Festas

Consumidor percebe que o Natal deste ano está mais caro

Metade das pessoas acredita que preços estão maiores do que em 2018; dólar pressiona produtos mais procurados, como brinquedos e itens para a ceia

Por Rafaela Mansur
Publicado em 16 de dezembro de 2019 | 03:24
 
 
Especialistas dizem que empresários aproveitam a onda consumista do fim de ano para ampliarem suas margens de lucro Foto: FLÁVIO TAVARES/O TEMPO

Os presentes de Natal estão mais caros neste ano. Pelo menos essa é a impressão da maioria dos consumidores brasileiros: 53% acreditam que os valores praticados no varejo estão maiores do que em 2018</CW>, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). De acordo com especialistas, a alta do dólar e a sazonalidade podem provocar reajustes não só nos mimos, mas, principalmente, na ceia de Natal – nesse caso, puxados também pela disparada do preço da carne.

A dona de casa Ana Aparecida Melgaço, 56, tem dois netos e mais de dez sobrinhos e teve dificuldade em fazer os presentes de todos caberem no orçamento. “Fui ao shopping e fiquei assustada. Demorei muito mais do que esperava porque não achava nada barato, principalmente nas lojas de brinquedos. No ano passado, eu consegui comprar tudo em uma loja só. Neste ano, precisei pesquisar em várias para achar coisas mais em conta”.

O coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, disse que é provável que os comerciantes tenham abastecido os estoques para as vendas de Natal antes dos recentes aumentos do dólar – a moeda bateu recorde na última semana de novembro, fechando em R$ 4,25.

Ainda assim, os varejistas podem repassar o reajuste para o consumidor. “Para repor o estoque, eles terão que comprar por um preço diferenciado. Por isso, produtos importados ou que tenham componentes importados podem ter um pequeno reajuste, inclusive os da ceia de Natal”, disse. Azeites, frutas secas, castanhas e vinhos são alguns dos itens mais comprados externamente.

Pelo fato de também ser uma data com grande apelo emotivo, quando a maioria dos brasileiros faz questão de presentear, os empresários podem aproveitar o Natal para recuperar a margem de lucro. “Os comerciantes podem buscar reajustar os preços de acordo com os custos que tiveram, mas, no geral, os preços ficarão mais ou menos estáveis, porque a economia está apenas começando a se recuperar”, afirma Teixeira, ressaltando que a inflação também está baixa. No acumulado do ano até novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 3,12%.

Segundo o diretor geral do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar), Nuno Fouto, produtos mais baratos, buscados por quem quer presentear muita gente, costumam ter um aumento acentuado. “No Natal, o pessoal procura puxar um pouco mais nesses produtos baratos. E, com o valor mais baixo, é fácil o reajuste ser tão percebido”, explica.

Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a percepção sobre os aumentos tem mais relação com o aperto financeiro dos brasileiros: “Se eu não controlo meu orçamento e gasto à medida que o dinheiro chega, no final do ano, que tem um monte de gastos adicionais, eu não dou conta, não porque está tudo mais caro, mas porque, em relação ao mês anterior, eu tive de gastar mais. Tem um pouco de elevação, sim, mas não é algo tão nítido. O principal é a falta de planejamento”.

 

Maioria diz que vai pesquisar 

Quando falta dinheiro e tudo fica mais caro, a melhor estratégia para o orçamento render e garantir os presentes e a ceia de Natal é pesquisar os preços. De acordo com dados da CNDL e do SPC Brasil, 86% dos consumidores pretendem levantar os valores antes de comprar neste final de ano. A maioria dos entrevistados (80%) vai utilizar sites e aplicativos. Outra dica é planejar as despesas antes de sair de casa, listando quem será presenteado e estipulando valor máximo de gastos.

“Não adianta estar na loja impulsionado a consumir. É preciso fazer as contas em casa, com calma, pensando no orçamento”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. “Outra questão importante é pensar não só no hoje, mas no futuro. Temos sensação de bolso cheio por causa do 13º, mas início de ano tem impostos e material escolar. Tem que planejar levando em conta o começo de 2020”, conclui.


Cortes de carne subiram até 64% 

O preço médio do quilo do pernil com osso subiu 64% em comparação com o ano passado, de R$ 9,44 para R$ 15,49. O quilo do lombo suíno ficou 30% mais caro, de R$ 15,82 para R$ 20,66, e o de ameixa seca com caroço, 18,88%. Os valores, colhidos em estabelecimentos de Belo Horizonte, no fim de novembro, pelo site Mercado Mineiro, comprovam a expectativa de ceia de Natal mais cara.

“O dólar influencia bastante os produtos importados, e a carne nacional, que seria a solução nos outros anos, está mais cara por causa do aumento das compras no mercado externo”, explica o coordenador do site, Feliciano Abreu.

Ele diz que, todos os anos, o site repete a pesquisa na véspera do Natal, quando os preços costumam estar mais baixos. No entanto, desta vez, a previsão é de alta. “Os estabelecimentos estão segurando a alta para não perderem venda, mas, quando se torna inviável, o reajuste é repassado para o consumidor”, pontua Abreu.


Saiba mais


Pesquisa.  Enquanto 53% dos consumidores acreditam que os preços estão mais altos neste Natal, para 33% dos brasileiros, os valores estão na mesma faixa do que no ano passado, e 5% veem valores mais baixos.  O tíquete médio neste ano será de R$ 124,99 no país, segundo pesquisa da CNDL com o SPC Brasil. A maioria dos entrevistados planeja gastar mais no Natal deste ano do que em 2018.

Entenda. A alta do dólar ante o real tem uma série de razões, como a taxa baixa de juros no Brasil, a turbulência no ambiente político na América Latina e as tensões comerciais entre China e Estados Unidos. Já o encarecimento da carne se deve à crise na suinocultura chinesa, que aumentou as compras externas do país.