Longevidade

Cachaça Havana faz 75 anos com produção 100% artesanal

Bebida é envelhecida em dornas de bálsamo durante 12 anos em Salinas, no Norte de Minas

Por Helenice Laguardia
Publicado em 05 de julho de 2018 | 03:00
 
 
Saga. Nascido na fazenda, Geraldo Santiago é o filho caçula do criador da Havana, Anisio Santiago, e é o sócio e administrador do negócio Foto: João Godinho

A longevidade da famosa Havana, cachaça produzida em Salinas, no Norte de Minas Gerais há 75 anos, vem da seriedade ao longo da produção e do respeito ao consumidor. Ensinamentos de Anísio Santiago, criador da marca, que o filho Geraldo, sócio e administrador do negócio mantém sem concessões. “É um desafio interessante porque outras marcas investem muito em garrafas bonitas, em rótulos bonitos, em nome bonito, usam a mídia e tudo isso faz com que vendam. Fica um pouco mais difícil para a gente. Mas nós não vamos mudar nada. Deu certo até hoje. Se querem saber o que é Havana, bebam outra e bebam Havana e, a resposta, o próprio consumidor vai dar”, ensina Santiago. 

Ele lançou a edição comemorativa dos 75 anos da Havana durante a Expocachaça, em Belo Horizonte. São mil garrafas numeradas direcionadas a colecionadores e apreciadores exigentes ao preço de R$ 800 cada uma.

No caso da garrafa comum, Santiago diz que a nota fiscal que sai da fábrica é de R$ 280 para a Havana e R$ 170 para a Anísio Santiago. “As pessoas que compram da gente para revender têm o ganho delas. Não interferimos”, informa.

Santiago conta que é questionado regularmente sobre a possibilidade de aumentar a produção da Havana – bebida cobiçadíssima no mercado – mas sempre responde com uma negativa. “Aumentar a produção com essa qualidade da Havana ia levar de 30 a 40 anos porque ia precisar de dornas com 30 a 40 anos de uso para envelhecer a cachaça nesse padrão de qualidade. Então, tem que esperar”, explica um dos sete filhos de Anísio. E acrescenta: “Se eu quiser fazer 200 mil litros hoje, eu faço. Eu posso engarrafar como Havana e daqui a uma semana vamos ser convidados para o enterro da Havana. Acabou.”, sentencia.

Excelência. A Havana é um pouco mais cara. Para chegar a esse nível de excelência, ela é envelhecida em dornas de bálsamo durante 12 anos. Essas dornas, a maioria delas, têm mais de 50 anos de uso a 47 °C. “Essas mil garrafas comemorativas dos 75 anos foram fabricadas em 2005. Elas têm 13 anos”, exemplifica. 

Sem segredo industrial, Santiago diz que a receita da cachaça Havana continua a mesma do pai que procurava ser honesto. “Usamos o mesmo canavial (cana java), a adubação é um produto orgânico, não entra produto químico, agrotóxico zero e isso é fiscalizado à exaustão pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) que assina a credibilidade que a marca tem”, conta. 

Em dez hectares de cana-de-açúcar com plantio e corte diferenciados, a produção se mantém em Salinas, de acordo com Santiago, porque é uma região onde se produzem boas cachaças por causa do solo e do clima.

O volume de dez hectares de cana são suficientes para a fabricação de 8.000, 10 mil ou 12 mil litros de Havana por ano, dependendo da safra. “A média de venda é de 8.000 a 10 mil litros por ano e assim vai continuar”, diz Santiago, que está comercializando a cachaça produzida em 2006. “A produção é pequena, é limitada, e 100% artesanal. No processo de envasamento, por exemplo, tudo é manual. Não mudamos. Meu pai era daquele jeito. Meu irmão tentou mudar alguma coisa mas não dá certo. Se a gente mudar vai perder o rumo”, afirma.

Numa atividade sazonal durante cinco meses por ano – quando acontecem a moagem e a alambicagem – Santiago diz que tem dez empregados “que dão conta de tudo na fazenda”.

Procedência

Site. Geraldo Santiago faz um apelo às pessoas que querem adquirir a cachaça Havana para que vejam a procedência e indica o site cachacahavanaoficial.com.br para mais informações.

 

Negócio começou em fazenda que tinha fábrica

A história da Havana começou quando Anísio Santiago, em 1940, comprou a fazenda que já tinha uma fábrica de cachaça. Em 1943, ele registrou a marca Havana. “Uma parte (da bebida) ele botava para envelhecer e botava a outra parte para vender. Com o tempo ele foi aperfeiçoando algumas coisas sempre primando pela qualidade, pelo respeito ao consumidor”, conta Geraldo Santiago, sócio e administrador das cachaças Havana e Anísio Santiago. A cachaça começou a criar fama e a ficar mais cara. “A cachaça Havana e Anísio Santiago (meu pai) são indissociáveis. Ele foi o criador. Ele não se preocupou em enricar, ganhar muito dinheiro, fabricar muita cachaça porque ele preferia produzir menos com bastante qualidade”, conta.

Falsificações. Sobre os disparates de cifras, Santiago conta que chama a atenção preços cobrados por falsificadores de R$ 100, R$ 120, R$ 150 pela garrafa com a alegação de que é Havana velha. “Quem tem Havana velha é colecionador, e ela não está à venda”, garante.

Santiago aconselha o cliente a pedir nota fiscal e olhar o selo da Receita Federal que aparece no rótulo. “(Os falsificadores) pegam qualquer tipo de cachaça, fervem com cravo e canela para dar um gostinho diferenciado, fecham a garrafa e arrumam um rótulo diferente como se fosse material envelhecido”, adverte.