Pouca chance

Desemprego entre os idosos sobe, enquanto oferta diminui

Pesquisa revela que apenas 17% receberam alguma proposta nos últimos três meses

Seg, 05/06/17 - 03h00
Busca. Francisco Maia entrega currículos e pede indicação de conhecidos, mas diz que ninguém quer contratar alguém com quase 70 | Foto: Leo Fontes

Francisco Augusto Alves Maia, 68, se aposentou há um ano, depois de trabalhar por 22 anos como operador de caixa na casa noturna New Sagitarius, em Belo Horizonte. Agora, procura uma oportunidade de voltar ao mercado. “Preciso complementar a renda para conseguir pagar as despesas de casa. Aposentadoria é muito pouco, não daria para arcar nem com a metade das contas”, conta. A situação que ele vive é a mesma dos aposentados sem emprego que cadastraram currículo no portal Vagas.com: eles querem voltar a trabalhar.

O estudo “Aposentados ou em idade para se aposentar no mercado de trabalho”, do www.vagas.com, mostra que esse desafio não está sendo fácil. A pesquisa com idosos sem emprego – já aposentados ou não – revela que apenas 17% receberam alguma proposta nos últimos três meses. Em 2012, a oferta era mais que o dobro: 36% haviam sido sondados para voltar ao trabalho.

Se, por um lado, a oferta de postos de trabalho caiu tanto, por outro o número de desempregados idosos procurando trabalho por meio do site especializado aumentou. Neste ano, 72% dos profissionais da terceira idade cadastrados no Vagas.com estão sem emprego. Em 2012, só 48% encontravam-se nessa situação.

Maia está recorrendo aos mecanismos tradicionais: além de entregar currículos, aposta na indicação de conhecidos. “Experiência eu tenho, mas ninguém quer empregar alguém com quase 70 anos”, disse.

O número de profissionais idosos desempregados aumentou, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre deste ano: 30.072 pessoas acima de 60 anos estão sem emprego no Brasil, um aumento de 1,53%, se comparado ao mesmo período do ano passado, com 29.619.

As vagas diminuíram para esse grupo, e há mais interesse em voltar ao mercado mesmo entre os já aposentados. Das 2.367 pessoas da terceira idade ouvidas pelo Vagas.com, 1.704 estão desempregadas. Segundo a pesquisa, 62% estão aposentados.

Para o coordenador de pesquisa do Vagas.com, Rafael Urbano, o número indica necessidade de complementação de renda mesmo para quem já tem os recursos da aposentadoria. “Esse interesse pela volta ao mercado pode ser pelo endividamento familiar. A aposentadoria não é suficiente para arcar com as despesas da casa”, disse.

Segundo Urbano, 15% dos entrevistados alegam que precisam do emprego para pagar dívidas. Cerca de 57% pretendem ter renda extra para complementar o orçamento. Em 2012, os que tinham essa necessidade eram 47%. Já outros 10% querem ganhar um extra e poupar dinheiro, número que era de 7% há cinco anos.

A dona de casa Lúcia de Fátima Ferreira, 61, mora em Barroso, na região Central de Minas, trabalhou durante sete anos como assistente social e, desde que foi demitida, está procurando uma recolocação. “É muito difícil, a idade pesa na hora de conseguir uma contratação. Hoje faço lanches congelados por encomenda. É o que está me ajudando. Mesmo que seja pouco, é melhor que nada. Ainda mais nessa crise”, disse.

“O mercado está retraído e com poucas oportunidades. Há alguns sinais de melhora, mas ainda pouco consistentes. Com esse quadro, fica mais difícil as empresas buscarem profissionais, e isso passa pela procura de aposentados”, analisa Urbano.

Na internet

Público. A pesquisa “Aposentados ou em idade para se aposentar no mercado de trabalho” foi feita com homens e mulheres de mais de 60 anos com currículos cadastrados no Vagas.com.


Diferença

Servidor tem sete vezes a renda média

SÃO PAULO. A aposentadoria média do servidor público civil é sete vezes maior que a renda média nacional, segundo dados do Ministério do Planejamento, enquanto o benefício médio do INSS é pouco acima da renda média, de acordo com a Previdência. O que acontece é que, além de receber aposentadorias maiores e ter normas mais favoráveis, funcionários públicos também têm seus direitos mais protegidos contra mudanças na legislação.

A maioria das regras previdenciárias dos servidores está regulada pela Constituição. Já os mais vulneráveis podem ter condições para acesso ao benefício mudadas por lei ordinária. Aposentadoria dos militares, que será alvo de reforma, tem benefício médio sete vezes maior que o do setor privado.

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