Mercado editorial

Crise econômica estimulou busca por conteúdo sobre educação financeira

Brasileiro começou a buscar mais por termos como “bolsa de valores” e “tesouro direto”

Dom, 19/01/20 - 03h00
Livro de Thiago Nigro já vendeu mais de 500 mil exemplares e rendeu cerca de R$ 1 milhão | Foto: Paulo Santos / Divulgação

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A alta demanda por conteúdo relacionado à educação financeira e sobre como poupar ou investir melhor é um reflexo da crise econômica que atingiu o país nos últimos anos e, até novembro do ano passado, ainda deixava de saldo quase 12 milhões de desempregados.

Na lista dos dez livros mais vendidos em 2019, compilada pela consultoria Nielsen, além dos títulos de Thiago Nigro, Caio Carneiro e Nathalia Arcuri, há ainda um quarto título, “Os Segredos da Mente Milionária”, do canadense T. Harv Eker, na oitava colocação.

“Nessa conjuntura, não é à toa que as pessoas estejam buscando ler livros de empreendedorismo, sobre criar o negócio, que queiram administrar melhor o dinheiro, porque o dinheiro se tornou escasso”, analisa o consultor editorial Eduardo Villela, que atua, desde 2004, com produção e publicação de livros.

A youtuber e autora Nathalia Arcuri, que ensina nas redes e em cursos as pessoas a gerirem as próprias finanças, diz que a busca por termos relacionados ao universo da economia ficou mais evidente nos últimos anos.

Segundo Nathalia, a tendência é observada não só nos números de livros vendidos, mas também em análises e métricas do Google e do YouTube. “Termos como ‘educação financeira’, ‘investimento’, ‘bolsa de valores’ e ‘tesouro direto’, por exemplo, passaram a ser muito mais buscados nos últimos anos. Isso tem um lado positivo, porque a gente consegue chegar a essas pessoas que procuram esse conteúdo por uma dor latente delas”, destaca a paulista.

Eduardo Villela acrescenta que, no caso dos influenciadores digitais, o contato mais próximo com os seguidores – e leitores – auxilia na hora de desenvolver um conteúdo mais afinado com as dúvidas por quem se interessa por esse tema.

“Uma estratégia inteligente é que os influenciadores que estão na lista dos mais vendidos têm uma interação muito grande com os leitores no YouTube e no Instagram. Mesmo nos e-mails, eles prestam atenção ao que as pessoas estão perguntando, quais as dúvidas. Essas são informações qualitativas”, ressalta o consultor.

Para Thiago Nigro, de O Primo Rico, o mercado editorial não pode ser considerado um fim em si mesmo, mas continuidade de um trabalho envolvendo outras plataformas, com o autor alimentando o interesse do público.

“Antigamente, se o livro era bom, ele se vendia sozinho. Hoje, é diferente. É preciso trabalhar uma certa imagem. O mercado editorial pode evoluir para um mercado de eventos, o que geraria uma transformação absurda em termos de receitas”, opina Nigro.

Estudante ensina quem ganha pouco a conseguir poupar

A universitária Nathalia Rodrigues, 21, inspirou-se na própria experiência para se lançar como youtuber. Moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ela aprendeu na marra a se educar financeiramente – o que acabou virando material para o canal “Nath Finanças”, que em um ano já ultrapassou 50 mil inscritos. 

“A primeira coisa que eu fiz com o meu primeiro salário foi comprar um potão de sorvete e um hambúrguer. Era normal eu chegar no fim do mês e entrar no cheque especial. Na faculdade, comecei a entender o impacto que é quando você consegue guardar R$ 1.000 em um ano. Acabei precisando desse dinheiro para uma emergência e entendi que precisava guardar”, conta Nathalia, que é estudante de administração.

Mas, para além da própria experiência, Nathalia também viu um público potencial na população que, como ela, suava para não entrar no cheque especial no fim do mês. “Eu estava vendo no YouTube pessoas que não ganham um salário mínimo assistindo pessoas falando sobre guardar R$ 1.000 por mês, e elas diziam ‘não tem como. Isso não faz parte da minha realidade’”, lembra a fluminense.

No canal, ela ensina conceitos básicos de economia para a população que ganha até R$ 1.500 por mês. Os vídeos versam sobre as vantagens do Saque-Aniversário do FGTS, sobre como sair do vermelho e até como começar a investir no Tesouro Direto. 

As dicas da Nath Finanças têm viralizado nas redes sociais e começam, segundo ela, a gerar os primeiros frutos financeiros. “Agora que eu estou monetizando, lucrando um pouquinho. Também fecho algumas parcerias com empresas, mas só as que têm a ver com a minha comunidade, como uma divulgação que fiz para o Feirão Limpa Nome, porque tem a ver com o que eu estou falando”, justifica.

O mercado editorial está nos planos. Nathalia está na fase de redação do TCC sobre educação financeira, e ela já planeja transformá-lo em livro. “Quero utilizar dados de pesquisa para falar sobre o assunto”.

 

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