Capital dos bares e eleita Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco em 2019, Belo Horizonte enfrentou praticamente cinco meses de isolamento e incertezas por causa da pandemia do novo coronavírus. Bares e restaurantes estiveram de portas fechadas, alguns operando via delivery, antes de serem autorizados a reabrir, seguindo uma série de medidas sanitárias, após um acordo, na semana passada, entre a prefeitura e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel). Cerca de 3.000 negócios encerraram definitivamente suas atividades na capital nesse período, de acordo com a Abrasel.
Mas, em pleno cenário de crise, houve também iniciativas gastronômicas que nasceram justamente durante a quarentena. Caso da pizzaria Forno da Saudade, hospedada, temporariamente, na Cozinha Tupis, que fica no badalado Mercado Novo. Com os corredores vazios e sem a típica aglomeração – cena comum em tempos de normalidade no local –, a plaquinha provisória da casa mostra que se trata, ali, de uma novidade que estava engatilhada bem antes da pandemia.
Outro estabelecimento que começou a funcionar há pouco mais de uma semana foi o 1929, sanduicheria que ocupa o mesmo espaço do quase centenário bar Tip Top, em BH. “Precisávamos de um produto especialmente para ser vendido via delivery durante a pandemia e com um preço acessível”, explica Ludmila Carneiro, sócia-proprietária do Tip Top.
CHEGA DE SAUDADE. A Forno da Saudade nasceu no fim de julho, e, curiosamente, seu nome, definido antes da pandemia, veio a calhar com o momento. “Não existe sentimento que mais represente a pandemia do que a saudade”, disse o chef e sócio Henrique Gilberto, que também comanda a Cozinha Tupis.
O chef conta que os testes da pizza já eram recorrentes entre o pessoal da cozinha, e o resultado deu tão certo que era um desejo a divulgação do produto, mesmo durante a pandemia – por isso a criação do delivery. “Já tínhamos o projeto de inaugurar fisicamente o Forno da Saudade. Veio a pandemia, e paramos tudo. Agora, estamos focando no serviço de entrega, mas ainda existe o desejo, mesmo sem concretização, de um espaço físico”, planeja ele, que prepara as redondas com massa de fermentação natural e, por causa do processo artesanal, limita-se à entrega de 70 unidades por dia.
Já os sanduíches da 1929 são feitos com embutidos e carnes curadas no próprio estabelecimento, como uma forma também de dar continuidade às receitas criadas pela fundadora Paula Huven. O pão, agora, também é fabricado lá e entra em criações como o sanduíche Eisbein, feito com lascas de joelho de porco glaceadas.
Com espaços físicos ou não, as iniciativas que nasceram recentemente garantem que em um futuro próximo será possível desfrutar de boas novidades gastronômicas na cidade.
Delivery: termômetro para a inauguração de novas casas
O período de incertezas também contribuiu para que projetos gastronômicos fossem postergados ou adiados. O Garagem Cabernet, “irmão” mais novo do já conhecido Cabernet Botequim, por exemplo, inverteu a ordem do seu lançamento – previsto para três dias antes do primeiro decreto da PBH que fechou diversos estabelecimentos para evitar aglomerações – para oferecer o serviço de entrega antes de abrir o espaço.
A casa, especializada em coquetéis autorais que levam, em sua maioria, vinho na composição, estreou via delivery com pratos, petiscos e o negroni – drink que serviu como “teaser” do menu alcoólico, que, em breve, poderá contemplado, quando o cenário estiver mais seguro, apesar de já ser permitido o consumo de bebidas alcoólicas em estabelecimentos em algumas situações.
“De fato, dá uma ansiedade não ver a casa movimentada. A ideia é inaugurar o salão explorando, por enquanto, a parte gastronômica e a coquetelaria sem álcool”, contou Pablo Teixeira, sócio da casa juntamente com Maria Cláudia Teixeira.
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