de um sistema de exaustão a vácuo, o que reduz o risco de contaminação dos profissionais da saúde.

De acordo com Tonussi, há financiamento garantido para a produção dos primeiros 5.000 respiradores. Antes, porém, é necessária a homologação da Anvisa. “Temos hoje um produto pronto para entrar em produção. Vamos selecionar parceiros com características compatíveis com esse tipo de produção de equipamento médico e que tenham porte para escalar a produção no volume que precisamos”, explica.

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