Mercado de Trabalho

Envolvidas na Lava Jato já demitiram 540 mil em 3 anos

Número representa 4% do total de desempregados de todo o país

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 20 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
Em espera. Crise, queda dos investimentos e envolvimento de empresas na Lava Jato pararam obras Foto: Dnit/Divulgação

Em três anos, sete empresas envolvidas na operação Lava Jato – Petrobras, Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correa, Engevix e Skanska – já eliminaram, somando empregados diretos e terceirizados, mais de 540 mil postos de trabalho no Brasil. O número representa 4% do total de desempregados no país, que hoje é de 13,5 milhões, segundo o IBGE.

Outras empresas, como Galvão Engenharia, Mendes Júnior, UTC e Iesa Engenharia (grupo Inepar), que também foram investigadas na operação da Polícia Federal, iniciada em março de 2014, estão em recuperação judicial. Os números mostram a representação que as denúncias de corrupção, propinas e lavagem de dinheiro tiveram no mercado de trabalho nacional.

“A Lava Jato influenciou, e continuará influenciando, negativamente o emprego e a economia do país. Já o mercado acostumou-se com a operação. Por isso, as fases da Lava Jato não causam mais efeitos imediatos na Bolsa ou no dólar. Mas a retomada do emprego ainda vai demorar”, avalia Paulo Azevedo, professor de estratégia financeira do Ibmec-SP.

André Bojikian Calixtre, mestre em economia social do trabalho e doutorando em história econômica pelo Instituto de Economia da Unicamp, pondera que não é possível fazer uma relação direta entre o atual índice de desemprego e a Lava Jato. “A operação é importante e necessária. O que não soubemos fazer no Brasil foi separar a crise da cadeia produtiva. As pessoas deveriam ser punidas, e não as empresas, como acabou acontecendo com a operação”, critica.

Azevedo também vê outros fatores que influenciaram negativamente o emprego. “Na construção civil, o ciclo já estava entrando em baixa durante a Lava Jato. O fim de grandes obras públicas também gerou desemprego na mesma época. Não foi só a Lava Jato”, diz. “Para que o desemprego recue, é necessário um grande aumento no número de vagas porque existem pessoas que estão entrando na idade de trabalhar e passam a concorrer com os que hoje estão sem emprego”, completa o professor.

Com isso, quem foi dispensado demora para se recolocar. Ou busca outro mercado para atuar. “Fiquei um ano desempregada depois que fui demitida da Andrade Gutierrez”, conta a engenheira de minas Ana Paula Fonseca Araújo, que trabalhou na empresa como engenheira de obras de 2013 até julho de 2016.

Fatores. As empresas envolvidas na Lava Jato argumentam que a operação não é a única responsável pela diminuição drástica no número de vagas. “Não é possível associar diretamente a redução do quadro de pessoal ou dos prestadores de serviço com a Lava Jato”, disse, em nota, a Petrobras. Nesse sentido, a petrolífera cita o contexto econômico mundial, especificamente do setor de óleo, gás e energia, como um dos motivos que levaram a estatal a “otimizar seus gastos operacionais e readequar seu volume de investimentos”. Já a Odebrecht diz, também por nota, que a “queda acumulada de 7,2%, apenas de 2015 para cá”, do Produto Interno Bruto (PIB) provocou a redução acentuada de seu quadro de pessoal.

 

Fornecedores também sofrem

Os fornecedores das empresas diretamente envolvidas na Lava Jato também diminuíram seus quadros. “Não trabalhava para uma empresa que foi citada na Lava Jato, mas algumas delas eram nossas clientes. As compras diminuíram muito, e acabei sendo demitido”, conta um administrador de empresas que atuava em uma firma de guindastes e que preferiu não se identificar. Para sobreviver, ele está há um ano dirigindo para a Uber.

“A Lava Jato não afetou apenas empresas que estavam envolvidas em propinas”, ressalta Paulo Azevedo, professor do Ibmec-SP.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) informa, por nota, que desde 2013 foram eliminados mais de 90 mil postos de trabalho no setor. “A Lava Jato trouxe um grande impacto para as empresas que forneciam para o setor de óleo e gás. O atraso nos pagamentos interferiu diretamente na questão do emprego. Mas destaca-se também todo o cenário de crise econômica e política no país, que também interfere diretamente no desempenho do segmento”, afirma a nota da associação.