Brumadinho

Conselho decide afastar presidente da Vale

Fabio Schvartsman apresenta carta sobre afastamento e empresa divulga

Sáb, 02/03/19 - 18h42
Schvartsman disse que cirurgia no olho o impedirá de participar da CPI no Senado | Foto: Vale/Divulgação

O Conselho de Administração da Vale decidiu afastar neste sábado, 2,  o diretor-presidente da empresa, Fabio Schvartsman.

Nessa sexta-feira, 1º, um documento assinado por integrantes do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e da Polícia Federal (PF) pedia ao conselho o “imediato afastamento” de Schvartsman, além de outros quatro diretores da empresa.

A decisão ocorre pouco mais de um mês após o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana, que deixou 186 mortos e 122 desaparecidos.

De acordo com o colunista Lauro Jardim de "O Globo", três diretores da Vale entregaram, na tarde deste sábado, seus pedidos de demissão ao Conselho de Administração da mineradora.

São eles, Peter Poppinga, diretor-executivo de Ferrosos e Carvão; Lucio Cavalli, diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão; e Silmar Silva, diretor de operações do Corredor Sudeste.

Com a saída do grupo, a Vale deve ser conduzida, interinamente, pelos diretores remanescentes, sob o comando interino do diretor-executivo de Metais Básicos, Eduardo Bartolomeo.  

A mudança definitiva só deve ocorrer em abril, após a Assembleia Geral Ordinária (AGO) de acionistas, quando também são esperadas mudanças no Conselho de Administração, com a redução do peso da Previ, que hoje ocupa quatro assentos no conselho e o aumento da presença de conselheiros mais ligados ao setor de mineração.

Por conta do Carnaval, os mercado brasileiros estarão fechados até quarta-feira de manhã, mas o mercado americano, onde são negociadas mais de 70% das ações da Vale na forma de ADRs (American Depositary Receipts) reabre na segunda-feira, o que obriga a empresa a se posicionar amanhã.

Na última semana, com a perda do grau de investimento pela agência Moody's, a situação da mineradora também começou a causar apreensão entre investidores brasileiros. Desde o acidente, analistas de casas estrangeiras observavam o descolamento das expectativas de investidores domésticos, que pareciam mais otimistas. Um segundo rebaixamento, que pode vir da S&P, pode obrigar muitos fundos estrangeiros a se desfazerem de suas posições em ações da empresa, pressionando negativamente o papel, que já perdeu cerca 25% de seu valor desde 25 de janeiro, quando aconteceu a tragédia. (Com Estadão Conteúdo)

Leia o comunicado da Vale:

A Vale informa que, ao final de sexta-feira, 01.03.19, seu Conselho de Administração recebeu do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, da Polícia Federal e da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais a Recomendação nº 11/2019 com considerações e recomendações sobre afastamento de alguns executivos e colaboradores nos diversos níveis organizacionais da companhia. 
 
O Conselho manteve reuniões durante a noite de sexta-feira 01.03.19 e a manhã desábado, 02.03.19, incluindo interações com executivos da companhia. Durante as suas discussões, o Conselho recebeu, dos próprios executivos Fabio Schvartsman (Diretor-Presidente), Gerd Peter Poppinga (Diretor-Executivo de Ferrosos e Carvão), Lucio Flavio Gallon Cavalli (Diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão) e Silmar Magalhães Silva (Diretor de Operações do Corredor Sudeste), os pedidos de afastamento temporário de suas funções, que foram imediatamente aceitos. 
 
O Conselho de Administração acionou então o plano de interinidade previamente discutido: nomear Eduardo de Salles Bartolomeo (atual Diretor-Executivo de Metais Básicos) como Diretor-Presidente interino da Vale a partir desta data. Claudio de Oliveira Alves (atual Diretor de Pelotização e Manganês) ocupará interinamente a função de Diretor-Executivo de Ferrosos e Carvão e Mark Travers (atual Diretor Jurídico, de Relações Institucionais e Sustentabilidade de Metais Básicos) ocupará interinamente a função de Diretor-Executivo de Metais Básicos.
 
A Vale informa também que seu Conselho de Administração permanece em prontidão, na busca de um relacionamento transparente e produtivo com as autoridades brasileiras visando o esclarecimento dos fatos, a reparação apropriada dos danos e a integridade da empresa e que manterá a sociedade e os mercados informados sobre qualquer fato novo.

Leia a carta na íntegra de Fábio:

"Tenho em mãos a Recomendação nº 11/2019, dirigida a esse Conselho pelo Ministério Público Federal em conjunto com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais e em atuação coordenada com a Polícia Federal e a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, da qual consta recomendação do imediato afastamento de certos diretores e empregados da Vale, incluindo o meu próprio".

"Como é do pleno conhecimento desse Conselho, desde os dramáticos eventos de 25 de janeiro, venho dedicando todos os minutos de meus dias e noites, no limite máximo de minhas forças, às frentes de reação da companhia àqueles eventos, determinadas por esse Conselho e por mim mesmo, em conjunto com os demais membros da Diretoria, com absoluta priorização do atendimento às vítimas e às suas famílias, à apuração direta e à cooperação com a apuração dos fatos e à preservação das atividades da Vale, cruciais para o Estado de Minas Gerais e para o Brasil".

"Como esse Conselho de Administração também não desconhece, foram desde logo adotadas pela Diretoria, sob meu comando, todas as medidas necessárias à preservação da integridade da informação disponível, para que a apuração independente dos fatos, pelas autoridades e pelo Comitê imediatamente criado por esse Conselho por proposta da Diretoria, possa ser realizada com a maior brevidade e profundidade".

"Desde o momento em que ocorreu a tragédia que se abateu sobre as vítimas, suas famílias e sobre esta companhia estratégica para os interesses do país, fiz questão de atender pessoalmente a todas as demandas, da imprensa e das autoridades, sem intermediação de quem quer que fosse, de maneira a transmitir diretamente às vítimas, a suas famílias, à opinião pública, aos acionistas e a todos interlocutores da Vale, o nosso compromisso com a atuação mais adequada e de alto nível possível da companhia, no momento mais grave de sua história".

"Estou absolutamente convicto de que minha atuação pessoal e a dos demais membros de nossa Diretoria, cujo afastamento é agora solicitado, foi absolutamente adequada, correta e, principalmente, fiel aos nossos valores inegociáveis de proteção à segurança das operações da companhia, e às diretrizes nesse sentido emanadas desse Conselho. Assim como estou absolutamente convicto de que a continuidade de nossa atuação continuaria a ser a maneira mais eficaz de a Vale obter e promover os melhores resultados em sua reação à tragédia. Entretanto, há momentos em nossas vidas em que é preciso sacrificar as convicções pessoais em benefício de um bem maior. E este é um desses momentos, pois minha presença no comando da Vale passou a ser percebida como inconveniente por autoridades que seguirão interagindo diuturnamente com a companhia".

"É muito difícil para mim, após décadas de atuação como executivo de algumas das maiores empresas do Brasil, e tendo colhido o reconhecimento de minha dedicação e apoio aos milhares de colegas, colaboradores, acionistas e demais constituintes com quem ombreei ao longo de todos aqueles anos na tarefa de gerar empregos, riqueza, tributos e governança de primeiro nível, retirar-me da linha de frente, ainda que temporariamente, quando o desafio mais agudo se apresenta. Mas essa frustação daquilo que percebo como meu dever de dedicação integral às vítimas, a suas famílias, a todos os colaboradores da Vale e ao país, é irrelevante quando comparada à dor que se espalha entre milhares de pessoas neste momento e deve ceder diante do valor maior de preservação dos interesses da nação que a Vale representa".

"Por tudo isso, ainda que com a absoluta convicção da retidão de minha conduta e do dever cumprido até aqui, e certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale".

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