Trampos

Da favela para o trabalho pela via do empreendedorismo

Projeto do Estado capacita pessoas de regiões pobres com cursos em áreas que elas escolheram

Por Queila Ariadne
Publicado em 31 de julho de 2017 | 03:00
 
 
As primas Thaís e Marcela Campelo, do Morro do Papagaio, se formaram em organização de eventos e vão lançar um site Foto: Mariela Guimarães

Thaís Campelo, 24, e a prima Marcela Mendes Campelo, 23, moram na vila Santa Rita de Cássia, no Morro do Papagaio. Ludymila Soares, 24, vive no aglomerado da Serra. Luiz Antônio Pereira, 21, no Alto Vera Cruz. Além de residirem em favelas de Belo Horizonte, eles têm mais três coisas em comum: nunca se envolveram com drogas nem com violência, mas conhecem de perto seus efeitos; integram a dura estatística de jovens sem carteira assinada, que atinge 28,8% dos brasileiros até 24 anos; e acabaram de se formar no projeto Trampos, criado pelo governo estadual para preparar jovens da periferia para encontrar um caminho profissional.

Até o fim deste ano, 1.220 alunos, nas mesmas condições, se formarão em seis cursos oferecidos gratuitamente. A assessora de programas especiais da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), Aidê Cançado, explica que o Trampos faz parte do programa Juventudes, criado em meados do ano passado. Para participar, o interessado tem que ter entre 15 e 29 anos e morar em uma área exposta à vulnerabilidade e à violência.

“O objetivo é afastá-los da criminalidade e promover a inclusão produtiva desses jovens, incentivando o lado empreendedor de cada um. O diferencial é que buscamos, através de pesquisas com eles mesmos, setores nos quais eles realmente têm interesse em desenvolver os projetos. E montamos cursos a partir desse desejo”, explica.

Desse diagnóstico de interesses surgiu o curso de assistente de organização de eventos. Foi o que chamou a atenção das primas Thaís e Marcela Campelo, moradoras do Morro do Papagaio. Desempregadas e vivendo de alguns bicos, elas ficaram sabendo do Trampos por meio de um tio, que viu a divulgação e avisou às sobrinhas. Formaram-se na primeira turma, há duas semanas, e já têm um plano. “Já fazíamos informalmente, organizando festas para conhecidos. Agora aprendemos partes mais técnicas, desde o planejamento até o pós-evento. Queremos nos profissionalizar e montar um site para divulgar nossos serviços”, conta Thaís.

“Muitos jovens querem empreender e isso aconteceu durante o curso. Em outro momento, pensamos em oferecer cursos mais específicos sobre empreendedorismo, para ajudar nesses projetos”, destaca Aidê.

Marcela também está empolgada com a oportunidade. Ela nunca se envolveu com drogas, mas sabe como projetos como o Trampos ajudam a manter os jovens afastados da violência. “A pessoa sai, fica quatro horas por dia no curso, conhece mais gente e vê que existem outras coisas que pode experimentar. Vê que existem outras oportunidades lá fora, e basta correr atrás para conquistar”, ressalta.

Desemprego

13% é a taxa média no Brasil, no segundo trimestre de 2017

28,8% é a taxa entre os jovens de 14 a 24 anos

FOTO: arquivo pessoal
Luiz Antônio quer criar um evento para conectar jovens pela arte


Como funciona o projeto

Critérios: jovens entre 15 e 29 anos, que vivem em área exposta à violência e à vulnerabilidade.

Cursos: analista de mídias sociais; editor de projeto visual gráfico; produção cultural; organização de eventos; desenvolvedor de aplicativos para dispositivos móveis; confeitaria.

Regiões atendidas: Morro do Papagaio, Alto Vera Cruz, Barragem Santa Lúcia, aglomerado da Serra e Morro das Pedras.

Expansão: a meta é levar o projeto para mais dez cidades até o ano que vem, entre elas: Ribeirão das Neves, Contagem, Betim e Passos.

Como participar: inscrições para as novas turmas (fevereiro de 2018) serão abertas até dezembro. Acompanhe pelo site www.social.mg.gov.br

Projeto multiplica ganhos sociais

Luiz Antônio Dias Pereira, 21, é DJ. Morador do Alto Vera Cruz, ele acaba de se formar na turma de produção cultural do projeto Trampos e já emendou um segundo curso, de analista de mídias sociais. Vai usar tudo no aperfeiçoamento da profissão. “Graças aos meus pais e ao meu contato com a cultura, por meio dos meus irmãos, nunca estive envolvido com drogas ou violência, mas sei os danos que podem causar aos jovens. Agora, quero desenvolver um projeto para integrar os jovens das periferias por meio da música”, conta.

Ludymila Gomes, 24, do aglomerado da Serra, região Centro-Sul, se formou em produção cultural e agora faz design gráfico. Junto com colegas do Trampos, ela já saiu com um projeto que deve virar realidade em novembro deste ano, na barragem Santa Lúcia. “A ideia é fazer um grande palco aberto para artistas da comunidade se apresentarem”, anuncia Ludymila.