Vida mais cara

Crise deixa renda defasada

Preço da cesta básica subiu 125% em dez anos e, hoje, custa 41,9% do salário mínimo

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 19 de março de 2017 | 03:00
 
 
Contas altas. João Batista Guimarães diz que aumento de impostos também eleva os preços Foto: Mariela Guimarães

O valor da cesta básica em Belo Horizonte subiu, nos últimos dez anos, 125%, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead). Em fevereiro de 2007, a cesta básica custava R$ 173,93. Em fevereiro deste ano, a cesta, com os mesmos 13 produtos pesquisados pelo instituto, estava em R$ 392,62. Na criação do real, em julho de 1994, a cesta custava R$ 54,64, um aumento de mais de 618%.

No mesmo período, porém, o salário mínimo no país também avançou. Em 1994, ele valia R$ 64,79, ou seja, a cesta básica equivalia a 84,33% do salário mínimo. Hoje a situação é diferente. Com o salário mínimo de R$ 937, o valor da cesta básica equivale a 41,9% desse montante. No período entre 1994 e 2017, o salário mínimo valorizou mais de 14 vezes.

“Para uma parte da população, isso foi uma conquista, mas com a crise ela está se perdendo. Além disso, a minha renda familiar não teve um aumento tão significativo”, afirma a dona de casa Priscila Gomes Zanco, 54.

“A gente teve uma fase boa, de preços mais estáveis no supermercado, uns cinco anos atrás. Talvez por isso, hoje, a gente sinta mais a desvalorização do dinheiro. Hoje, eu vou ao supermercado e assusto como tudo está subindo. Lembra as crises passadas”, opina a cabeleireira aposentada Raimunda Fernandes Amorim, 79.

Outras despesas. A desvalorização do real não atinge apenas a cesta básica. O lazer também foi afetado. “Hoje a gente troca a ida ao cinema ou ao shopping por outros programas, como levar as crianças para uma praça e andar de patins”, conta Priscila. Um levantamento feito pelo site Filme B mostra que há dez anos, em 2007, a média de preço de ingresso para o cinema no Brasil era R$ 8,82. Hoje, é difícil pagar menos de R$ 18 para assistir a um filme na capital mineira.

Uma latinha de cerveja de 350 ml que hoje custa em torno de R$ 2,50, era comprada por menos de R$ 0,50 nos supermercados em 2002. “A garrafa de cerveja, que custava R$ 3 a pouco tempo atrás, hoje não sai por menos de R$ 12 quando tomamos no bar”, recorda o engenheiro João Batista Guimarães, 72. “No caso da cerveja, o imposto subiu nos últimos anos e impactou os preços. Quando o governo precisa de dinheiro, os primeiros itens a ter os impostos elevados são bebidas e cigarro”, afirma João Batista.

“São vários custos que interferem no preço final para o consumidor, como transporte e tributos”, aponta Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf.

Pesquisa. Para o pesquisador do Instituto Assaf Fabiano Lima, o consumidor deve pesquisar para diminuir os efeitos da inflação. “Compras compartilhadas, em atacadistas, são uma boa opção também”, diz Lima.

Tributos

“Quando o governo aumenta os impostos, está matando a galinha dos ovos de ouro, porque não sobra dinheiro para consumo”.
João Batista Guimarães
engenheiro

Veja infografia aqui.


IPCA 2017

Inflação na meta não alivia

A estimativa do mercado financeiro é que em 2017 o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 4,19%, segundo o boletim Focus, do Banco Central (BC). Com isso, a inflação deve voltar para o centro da meta do BC, que é de 4,5%.

Para o consumidor, porém, a sensação da inflação ainda demora a passar. “Mesmo com o índice da inflação caindo, o que vejo são os preços subindo 10%, 20%, de uma semana para outra”, afirma a cabeleireira aposentada Raimunda Fernandes Amorim.

“No caso das verduras, os comerciantes alegam que o aumento é por causa de entressafra, mas eu não acho que justifique, porque, quando chega a época daquele alimento, o preço não cai”, afirma a dona de casa Priscila Zanco.

“Essa sensação de inflação ocorre porque o consumidor está na ponta do caminho feito pela mercadoria. Além da inflação, os tributos, transporte e taxas interferem no preço final”, avalia Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf.