Dicas de investimento

Com cautela, baixa da Bolsa é oportunidade para quem quer aplicar seu dinheiro

Especialistas dizem que ações em baixa podem ser boa aposta para quem pode esperar para rendimentos melhores no futuro

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 13 de março de 2020 | 12:30
 
 
Com ações em baixa na Bolsa, investidores recomendam cautela Foto: Adriana Toffetti/A7 Press/Folhapress

Em um momento marcado pela instabilidade, com as bolsas do mundo inteiro despencando sob o efeito do coronavírus na economia do planeta, vale a pena o pequeno e médio investidores colocarem dinheiro em ações? Conforme explica o economista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Sayar Ferreira, o momento exige cautela, mas é uma oportunidade para quem souber navegar pelo mercado.

“O momento de baixa da bolsa é o melhor para investir. Mas lembrando que quem tem esse tipo de investimento em mente tem que ter paciência, porque nem sempre o retorno acontece rapidamente. Há situações em que as ações de empresas demoram muito a retornar a valores elevados”.

O mentor financeiro Weldes Campos concorda: “É um bom momento para investir, mas não se deve colocar todo o seu caixa agora em renda variável, justamente porque as notícias ainda estão acontecendo”, diz.

A lógica é que, em momentos de baixa, o investidor pode acabar colhendo lucros de uma recuperação das ações no futuro. Ainda assim, Campos indica que ninguém coloque mais de 40% dos investimentos na renda variável neste momento.

“Para quem não conhece nada, uma das melhores oportunidades que visamos em momentos de crise na bolsa é investir em empresas nas áreas de finanças, bancos, alimentação, saúde e energia, focando nas melhores empresas da área, porque são as que sofrem menos na crise”, sugere.

Quais os melhores setores para investir em ações

“Alimentação e saúde são setores que sofrem menos. E os de saúde, dependendo da empresa, até ganham. Empresas de medicamentos estão lucrando pelo mundo, inclusive, porque há perspectiva do aumento de demanda”, pontua Sayar.

Já as petrolíferas e outras empresas de combustíveis são um investimento delicado, afirma Campos. Elas sofrem, especialmente, com o aumento da produção da Arábia Saudita, a maior exportadora mundial de petróleo, o que pressiona a diminuição dos preços do produto.

Em outra frente, permanece a instabilidade provocada pelo coronavírus — que se tornou, oficialmente, uma pandemia nessa quarta-feira. Uma das consequências que podem abalar o mercado — com destaque para as companhias aéreas — foi a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de interromper os voos vindos da Europa e rumo ao continente europeu pelos próximos 30 dias. Tendo em vista o pequeno investidor, que, muitas vezes, não tem a expertise de avaliar a situação de empresa por empresa para decidir os melhores investimentos, Sayar recomenda o investimentos em fundos de ações. “Eles fazem uma composição de várias ações. Então, se uma empresa for mal, não quer dizer que todo o fundo vai mal.

Outra alternativa é investir em empresas grandes que a gente imagina que não vão quebrar”. A agente de turismo Nathália Segato, 27, aproveitou o momento de queda do Ibovespa e decidiu investir em renda variável pela primeira vez na última segunda-feira. “Comprei da Petrobrás, porque vi que houve uma queda gigantesca de um mês para cá, então tive esperança de que o valor poderia voltar ao normal no médio prazo. Na terça, comprei ações da Azul, já que ninguém está viajando, por causa do coronavírus, e elas estavam mais baixas também”.

Ela fez a negociação no aplicativo do banco, investindo cerca de R$ 400 na Petrobrás e R$ 800 na Azul. Desta vez, contrariando a indicação de analistas como Weldes Campos, ela incluiu todo o valor que colocaria na poupança neste mês, e já viu redução do dinheiro investido. “Estou tentando não ficar muito ansiosa com isso, porque acho que vai abaixar ainda mais”, reflete.

Agora, está com atenção redobrada às notícias, e verifica o aplicativo do banco pelo menos três vezes por dia.

Surpresas são inerentes ao investimento

“Quem entrou no mercado de ações ontem achou que o fundo do poço tinha chegado, mas ele veio foi hoje e pode ser que ainda tenha porão e o problema mesmo venha daqui a pouco. Então, a pessoa precisa ter cautela e não cair nesse canto da sereia de que vai ganhar muito dinheiro agora”, aconselha Eduardo Coutinho, coordenador do curso de administração do Ibmec.

Ele ressalta que pessoas com perspectiva de ganhos rápidos podem se decepcionar ao investir em ações. “Na crise do petróleo, acaba-se chegando a um tipo de acordo, mas não sabemos para onde vai a questão do coronavírus e a dimensão que esse problema vai tomar”.

O professor Mauro Sayar reforça que quem precisa investir para realizar um projeto no final do ano, por exemplo, pode passar por maus bocados apostando nas ações, já que ainda é cedo para saber qual vai a situação no futuro. “Quem entra no mercado de renda variável tem que saber que sempre podem surgir surpresas como essas, globais, e também setoriais. Pense quando estouraram os casos de corrupção, o valor das empresas de construção despencou”.