Reabertura

Em BH e região, quase sete em cada dez lojas demitiram durante a pandemia

Lojistas ouvidos em pesquisa do Sindilojas BH preveem que só recuperarão os negócios no final do próximo ano

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 23 de setembro de 2020 | 14:30
 
 
Comércio BH Foto: Uarlen Valério / O Tempo

A reabertura do comércio em Belo Horizonte, retomada em agosto, não foi o ponto final dos problemas trazidos pela pandemia de Covid-19 ao setor. Durante os últimos seis meses, 68,5% delas demitiram funcionários, em um cenário em que muitas não obtiveram crédito para manter o negócio e que só deve melhorar em 2021. 

Os dados são de uma pesquisa recém-divulgada pelo Sindicato dos Lojistas de BH (Sindilojas BH), respondida por 223 lojistas da capital e da região metropolitana durantes este mês, a maioria deles de micro a pequeno porte. Dos lojistas que demitiram funcionários, quase 40% dispensaram até um quarto da equipe. Em praticamente 5% das empresas, mais da metade dos trabalhadores foi demitida.

Na perspectiva do presidente do Sindilojas BH, Nadim Donato, é uma situação que pode ser amenizada com a chegada da Black Friday, em novembro, e do Natal, no final do ano, épocas em que tradicionalmente há aumento das contratações temporárias. “Isso é bom, porque pode refletir em efetivação no ano que vem. Acreditamos que neste ano será uma contratação temporária maior, mas ela vinha diminuindo. Antes da pandemia, todos já estavam operando com quadro reduzido”, diz. 

Já o prognóstico do presidente do Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região Metropolitana, José Cloves Rodrigues, é de baixa nas contratações temporárias e aumento da precarização das relações de trabalho, que, segundo ele, deterioram-se desde a Reforma Trabalhista de 2017. “Torço para isso não acontecer, mas penso que até dezembro o comércio ainda não vai estar em condição de fazer as contratações como sempre fez ao longo dos anos. Acho que a recontratação vai ser mais lenta do que foram as demissões”, diz.

No Mundo dos Armarinhos, loja de aviamento no Centro de BH aberta há 33 anos, as recontratações já se iniciaram. O dono, Fausto Izac, 61, demitiu quatro, dos 16 funcionários, durante a pandemia. Com a reabertura, pretende contratar dois. Ele conta que o movimento da loja está próximo ao que era antes da pandemia, mas o faturamento diminuiu devido à alta imposta pelos fornecedores.  

“Não houve nenhum fornecedor que não aumentou o preço pelo menos em 5%. Acabei de saber que um fornecedor de algodão, de Minas, aumentou 8% o preço, é o terceiro aumento dele. As mercadorias também não chegam na mesma velocidade de antes”, aponta o comerciante.  

Para maior parte dos lojistas, vendas diminuíram de 30% a 40%

31% dos respondentes da pesquisa do Sindilojas BH afirmam que as vendas caíram de 30% a 40% do início do ano até agosto, comparadas ao mesmo período de 2019. Nas duas primeiras semanas de setembro, quando o comércio já estava de portas abertas novamente, a diminuição também foi nesse nível para 36% dos consultados. 

Não é um cenário que vá se reverter tão cedo, na visão do presidente do sindicato, Nadim Donato. “A recuperação para o patamar de 2019 virá só no último trimestre do ano que vem, se não houver fechamento do comércio novamente”, estima. Ele diz acompanhar os indicadores da saúde em BH e temer uma nova paralisação das atividades, caso os índices piorem. “(Os casos de Covid-19) estão voltando na Inglaterra e na Espanha. Se tiver que fechar de novo, não aguentamos”, pontua.  

Pouco menos de 48% dos respondentes da pesquisa concordam com Donato e afirmam que só recuperarão os negócios de 1,1 a dois anos. Uma minoria de 10,5% apostam que conseguirão retomar imediatamente. 

Quase 40% dos comerciantes que tentaram obter crédito pelo Pronampe não conseguiram

Outro problema enfrentado pelos comerciantes durante a pandemia foi a obtenção de crédito. Na pesquisa do Sindilojas-BH, cerca de 72% deles declararam ter tentado acesso a crédito e pouco mais da metade desses lojistas recorreu ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), lançado pelo governo federal.

Praticamente 40% de quem procurou o programa não obteve o crédito solicitado. Segundo Donato, bancos impõem dificuldade à aquisição do crédito ao verificar a documentação de lojistas.  

Uma medida esperada por quase metade dos comerciantes para aliviar as dificuldades é a redução de impostos e taxas governamentais. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) adiou o pagamento do IPTU das lojas que tiveram que fechar durante a pandemia, porém, por 2020 ser um ano eleitoral, não pode conceder descontos. Quando as eleições de novembro passarem, o presidente do Sindilojas BH afirma que tentará negociar isenção do imposto para as lojas.

Outra demanda que ele levará à prefeitura, assim que uma pesquisa sobre viabilidade for concluída pela sindicato, é a abertura do comércio por mais duas horas, de segunda a sábado. Atualmente, as lojas de rua podem funcionar d as 11h às 19h, de segunda a sexta, e das 9h às 17h aos sábados; nos shopping centers, a permissão é de abertura das 12h às 20h de segunda a sábado.