Reflexo da pandemia

Contratação de temporários para o Natal será 40% menor no comércio de BH em 2020

Estimativa do Sindilojas-BH é de que 3.000 vagas sejam ofertadas, ante 5.000 no ano passado; na indústria, contratações devem crescer

Por Rafaela Mansur
Publicado em 24 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
Último dia gera movimento com poucas compras Foto: Mariela Guimarães/O Tempo

A contratação de temporários nos setores de comércio e serviços para o Natal será menor em 2020 em Minas Gerais, inclusive em Belo Horizonte. Os reflexos da pandemia do coronavírus no aumento do desemprego, no fechamento temporário de lojas e na redução da renda das famílias diminuíram o otimismo dos empresários em relação à melhor data do ano para o varejo.

A estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é que 8,33 mil vagas sejam geradas no Estado, uma redução de 20% em relação às 10 mil projetadas no ano passado. Na capital, a expectativa do Sindicato de Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas-BH) é de que haja 3.000 oportunidades.

Segundo projeção da Fecomércio MG, apenas 11,4% dos empresários mineiros pretendem contratar funcionários temporários neste ano. Em 2019, esse índice era de 16,4%. "Isso é reflexo dos impactos da pandemia. Os empresários não estão vendo grandes oportunidades de aumento de vendas, como sempre ocorre no final do ano. Está todo mundo mais cauteloso", afirma a economista da entidade, Bárbara Guimarães.

Os dados da Fecomércio MG indicam que os principais segmentos que devem ofertar vagas temporárias neste ano são de tecido, vestuário e calçados (24,5%), materiais de construção (18,2%) e livros, jornais, revistas e papelaria.

Já em Belo Horizonte, a intenção de contratação de temporários por parte dos empresários caiu 34,3% neste ano, em comparação com 2019, de acordo com levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH). Apenas 18% planejam oferecer vagas temporárias para o Natal.

Segundo a coordenadora do setor de economia e pesquisa da entidade, Ana Paula Bastos, a maioria dos lojistas que não vai contratar alega que o quadro atual de funcionários já atende à demanda. "O terceiro trimestre vai ser mais aquecido, tem entrada extra de capital na economia, com 13º salário e recursos do FGTS, e Black Friday, mas ninguém está esperando que seja um Natal de desempenho alto a ponto de recuperar as perdas deste ano", diz.

A maior parte das empresas que vão oferecer oportunidades temporárias estão nas regiões Centro-Sul (31,4%) e Barreiro (29,6%). Para 50% das vagas, a possibilidade de efetivação dos funcionários é alta ou muito alta. "É uma ótima oportunidade para quem está fora do mercado de trabalho se realocar novamente. A pessoa tem que apresentar proatividade, estar disposta a trabalhar aos fins de semana e em horários expandidos", pontua Ana Paula.

A projeção do Sindilojas-BH também é de queda na contratação de temporários. Segundo o presidente do sindicato, Nadim Donato, no ano passado foram 5.000 vagas, número 40% maior do que as 3.000 previstas para 2020.

"Muitos dos lojistas reduziram o quadro de funcionários na pandemia, então talvez alguns prefiram efetivar novamente os funcionários que foram dispensados. E também não tem tanta demanda. Todo o comércio da cidade, seja de rua ou shopping, ainda está desaquecido, as vendas estão cerca de 70% a 75% do valor normal mensal", afirma Donato. Para 2021, ele diz que a expectativa é de melhora nos indicadores, principalmente no segundo semestre.

Na Leitura do Shopping Del Rey, o número de trabalhadores temporários a serem contratados ainda não foi definido, mas a ideia é que corresponda a, no mínimo, 30% do atual quadro da loja, de 35 funcionários. Segundo a gerente, Marcela Abreu, a expectativa de vendas para o Natal é positiva, mas incerta, por causa do fechamento das escolas. "Muitas pessoas aproveitam a data para presentear com uma mochila ou material escolar. Não sabemos como vai ser, mas estamos nos preparando, com estoque alto", conta Marcela. Segundo ela, há possibilidade de efetivação dos temporários.

Candidatos terão processo seletivo online e gratuito

Os interessados em conquistar uma vaga temporária neste final de ano poderão realizar todo o processo seletivo online, por meio de uma iniciativa desenvolvida pelo Sindilojas-BH em parceria com a Taqe, plataforma de recrutamento e seleção. Os candidatos podem inscrever seus currículos e perfis profissionais na rede e selecionar os cargos que desejam, enquanto as empresas podem acessar o banco de dados dos inscritos.

Na plataforma, os candidatos ainda terão aulas rápidas sobre atendimento ao cliente, comunicação e organização e produtividade. "A ideia é que esse funcionário temporário tenha mais qualificação para poder, de repente, tornar-se um funcionário efetivo", afirma o presidente do Sindilojas-BH, Nadim Donato.

Empresas e candidatos interessados podem se cadastrar gratuitamente no site www.taqe.com.br/vagas-bh. O processo de avaliação dos currículos e as contratações começam a partir do dia 1º de novembro.

Na indústria, contratações temporárias crescem

Enquanto nos setores de comércio e serviços a expectativa é de queda na contratação de temporários, na indústria, a previsão é de aumento de oportunidades. De acordo a Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), o número de vagas temporárias deve crescer 12% no segundo semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2019 no Brasil, de 800 mil para 900 mil, puxado justamente pelas indústrias.

Segundo o diretor regional da associação, Glaucus Botinha, o cenário se repete em Minas Gerais, onde três segmentos principais devem ter destaque na oferta de trabalho temporário: a mineração, o automobilismo e o agronegócio.

"Normalmente, no último trimestre do ano, os destaques sempre são mais voltados para o comércio, mas, neste ano, estamos vivendo uma situação atípica. No início da pandemia, as indústrias em geral tiveram que reduzir muito seus quadros de funcionários, a reação imediata foi a demissão em massa. Agora que a economia tem se recuperado de maneira mais consistente, as empresas ainda estão com um contingente pequeno", afirma.

De acordo com Botinha, o trabalho temporário se encaixa bem nesse contexto, em que os quadros de funcionários estão baixos e ainda há incertezas quanto à evolução da pandemia. "O empresário está vivendo um dia após o outro. É preferível contratar um temporário do que efetivar agora e, lá na frente, aproveitar os melhores talentos", conclui.

Saiba mais

No Brasil. A oferta de vagas temporárias para o Natal deve ser a menor desde 2015 no Brasil, de acordo com a CNC. A entidade prevê a contratação de 70,7 mil trabalhadores neste fim de ano, número 19,7% menor do que o registrado em 2019, quando foram 88 mil. O Natal deve movimentar R$ 37,5 bilhões em 2020, 2,2% a mais do que no ano passado.

Salário. Segundo cálculos da CNC, o salário médio de admissão para as vagas temporárias no Natal deverá ser de R$ 1.319, valor 4,6% maior em comparação com o mesmo período do ano passado.