Flutuações

Dólar estável, e bolsa com 4ª queda seguida: como fechou o mercado hoje (13)

Apesar de CPI forte nos EUA, juros terminam com viés de alta, alinhadas ao câmbio

Qui, 13/10/22 - 18h23
Imagem ilustrativa | Foto: Pixabay

Os juros futuros fecharam a quinta-feira perto dos ajustes anteriores, com viés de alta nos vencimentos intermediários e longos. Terminaram distantes das máximas vista pela manhã em reação à inflação ao consumidor nos Estados Unidos acima do esperado, mas não conseguiram firmar o movimento de queda ensaiado à tarde. A curva basicamente acompanhou a trajetória do câmbio, com o dólar também abandonando o recuo na segunda etapa e voltando a subir timidamente no fechamento dos negócios.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou estável ante o ajuste de terça-feira, em 12,80%, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,64% para 11,71%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,55%, de 11,50%.

Os mercados globais superaram ainda pela manhã o efeito nocivo do índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) norte-americano acima do esperado, um dia após a inflação no atacado ter também surpreendido negativamente. No caso dos juros, as taxas zeraram a alta e passaram a oscilar com queda moderada, em linha com o alívio no câmbio e apesar do avanço no rendimento dos Treasuries - a taxa da T-Note de 10 anos chegou a romper 4%. O dólar também avançava pela manhã, chegando nas máximas à casa de R$ 5,3814, zerou os ganhos e passou a cair à tarde. Mas retomou leve avanço no fim do dia, trazendo o viés de alta para as taxas de médio e longo prazos no término da sessão regular.

Nas mesas de renda fixa, porém, havia alguma estranheza com relação à virada dos mercados, mais forte nas bolsas. Os riscos são cada vez mais crescentes de um mundo em recessão, dada a sinalização dos bancos centrais de que a inflação é o mal maior a se combater. O CPI subiu 0,4% em setembro (consenso de 0,2%) e o núcleo, 0,6% (consenso 0,4%), endossando as expectativa de novo aumento de 75 pontos-base no juro pelo Federal Reserve em novembro, com agentes colocando fichas já na aposta de até 100 pontos.

Além disso, a escalada das tensões geopolíticas não pode ser desprezada, com o temor de evolução para ataques nucleares na guerra entre Rússia e Ucrânia.

O estrategista da Tullett Prebon Vinicius Alves viu um mercado de certa forma complacentes com os riscos, uma vez que a quinta-feira não trouxe fatos positivos para explicar a melhora dos ativos. "Mercado parece estar querendo comprar notícia boa", disse.

No Banco Original, o economista-chefe Marco Caruso afirma que o CPI reforça a mensagem da ata divulgada na quarta, na qual dirigentes do Fed renovaram a promessa de combater a inflação como prioridade número 1. "Ficou claro que o custo econômico de subir o juro menos do que o necessário é maior do que o de subir demais. Não vão permitir que a inflação crie raízes profundas, o que traria consequências piores para o macro do que uma eventual recessão", disse, no Podcast Diário Econômico.

Na gestão da dívida, o Tesouro vendeu 5,020 milhões de LTN, ou quase todo o lote de 5,5 milhões, e 500 mil das 650 mil NTN-F ofertadas, sendo todas no vencimento para 2029. O DV01 (risco para o mercado) de US$ 196 mil foi bem menor do que o de US$ 546 mil do leilão da semana passada, em números fornecidos pela Renascença DTVM.

Ibovespa cai pelo 4º dia, em baixa de 0,46%, a 114,3 mil pontos

Na esteira de avanço acima de 2% no Brent, os ganhos em torno de 3% para Petrobras (ON +3,13%, PN +2,85%) não foram o suficiente para assegurar sinal positivo ao Ibovespa no fechamento desta quinta-feira pós-feriado, em que os ganhos em Nova York chegaram a 2,83% (Dow Jones) após uma sequência de quedas - a sessão também foi de recuperação técnica nas bolsas europeias. Afora Petrobras, o dia na B3 foi majoritariamente negativo para outras ações e setores de peso, como bancos, à exceção de BB (ON +0,69%); siderurgia, exceto Gerdau (Metalúrgica +0,53%, PN +0,19%), e para Vale (ON -1,78%), com recuo de 2,45% no minério em Dalian (China).

Com poucos catalisadores domésticos disponíveis na sessão, o Ibovespa encerrou em baixa de 0,46%, a 114.300,09 pontos, vindo já de três perdas antes da pausa para a celebração da Padroeira, na quarta-feira. Na mínima, tocou nesta quinta-feira nos 112 690,12 pontos, ainda no menor nível desde a abertura de 3 de outubro, dia seguinte ao primeiro turno da eleição, com máxima nesta quinta-feira a 115.366,95, saindo de abertura aos 114 819,20 pontos. O giro financeiro foi a R$ 48,1 bilhões na sessão, reforçado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa. Na semana, o índice cede 1,78%, mas avança 3,87% no mês e 9,04% no ano.

Na ponta do índice, destaque ainda para Braskem (+11,97%), estendendo o salto da terça-feira com os rumores de que o fundo Apollo teria apresentado oferta maior pelas ações da empresa com a intenção de fechar o capital na B3 e abrir em Nova York. Destaque também para Minerva (+6,64%), Rumo (+4,05%) e Petrobras ON (+3,13%). No lado oposto, Americanas (-7,34%), CSN Mineração (-5,56%) e MRV (-5,13%).

No exterior, "foram cinco dias seguidos de queda para as bolsas americanas, até a quarta, que as colocaram em mínimas do ano, faltando pouco para o encerramento de 2022. Um ano ruim também para o mercado de bonds, e não só americanos, com o estresse que prossegue especialmente nos Gilts, do Reino Unido", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, colocando em destaque sinais em sentido tanto 'hawk' como 'dove' na ata de quarta-feira do Federal Reserve. "Voltaram a frisar o risco de não se fazer nada ou menos do que deveriam, mas pela primeira vez apareceu um parágrafo (na ata) que pode ser lido como uma conversa sobre desaceleração da alta de juros", acrescenta o economista.

A ata do Federal Reserve, divulgada na quarta quando a B3 estava fechada, trouxe até alguns sinais "dovish", observa também Gabriel Meira, especialista em renda variável da Valor Investimentos, mas tal efeito foi mitigado de certa forma, nesta quinta, pela leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos. "A alta foi de 0,40%, e a expectativa era de 0,20% (para setembro). Um dos fatores para esse aumento é o contínuo crescimento da massa salarial, o que estimula o consumo e contribui para uma inflação elevada. O acumulado em 12 meses está em 8,2%, ainda bem acima da meta (de inflação) do Fed, de 2% ao ano", observa Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios.

"O dia de hoje foi bastante volátil principalmente lá fora, com o CPI (índice de preços ao consumidor) acima do esperado, o que levou o mercado a precificar altas maiores de juros, e até risco de ciclo também maior (de aumentos na taxa de referência do Fed), considerando que se esperava alta de 0,75, de 0,50 e de 0,25 pontos porcentuais (para as próximas reuniões). Mas depois houve uma recuperação muito forte lá fora, saindo das mínimas para as máximas do dia. Aqui, a amplitude do movimento foi muito menor, mas o mercado chegou a acompanhar também, em parte do dia", diz Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset.

"O principal dado de inflação da semana, o CPI americano, trouxe volatilidade, com oscilação grande depois da divulgação, após leitura acima do esperado tanto para o índice cheio como para o núcleo (que exclui itens considerados mais voláteis, como alimentos e energia). O 'core' subiu 0,6%, na margem, e 6,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado, contrariando expectativas, e com alta muito concentrada no setor de serviços", diz Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Investimentos.

Dólar fecha em R$ 5,2730, após oscilar mais de 15 centavos na sessão

Em meio à troca constante de sinais e oscilação de mais de 15 centavos ao longo do dia, o dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, na volta do feriado de Nossa Senhora, cotado a R$ 5,2730, praticamente estável (alta de 0,02%). O vaivém da divisa por aqui esteve muito ligado ao comportamento da moeda norte-americana no exterior, em dia marcado pela divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos em setembro.

A leitura do CPI revelou um quadro inflacionário persistente. Tanto o índice cheio (+0,4%) quanto o núcleo (+0,6%) em setembro vieram acima do esperado, realimentando a expectativa de postura mais agressiva do Federal Reserve. Além de confirmar a possibilidade de elevação de 75 pontos-base da taxa básica em novembro, o CPI alimentou apostas em nova alta de igual magnitude em dezembro. Na leitura anual, o índice subiu 8,2% (previsão de 8,1%), ao passo que o núcleo avançou 6,6% (projeção de 6,5%).

"Foi a pior leitura de inflação nos EUA nos últimos 40 anos e impactou fortemente os ativos pela manhã, já que o mercado esperava um dado um pouco melhor", diz o economista-chefe da RPS Capital, Victor Cândido. "Isso aumentou a probabilidade de o Fed subir mais os juros. Os mercados já estão precificando taxa de juros nos Estados Unidos em 5%".

A reação imediata foi de fuga do risco, o que levou a um tombo das bolsas em Nova York e a uma corrida à moeda americana. Referência do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY chegou a se aproximar dos 114,000 pontos, ao registrar máxima aos 113,920 pontos. Por aqui, a divisa disparou e chegou a subir mais de 2% na máxima, a R$ 5,3814 (+2,07%), nas primeiras horas de negociação.

A febre compradora amainou ainda pela manhã, com a moeda americana perdendo força em relação a pares fortes, em especial o euro e libra. Circularam informações de que a primeira ministra do Reino Unido, Liz Truss, que acenava com corte de tributos e ampliação de gastos, estaria considerando agora aumento de imposto para empresas. Com o índice DXY recuando para a faixa dos 112,300 pontos e as bolsas em Nova York com ganhos superiores a 2%, o dólar perdeu força no mercado doméstico à tarde e não apenas virou para o terreno negativo como tocou mínima a R$ 5,2302 (-0,73%).

Para o especialista em mercados internacionais do C6 Bank, Gabriel Cunha, uma possível explicação para a melhora do desempenho dos ativos de risco após a reação negativa com o CPI nos EUA pode ter sido o fato de o mercado ter se posicionado de forma muito negativa à espera do indicador. "Além disso, notícias veiculadas nas mídias da Inglaterra indicam que o governo britânico vai dar mais um passo atrás no pacote bilionário de corte de impostos", afirma.

À tarde, o BC informou que, após encerrar setembro com saídas líquidas de US$ 3,850 bilhões, o fluxo cambial é negativo em US$ 184 milhões em outubro (até o dia 7), em razão de saída de US$ 1,083 bilhão via comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou entradas líquidas de US$ US$ 899 milhões no período, confirmando a percepção de operadores de volta do apetite do capital externo por ativos domésticos após o primeiro turno das eleições. (Estadão Conteúdo)

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