Combustível

Chuvas e petróleo encarecem o álcool, a gasolina e o diesel

Produtores de cana interromperam moagem; preço da commodity disparou no mercado

Por Queila Ariadne
Publicado em 23 de abril de 2019 | 03:00
 
 
Em alta. No ano, os aumentos da gasolina são de quase 30% nas refinarias, mas as distribuidoras têm segurado parte do repasse Foto: Fred Magno - 4.1.2018

Na última semana, o consumidor da região metropolitana de Belo Horizonte se assustou com o aumento no preço do etanol. “Fiquei horrorizada. No dia 15 de abril, o litro estava R$ 2,99. Na terça-feira, subiu para R$ 3,09 e, na quarta-feira, para R$ 3,19. No fim de semana chegou a R$ 3,29”, compara a consumidora Camila Saldanha. O susto é ainda maior porque a safra da cana-de-açúcar está prestes a começar, ainda em abril. E, com mais matéria-prima, a expectativa era que a alta na oferta derrubasse o preço do produto final. De acordo com o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, a explicação para o aumento fora de hora está nas chuvas.

“Em abril, choveu muito acima das médias esperadas nas regiões produtoras, e muitas usinas pararam a moagem. Mas isso foi temporário, e elas já estão retomando, portanto os preços devem ser normalizados logo”, justifica Campos. Segundo ele, como o início da safra está próximo, os estoques estavam baixos, o que contribuiu para a redução da oferta e, consequentemente, para as altas percebidas nas bombas nas últimas semanas.

Segundo pesquisa do site Mercado Mineiro, em relação a março, o preço médio do etanol subiu de R$ 3,13 para R$ 3,16 em Belo Horizonte. Já o preço pago ao produtor do etanol hidratado, segundo pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), passou de R$ 1,63 para R$ 1,98. Só de 12 para 18 de abril, o aumento foi de R$ 0,11.

Se as chuvas explicam a disparada do etanol, para a gasolina e o diesel a justificativa está no preço internacional do petróleo. Depois de ter que voltar atrás em um aumento de 5,7% anunciado para o diesel no meio de abril – por recomendação do presidente Jair Bolsonaro –, a estatal anunciou na última quarta-feira um reajuste de R$ 0,10 no preço do litro combustível.

Desde 14 de março, a Petrobras reajustou a gasolina duas vezes. No ano, os aumentos são de quase 30% nas refinarias, mas as distribuidoras têm segurado parte do repasse. Em Belo Horizonte, de acordo com levantamento do site de pesquisas Mercado Mineiro, a alta para o consumidor foi de R$ 4,36 para R$ 4,39.

A expectativa de novos aumentos para o consumidor brasileiro cresce porque os preços estão defasados em relação à cotação internacional. Como a Petrobras pratica uma política de paridade, a tendência é que esses dois combustíveis fiquem mais caros nos próximos dias. Nesta segunda-feira (22), após anúncio do governo dos Estados Unidos de retirar a isenção dada a países compradores de óleo iraniano, os contratos futuros de petróleo fecharam em alta expressiva. O preço do petróleo está no maior patamar do ano.

Barril tem o maior preço desde 31 de outubro de 2018

São Paulo. Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta expressiva nesta segunda-feira, apoiados pela decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar a isenção dada a países compradores de óleo iraniano, vítima de sanções por parte de Washington. Na Intercontinental Exchange (ICE), o barril do petróleo tipo Brent para entrega em junho fechou em alta de 2,88%, para US$ 74,04, maior patamar desde 31 de outubro. Também é o maior preço do ano.

Já na New York Mercantile Exchange, o WTI para o mesmo mês avançou 2,31%, para US$ 65,55 por barril, no maior nível desde 30 de outubro. O contrato do WTI para entrega em maio, que venceu nesta segunda-feira, subiu 2,66%, para US$ 65,70 por barril.

Desde a madrugada, os preços do petróleo operaram com fortes ganhos em meio a informações de que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciaria que os EUA retirariam a isenção dada a países que compram petróleo iraniano.

A isenção havia sido dada no fim do ano passado para que as nações tivessem tempo de encontrar fontes alternativas de importação de petróleo. A medida chamou atenção dos chineses, que criticaram a decisão de Washington, mesmo antes de o comunicado oficial ser divulgado. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, disse que os acordos do país asiático com o Irã são “legítimos e merecem respeito”.

Brasil ganha mais três usinas para produzir etanol de milho

A FS Bioenergia, pioneira na produção nacional de etanol inteiramente à base de milho, anuncia a implantação de mais três usinas no Brasil. Com previsão para início das obras em maio, a unidade de Nova Mutum, no Mato Grosso, receberá investimentos na ordem de R$ 1 bilhão. A nova instalação da empresa terá capacidade para produção anual de 530 milhões de litros de etanol, 340 mil toneladas de farelo de milho, 17 mil toneladas de óleo de milho e cogeração de energia elétrica de 130 mil megawatts. As outras duas plantas serão erguidas nos municípios mato-grossenses de Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste e devem repetir os modelos de construção estabelecidos no país. (Da redação)

Vantagem

Atenção. Pela última pesquisa da ANP (13 de abril) ainda é vantagem abastecer com álcool. Mas consumidores dizem que já têm visto etanol custando mais de 70% do preço da gasolina.