Crise hídrica

Deputados acusam Copasa de fazer racionamento velado

Ausência de presidente da estatal irrita parlamentares, que ameaçam com convocação

Sex, 27/11/15 - 03h00
Abastecimento. Obra de captação da água do rio Paraopeba começou em julho, deve ficar pronta em dezembro e resolveria problema | Foto: NIDIN SANCHES / O Tempo

A ausência da presidente da Copasa, Sinara Meireles, e do presidente da Copanor, Alonso Reis da Silva, na reunião da Comissão Extraordinária das Águas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta quinta, aumentou a suspeita do deputado estadual Iran Barbosa, presidente da comissão, de que está acontecendo um “rodízio velado” no abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte – com sucessivas interrupções no fornecimento de água.

“O fato de a presidente ter se ausentado (da reunião) me faz suspeitar, cada vez mais, que estamos vivendo um rodízio velado, e isso configura crime de fraude e de improbidade administrativa”, declarou Barbosa, após suspender a reunião que tinha o objetivo de questionar a estatal sobre os constantes cortes no abastecimento de água, que ocorrem, principalmente, aos fins de semana na região metropolitana. “Os moradores estão questionando o porquê de a Copasa estar desligando a água em até 200 bairros, por períodos que superam 36 horas, durante o fim de semana, questionam qual a legalidade disso”, afirma.

Sinara e Alonso foram convidados a participar da reunião e enviaram como representantes o diretor de operação metropolitana da Copasa, Rômulo Thomaz Perilli, e o diretor de operações Norte da Copanor, Gilson de Carvalho Queiroz Filho. Os deputados membros da comissão, porém, não aceitaram a ausência dos principais executivos das empresas, e não realizaram a reunião.

Segundo Iran Barbosa, a reunião já havia sido remarcada duas vezes, para acontecer em um dia em que a presidente da Copasa pudesse comparecer. Rômulo Perilli afirmou, após a reunião, que Sinara não compareceu por “problemas pessoais”.

À força. Nesta sexta a comissão irá propor uma nova data para que a presidente da Copasa vá à Assembleia explicar os cortes de água. Segundo Barbosa, se ela não comparecer mais uma vez, a convocação será feita pela mesa diretora da Assembleia. Nesse caso, a presença pode ser coercitiva, como explica o deputado: “A Polícia Militar vai aonde a pessoa estiver e a escolta até aqui”, diz.

O presidente da comissão explicou que a convocação dos presidentes foi substituída por um convite por pedido do presidente da ALMG, deputado Adalclever Lopes (PMDB), já que a convocação poderia parecer uma postura “agressiva”.

Porém, depois da ausência desta quinta, os deputados se colocaram a favor da convocação da dirigente. “É uma questão de respeito. Ela tem que explicar se o racionamento está acontecendo. Ou assume que tem acontecido o rodízio, ou garante água todo fim de semana em todos os bairros” afirmou o deputado João Vítor Xavier (PSDB).

Corte continua
Obras
. O abastecimento será cortado neste domingo pela Copasa em vários bairros de Belo Horizonte e Betim, Contagem, Ibirité, Igarapé e São Joaquim de Bicas por causa de obras no rio Paraopeba.

Reservatórios

Nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de Belo Horizonte nesta quinta:

Sistema Paraopeba: 21,5%

Rio Manso: 29%

Serra Azul: 5,9%

Várzea da Flores: 27,8%

Vazão no Rio das Velhas em 25/11: 23,2 m³/s

Fim dos ‘gatos’ na Dandara

O diretor da Copasa Rômulo Perilli afirmou que a Copasa iniciou a etapa de mobilização social na ocupação Dandara, na região Norte da capital, com o objetivo de levar a rede sanitária para a ocupação.

“Toda a área recebia água por meio de gatos. A própria comunidade nos procurou e começamos esse trabalho, já conversamos com todos os poderes”, afirmou Perilli.

Cortes ocorreriam por causa de obra

O diretor de operação metropolitana da Copasa, Rômulo Thomaz Perilli, afirmou nesta quinta que os constantes cortes no abastecimento de água na região metropolitana de Belo Horizonte são necessárias em função da obra de captação no rio Paraopeba. “A partir de dezembro, quando a obra for finalizada, teremos solucionada a crise hídrica”, afirmou Rômulo.

A obra de captação a fio no rio Paraopeba vai, segundo o diretor, fornecerá mais 5.000 litros de água por segundo ao sistema Paraopeba, que até nesta quinta contava com 21,5% de seus reservatórios. “Com isso, vamos poder economizar a água que o sistema retira hoje dos reservatórios de rio Manso, Serra Azul e Várzea das Flores”, afirmou Perilli. Ele declarou que a obra está 85% finalizada, e que deve ser inaugurada em dezembro.

Vazamentos. Por outro lado, Perilli admitiu que a operação Caça Gotas ainda não conseguiu diminuir o índice de perdas da água tratada pela Copasa, que permanece em torno dos 40%. “De 100 litros distribuídos, perdem-se 40, só vendemos 60”, afirma.

O diretor, porém, afirmou que, dos 40% perdidos, 12% são atribuídos a erros de medição. “Normalmente esse erro é favorável ao cliente”, disse. Os 28% restantes são perdidos em vazamentos e ligações clandestinas. “O que já conseguimos fazer foi diminuir o tempo de atendimento, quando somos avisados de vazamento, de 9 horas para 4,5 horas”, declarou.

Segundo Perilli, a Copasa recebe uma média de 1.100 denúncias de vazamentos por dia, só na região metropolitana. “São 18 mil km de rede para fiscalizar”, disse. 

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