Ferroligas

Energia cara ameaça indústria 

Cemig diz que contratos de longo prazo só serão firmados após decisão judicial sobre usinas

Sex, 22/05/15 - 03h00
Protesto. Trabalhadores de metalúrgicas do Norte de Minas se reúnem em frente a fábrica na região | Foto: Divulgacao/Simetall

A indústria de ferroligas pode se extinguir no país se o preço da energia elétrica não se tornar mais competitivos, diz a Associação Brasileira dos Produtores de Ferroligas e de Silício Metálico (Abrafe). “A realidade de 2015, de indisponibilidade de energia a preços competitivos, gera grande preocupação em relação à extinção dessa indústria, e as demissões ocorridas, segundo informaram as empresas, se devem à gestão desse cenário”, declarou, por nota, a associação, sobre as demissões que estão acontecendo no setor. Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que a energia elétrica para a indústria do Brasil é a mais cara do mundo, 111% acima da média mundial.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pirapora, Buritizeiro e Jequitaí, as demissões de trabalhadores no Norte do Estado, em 2015, já chegaram a quase 500. Empresas que há cerca de dois anos contavam com 800 funcionários hoje estão com menos de cem, afirmam os dirigentes. “A Liasa já teve cerca de 800 funcionários, tem quatro fornos desligados, neste ano já demitiu 218 e está demitindo o restante. (Está) correndo o risco de fechar as portas ainda neste semestre”, afirma o diretor do sindicato, Aldiério Florêncio Pereira. Segundo ele, outras empresas estão em situação semelhante. A Liasa foi procurada pela reportagem, mas preferiu não comentar a situação.

O quadro, segundo a Abrafe – que reúne 14 empresas do setor, sendo 11 em Minas Gerais –, se repete nas demais regiões. Atualmente 80% da capacidade produtiva dessas indústrias não está sendo utilizada. “Em 2014, 25% dos funcionários das empresas de ferroligas foram demitidos. O argumento para as demissões é o preço da energia elétrica. Eles dizem que precisam de uma energia mais barata para voltar a produzir”, afirma Dirley de Castro Vale, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São João del Rei (Sindmetal), na região do Campo das Vertentes.

Contratos. A situação se agravou com o fim dos contratos de longo prazo que muitas empresas mantinham com a Cemig. Aldiério explica que, na região de Pirapora, a maioria dos indústrias tinha um contrato assinado em 2004 e que expirou em dezembro de 2014, que garantia o preço de R$ 67 por MWh. Hoje esse valor no mercado está acima de R$ 300. Segundo dados da Abrafe, a energia elétrica é o principal insumo do setor e representa até 40% do custo do produto final.

Para solucionar a situação, a Abrafe tenta negociar com o governo federal uma redução da tarifa. Já o presidente da Cemig, Mauro Borges, afirmou na última terça-feira que tem conhecimento da situação, mas que aguarda uma solução das usinas de São Simão, Jaguara e Miranda – concessões que estão sendo disputadas com o governo federal no Judiciário – para oferecer melhores condições nos contratos de longo prazo.

Para o presidente da Trade Energy, Walfrido Ávila, o custo da energia elétrica no país é alto em função da alta carga de impostos. “Enquanto no mundo a carga tributária está entre 6% e 9%, no Brasil ela pode ultrapassar 50% do valor da energia”, afirma Ávila. Ele lembra que entre os setores prejudicados pelo alto custo da energia elétrica no país está a indústria de alumínio. “O alumínio deixou de ser produzido no Brasil, e hoje temos que importar”, afirma.

Atividade industrial no país é a menor em seis anos, diz CNI

São Paulo
. A atividade industrial brasileira caiu em abril para 39,7 pontos, o nível mais baixo para o mês em seis anos. O indicador segue muito abaixo dos 50 pontos – nível-limite para indicar melhora na atividade industrial. O setor operou com 67% da capacidade instalada, o mesmo número de março, mas 4 pontos percentuais abaixo do verificado em abril de 2014.

A Sondagem Industrial divulgada nesta quinta pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou intensa queda na atividade produtiva e reforça as perspectivas pessimistas para maio.

A desaceleração da atividade produtiva atingiu também o número de empregados, que caiu mais uma vez. O índice atingiu 43,1 pontos em abril ante 43,6 em março. “É o pior índice da série histórica”, registrou na pesquisa a CNI.


Marcha lenta

Uso da capacidade instalada na indústria brasileira:


Indicador de atividade produtiva: 39,7 pontos

O nível-limite para indicar melhora é 50 pontos

Os estoques aumentaram, sinal de que as vendas estão fracas

A perspectiva de investimento foi reduzida

Demissões aumentaram

Em Minas Gerais

Índice de Confiança do Empresário Industrial do Estado (Icei-MG) apurado pela Fiemg:

35,7 pontos em abril

34,9 pontos em maio

Um ano atrás, era de 44 pontos

Icei nacional: 38,6 pontos
Setores mais impactados em Minas: mineração e siderurgia, cujos valores de produtos em dólar estão muito baixos, e automotivo, cujas vendas estão em trajetória de queda

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