Fenômeno

Avós modernos são multitarefa e contribuem na renda família

Expectativa de vida maior, programas para a ‘melhor idade’ e mudanças no emprego explicam

Qui, 26/07/18 - 03h00
Superavó. Paula cuida das netas para que os pais das crianças trabalhem fora e adora a tarefa | Foto: Cristiane Mattos

 Nem em sonhos a vovó Paula Vieira de Miranda, 55, imaginou que cuidaria das três netas com tanta responsabilidade. “Esqueci que iria ter netos um dia, até que meus filhos ficaram grávidos juntos, e eu, de repente, me vi, inclusive, de resguardo. Sou eu quem fico com as meninas e as deixo na escola”, conta. Neste Dia dos Avós, comemorado hoje, fica evidente que os idosos “paparicadores” de netos ficaram para trás: eles participam ativamente da vida familiar, inclusive contribuindo para a geração de renda.

“Desde o fim da década de 80, os avós estão participando da economia familiar. Ao mesmo tempo em que aumentou a longevidade, com uma série de programas para a ‘melhor idade’, também teve uma nova estruturação do trabalho, com novas formas de contratação – algumas com menor renda e mais atribuições.

 

Viagens, paqueras e diversão na lista

Se antes “tudo podia na casa dos avós”, agora não é mais bem assim. Ulisses Tavares, avô de um neto e autor do livro “Engate uma 3ª e Vá em Frente”, criou uma espécie de manual de boas práticas para avós modernos. 

“Não somos entulho de mudança quando os filhos se separam, nem babás noturnas quando eles saem e deixam os netos em casa. No Brasil, as pessoas se comportam como se os vovôs e as vovós fossem eternos, e cronologicamente são eles que têm menos tempo de vida. Avós namoram, têm que ter o tempo da soneca e de se divertir. Nada de ser o responsável por pegar crédito consignado para o celular da netinha”, provoca Tavares, brincando com uma situação corriqueira. 

Ele defende que, para se chegar a um cenário ideal, “os dois lados precisam ser sinceros para que a convivência com os netos não seja cansativa nem desgastante”. 

Maria Áurea Penaforte, 81, não perde tempo na hora de aproveitar os benefícios da idade. Com 14 netos e quatro bisnetos, ela mora com uma neta e uma bisneta. Mas, na hora de viajar, é ela quem organiza as excursões. “A família só vai crescendo, mas a gente não pode parar. Já fomos para Aparecida, Curvelo e serra da Piedade. Participo de tudo”, conta. 

Com isso entra a figura dos avós para complementar a renda, ainda que seja ‘olhando os netinhos’”, afirma a socióloga Marlucy Godoy Ricci, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Ela explica que os avós do século XXI dão conselhos, mudam seus hábitos e são responsáveis por criar uma rede de solidariedade. Se antes o pai era o único responsável pelo sustento dos muitos filhos, agora os poucos filhos, noras e os avós contribuem na economia familiar. “São mudanças de hábitos. Nas novas famílias, toda a renda é compartilhada”, frisa. 

Mesmo com todo o trabalho de ficar uma parte do dia com três crianças e ser responsável por deixá-las na escola enquanto os pais trabalham, Paula não quer outra vida: “É bom demais. No fim de semana, quando elas não estão, sinto uma falta danada”. 

Darci Félix, 58, também acha ruim ficar longe da neta Catarina, 5. Esperando o segundo, Daniel, ela vê as responsabilidades crescendo junto com a gravidez da filha e se prepara para deixar o emprego de cuidadora de idoso para estar com o bebê nas primeiras semanas. “A maioria dos pais e mães trabalha fora. E todos confiam mais nos avós para ajudar na criação das crianças. A gente que é avó não tem aquela obrigação de criar os netos, mas a educação que passamos para eles é a mesma dos filhos”, diz.
 

PBH destina R$ 9 milhões a projetos para idoso

Um total de R$ 9 milhões oriundos do Fundo Municipal do Idoso da Prefeitura de Belo Horizonte será destinado a projetos em prol da terceira idade. Neste segundo semestre, será aberta uma licitação para que entidades apresentem suas propostas. O Conselho Municipal do Idoso e a prefeitura vão selecionar os melhores, com previsão de execução a partir de 2019.

“Já temos várias iniciativas em vigor com os recursos desse fundo, como o de empreendedorismo para a pessoa idosa”, explica a analista de políticas públicas e secretária executiva do conselho, Sandra de Mendonça Mallet. 

Empresas e o cidadão podem destinar recursos do Imposto de Renda para projetos deste fundo. Editais são abertos para captação de recursos por parte das entidades. Do total, 20% dos valores são destinados para a universalidade da política. 

 

UFMG tem Universidade Aberta em B

Com a expectativa de vida maior, muitos avós aproveitam a terceira idade para estudar ou realizar atividades sócioculturais.

Uma das iniciativas que aproximam os idosos do ambiente acadêmico é a Universidade Aberta da Terceira Idade, projeto de extensão da UFMG. São, em média, 50 pessoas, na faixa etária de 72 anos, que, depois de cuidar dos netos, aproveitam para se divertir. 

“Esse vínculo com a família está cada vez mais forte. Mas também percebemos que os idosos fazem questão de tirar um tempo só para eles. No projeto, eles viajam, visitam museus, têm palestras voltadas para a saúde. Tratamos de questões do cotidiano”, explica a terapeuta Marcella Assis, uma das coordenadoras do projeto há 26 anos. 

Envelhecendo

Brasil. A população ganhou 4,8 milhões de idosos de 2012 a 2017, superando a marca dos 30,2 milhões, um acréscimo de 18% na faixa etária acima dos 60 anos, segundo dados do IBGE. 

 

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