Mapa mudado

Clima faz agricultura mineira se concentrar em quatro regiões

Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste e Sul são as principais produtoras agrícolas do Estado

Dom, 05/02/17 - 02h00
Alteração. Analistas da Faemg, Ana Carolina e Wallisson Fonseca dizem que pecuária está substituindo a agricultura em algumas regiões | Foto: Leo Fontes

O mapa da produção agrícola mineira mudou e se concentrou na última década. As mudanças climáticas e a necessidade de mecanização da produção para controle de custos foram os principais fatores que atuaram nesse processo, que culminou em 82,7% da produção de grãos do Estado em 2016 estar em apenas quatro regiões: Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste e Sul. Em 2006, elas já eram significativas, com 78,5% da produção de grãos, mas o volume era menor. Em 2006 foram 7,37 milhões de toneladas de grãos, de um total de 9,4 milhões. Dez anos depois, as quatro regiões foram responsáveis por 9,67 milhões de toneladas, do total de 11,7 milhões.

Por outro lado, Norte, vales do Jequitinhonha e do Mucuri, região do Rio Doce e Zona da Mata viram sua relevância agrícola diminuir no mesmo período. A produção de grãos na região do Rio Doce caiu 53,3% nesses dez anos, enquanto a queda nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri foi de 46,6%, e de 12,8% no Norte. A Zona da Mata perdeu 30% da produção de grãos em 2016 frente 2006.

“A questão climática é significativa principalmente no Norte do Estado, onde a seca tem afetado a produção. Outras regiões, como a Zona da Mata e região do Rio Doce, sofrem com uma topografia que dificulta a mecanização das lavouras. Hoje, a mecanização é necessária para manter os custos competitivos e é facilitada no Noroeste e no Alto Paranaíba”, diz o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez.

Segundo o coordenador técnico da Emater-MG em Janaúba, no Norte do Estado, André Mendes Caxito, além da seca, a agricultura local enfrenta longas estiagens e um aumento na temperatura média que também é prejudicial. “Hoje, a região investe em produtos que consigam superar até 31 dias sem nenhuma precipitação, como o milheto e a palma forrageira. Milho e feijão não aguentam; produção desses produtos aqui só em áreas irrigadas”, conta.

A alta da temperatura no Estado também é vista como um alerta para produtores de café, na avaliação da analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) Ana Carolina Gomes, mesmo com significativo crescimento da produção de café no Estado. Segundo a Fundação Procafé, a temperatura média na região cafeeira do Sul de Minas, em 2014 e 2015, ficou 2ºC acima da média histórica (22ºC). Já em 2016, as temperaturas médias da região se aproximaram da média histórica.

Emprego

Respiro. A agropecuária foi um dos poucos setores que não teve um saldo negativo de emprego na comparação entre os meses de dezembro de 2016 e 2015, criando 1.730 vagas nesse período, segundo o Caged.


Pecuária é alternativa onde agricultura vai mal

Se a produção de grãos na região do Rio Doce caiu 53,3% entre 2006 e 2016, a de leite cresceu 62% na região em 2015 frente 2005, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).

“Isso se explica justamente porque, nas regiões onde a agricultura está em declínio, os produtores passam a investir na criação de gado, em função das pastagens”, afirma o analista de agronegócio da Faemg Wallisson Fonseca.

A produção de leite no Estado cresceu 32,4% entre 2005 e 2015. A concentração da produção em 2015 também é menor no caso do leite, com destaque para Triângulo e Alto Paranaíba, com 26,3%, e Sul, com 15,9%. “A criação de gado está presente nos 853 municípios do Estado”, diz Fonseca, <CF30>(LP)


Em 2015

Sul respondeu por metade do café

A safra recorde de café em 2016 no Estado, de 30,7 milhões de sacas, foi produzida em sua maioria na região Sul e no Cerrado mineiro, que abrange o Alto Paranaíba e parte do Triângulo e do sudoeste de Minas. Em 2015, 70% da produção cafeeira, que foi de 22,4 milhões de sacas, já vinha dessas áreas, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Só o Sul foi responsável por metade dessa produção. Os dados regionalizados de 2016 ainda não foram divulgados.

A falta de chuvas afetou a produção do café em outras áreas do Estado, assim como ocorreu com a produção de grãos. “Na área que chamamos de Chapada de Minas, que fica na região dos vales do Mucuri e do Jequitinhonha, a seca afetou a produção de café. O próprio Sul de Minas sofreu com a estiagem em 2014 e 2015, se recuperando no ano passado”, explica a analista de agronegócios da Faemg Ana Carolina Gomes. Ela também aponta as geadas como um risco climático ao café. “Foram mais de 20 anos sem acontecer, mas tivemos geada em 2016.” (LP)


Resistência à seca

Norte deve investir em ração para gado

O Norte do Estado está abandonando a produção de grãos e investindo em produtos agrícolas, como o milheto e a palma forrageira, dirigidos para alimentação de gado e mais resistentes a longos períodos de estiagem.

“O milheto e a palma forrageira são mais resistentes que o sorgo, que é uma cultura mais difundida na região. Com mais de 30 dias sem chuva, o sorgo pode até resistir, mas a perda pode chegar a 50% do investimento”, afirma o coordenador técnico da Emater-MG em Janaúba, no Norte do Estado, André Mendes Caxito.

Para o analista de agronegócios da Faemg, Caio Coimbra, o investimento em produtos mais resistentes é uma adaptação à realidade. “Os produtores devem entender qual é a realidade da região, que hoje se aproxima muito mais ao semiárido do Nordeste, e investir em novas culturas”, afirma Coimbra, que também defende o investimento na palha forrageira. O milheto e a palha forrageira já são comuns no Nordeste do país. São origináros da África e do México, respectivamente. (LP) 

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