Fiat Chrysler

Belini diz que está na hora de o governo 'aliviar o pé'

Mercado automobilístico deve fechar o ano com 20% de queda

Sex, 09/10/15 - 20h41

O presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina, Cledorvino Belini, defendeu nesta sexta-feira (9) o acerto do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em fazer o ajuste fiscal, mas com uma ressalva: “Acho que está na hora de aliviar o pé para que dê fôlego à economia em geral. Acredito que chega um momento de dar um pouco de respiro para a economia, um pouco de crédito, uma vez que os horizontes da inflação tendem a cair”, completou. Belini foi o palestrante do Conexão Empresarial, evento promovido pela VB Comunicação, em Nova Lima.

Sobre o mercado automobilístico no Brasil, Belini acredita que ele deve cair em torno de 20% neste ano em vendas de automóveis e comerciais leves. “E a Fiat está com a proporcionalidade do mercado”, disse o executivo, diante das perdas da montadora.

Por outro lado, Belini disse que o grupo está aumentando a produção do Jeep Renegade – na fábrica em Goiana (PE), inaugurada neste ano. “Estamos conquistando uma boa fatia de mercado, então, há uma compensação e temos um grande potencial com esse novo produto e os que estamos lançando neste ano”, ponderou.

Belini – que deixa a presidência da FCA em 1º de novembro – elogiou seu sucessor Stefan Ketter ao dizer que ele é um grande líder, colega e profissional. “Eu vou fazer uma atividade nova, que ainda não existe, ainda tenho que pensar como vou fazer, e vai ser de comum acordo com Ketter”, disse Belini, referindo-se ao novo cargo de presidente de desenvolvimento para América Latina que vai exercer a partir de novembro.

Belini contou ainda que vai buscar alternativas na América Latina para a Fiat Chrysler e que, se Minas Gerais tiver alternativas boas, “ela vai sair bem na fotografia”. Segundo ele, a indústria automotiva na América Latina está concentrada no Brasil, onde, em Minas Gerais, temos o segundo maior polo automotivo do país – a fábrica da Fiat está em Betim.

”Será que não existem países que possam ter programas de livre comércio com o Brasil? Hoje sei que estão trabalhando um acordo na Colômbia e os outros países, e acordos bilaterais entre Brasil e a Comunidade Européia, tem muita potencialidade. Com isso, aumenta as escalas de produção, pois os produtos ficam mais baratos e consegue agregar maior número de consumidores dentro dessas alternativas”, informou, diante do novo cargo.

Sobre a decisão da empresa em fazer a mudança no comando, Belini disse que há 12 anos ele está na presidência. “Agora é um novo ciclo, preciso também fazer coisas diferentes. É natural os ciclos”, justificou o executivo paulista que está há mais de 40 anos em Minas Gerais.

Se a interrupção antecipada do mandato da presidente Dilma tenderia a piorar ou melhorar a situação das empresas, o presidente da Fiat Chrysler para a América Latina, Cledorvino Belini, disse que o Brasil tem muita volatilidade. “Qualquer movimento político ou econômico importante que aconteça afeta diretamente. Agora, temos que ver no longo prazo, com a indústria automobilística tem que se olhar de cinco a dez anos na frente, não somente no curto prazo”.

Para Belini, o importante são os fundamentos fortes que temos – a democracia, a liberdade de imprensa, as instituições federais, a Justiça. “Isso é que é importante para que haja a atração de capitais neste país”, disse.

Durante a palestra de 30 minutos a empresários, Belini falou ainda sobre a dívida do Brasil. Segundo ele, a dívida bruta do governo brasileiro é de 64% do Produto Interno Bruto (PIB). “Na Itália hoje a dívida bruta é de 132% do PIB. A diferença é que a Itália é um país com raízes produtoras profundas, um país que passou pela Segunda Guerra Mundial e o povo tem a cultura da poupança.

Quando eu levanto essa questão para os acionistas (da FCA), eles dizem que isso não quer dizer nada. É que eles estão longe, então, acham que está bem”, contou.

Por meio de gráficos, Belini mostrou a situação do setor automobilístico no Brasil. Em 1994, tínhamos a proporção de 11 habitantes para cada veículo. “E hoje temos cinco habitantes por veículo. Os Estados Unidos têm um veículo para cada habitante. Para o Brasil chegar à média norte-americana faltam 150 milhões de carros”, comparou.

Na questão da carga tributária, Belini disse que o Brasil tributa muito a aquisição do veículo em uma média de 34%. “Um terço da nossa receita fica na mão do nosso sócio que é o governo e que deveria dar à sociedade a contrapartida. Nos Estados Unidos, a carga é de 6%. “Tributamos muito a aquisição, tributamos muito a propriedade”, comparou. Ele contou ainda que viu um vídeo onde um brasileiro mostrava uma Porshe que tinha adquirido nos Estados Unidos e que pagava por ela US$ 180 de imposto. “Aqui, pagamos o IPVA que é uma taxação sobre o valor do carro”, disse.

Quanto aos ciclos da indústria automobilística, Belini mostrou que na década de 1980, considerada a década perdida, o mercado chegou a vender uma média de 700 mil veículos por ano no Brasil. De 1983 a 1998, a média foi de 1,5 milhão de veículos e de 2005 a 2012 chegou a 2,7 milhões de veículos vendidos por ano.

“A única coisa que temos certeza, como todos os ciclos no Brasil, é que quando a economia retomar, a nova média vai ser maior do que a anterior porque o Brasil tem potencial de crescer. O veículo automóvel é um bem aspiracional e por isso é que ele tem esse potencial de crescimento no Brasil”, disse. Belini disse ainda que o Brasil tem um grande potencial para nosso mercado voltar ao patamar de 3,6 milhões veículos por ano, como já aconteceu. “O Brasil é um dos maiores mercados do mundo de automóveis”, elogiou.

Uma preocupação apontada por Belini, durante a palestra na VB Comunicação, é quanto à participação do PIB na indústria que já foi de 17,9% e hoje é em torno de 8% no Brasil. “Isso é um fato preocupante que se não reverter teremos a desindustrialização no país. Não podemos viver só de agricultura, só da agroindústria ou só da mineração. Não podemos ser exportadores de montanhas e produtores de bananas. Precisamos agregar tecnologia e a industria atrai tecnologia no país”, explicou.

Apesar da situação atual do país, Belini acredita que a crise econômica vai ser resolvida. Otimista, ele explicou um dos slides expostos como foi o caso de um sol refletido na água e a semelhança com a bandeira do Brasil. “Essa não é exatamente a bandeira brasileira, é o sol se pondo no final do dia e que é refletido nas águas do rio Amazonas. O nosso grande desafio é que já mergulhamos nesse rio e agora vamos todos nadar para sair do outro lado porque esse aqui é um grande país”, concluiu a palestra sob aplausos.

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