Defesa

Falhas da Copasa colocam 35 municípios em racionamento

Empresa diz que estiagem evidencia problemas causados pela falta de investimento no passado

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 27 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
Caminhão-pipa tem sido a solução encontrada para lugares onde faltam água, bombas, adutoras, poços e outros itens Foto: Notícias da Cidade/divulgação – 27.8.2017

Atendidas pela Copasa, 35 cidades mineiras estão em racionamento de água. Em Bom Despacho, no Centro-Oeste mineiro, famílias chegam a ficar duas semanas sem uma gota caindo em suas caixas d’água. Em Arcos, também no Centro-Oeste, bairros ficavam dias sem abastecimento. A situação ficou tão crítica que a prefeitura entrou na Justiça para garantir, pelo menos, o abastecimento com caminhão-pipa. “A Copasa enviava nove por dia, não era suficiente. Conseguimos, na Justiça, o envio de caminhões que atendam toda a cidade”, relata o prefeito de Arcos, Denilson Teixeira.

Segundo ele, a prefeitura solicitou na Justiça que a Copasa pague uma multa diária de R$ 20 mil enquanto não conseguir fornecer água para a população, e aguarda a decisão. “Faltam as obras. Estamos conversando com a Copasa desde janeiro e apelamos à Justiça porque ela não faz os investimentos”, afirma.

Os problemas no abastecimento atingem não se resumem a cidades que estão oficialmente em racionamento. Em Extrema, no Sul do Estado, onde casas e empresas ficam até dois dias sem receber o recurso, a prefeitura e o Ministério Público estão entrando com uma ação civil pública contra a Copasa para garantir o abastecimento. “Estamos assinando a ação civil pública e protocolando no Ministério Público hoje (26)”, diz o secretário de Desenvolvimento e Empreendedorismo de Extrema, Adriano Carvalho.

Os constantes problemas de abastecimento podem fazer com que a Copasa perca contratos de fornecimento de água. “Na nossa avaliação, a empresa entrou em colapso”, afirma Carvalho. A prefeitura se reunirá hoje com uma empresa privada que pode substituir a Copasa. “Na próxima terça-feira, a Copasa virá a Extrema tentar reverter a situação, mas espero que no ano que vem a mudança já tenha sido feita”, diz Carvalho.

O prefeito de Bom Despacho, Fernando Cabral, também estuda “expulsar” a estatal. “A Copasa não fica se não fizer com urgência os investimentos necessários. Vou pedir a nulidade do contrato”, afirma Cabral. No mês passado, a prefeitura chegou a promoveu intervenção no escritório da Copasa na cidade.

Denilson Teixeira, prefeito de Arcos, também estuda substituir a empresa. “São problemas que já existem há mais de três anos, não temos retorno. Só nos resta cancelar o contrato”, diz.

A Copasa afirmou, em nota à reportagem, que “a insatisfação dos prefeitos, compreensível, é consequência da falta de investimentos que deveriam ter sido realizados no passado, mas não foram feitos. Com a severa estiagem em Minas Gerais, essa falta de investimentos fica muito evidenciada”. A empresa informa que desde 2015 já investiu cerca de R$ 1,1 bilhão em implantação, ampliação e melhorias de sistemas de abastecimento de água.

Crítica. O deputado estadual Antônio Carlos Arantes (PSDB) diz que “o problema não é de estiagem, é de falta de planejamento da Copasa”. Ele estima que 20% dos mineiros estão sem abastecimento.

Atendidas pela Copasa

Cidades em racionamento
Abaeté
Arcos
Astolfo Dutra
Campanha
Campo Azul
Campos Altos
Capitão Enéas
Caratinga
Catuti
Divisa Alegre
Engenheiro Caldas
Iapu
Ibiracatu
Igaratinga
Inhapim
Mato Verde
Matutina
Montes Claros
Paracatu
Patis
Periquito
Riacho dos Machados
Rodeiro
Santa Efigênia de Minas
Sardoá
Sobrália
Taiobeiras
Tarumirim
Teixeiras
Ubá
Urucânia
Vargem Alegre
Visconde do Rio Branco


Comunidades da zona rural não têm nem caminhão-pipa

Na zona rural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, cerca de 1.500 pessoas que vivem em cerca de 14 comunidades rurais ficam várias semanas sem receber água da Copanor, a empresa subsidiária da Copasa que atua no Norte do Estado. A informação é do secretário de Desenvolvimento Sustentável do município, Marcos Antônio Souza Otoni. “Dois mananciais da região, o Gravatá e o Piauí, estão secos. Eles atendiam essas pessoas. A Copanor abandonou as obras para levar água a essas regiões. O próprio rio Araçuaí, que hoje abastece o perímetro urbano, está secando. Já falamos com a Copasa. Se não tomar atitude agora, em três anos o Araçuaí seca também”, afirma Otoni.

“Na zona rural pode demorar até um mês para o caminhão-pipa chegar”, diz o contador Luiz Carlos Vieira Neres, morador da cidade. Ele conta que, para chegar ao distrito de São José das Neves, são 40 quilômetros de estrada de terra, o que dificulta a chegada de veículos. “Apresentamos o projeto de uma barragem para a Copanor, conversamos com a prefeitura, mas não se resolve nada”, conta.

“Nunca vi uma empresa que cuida tão mal do seu produto”, diz o prefeito de Arcos, Denilson Teixeira. Segundo ele, falta investimento, por parte da Copasa, na recuperação de mananciais. Já a empresa afirma, em nota, que “foram realizados serviços de levantamento de campo e ações ambientais em mais de 150 municípios, com o plantio aproximado de 205 mil mudas nativas, instalação e manutenção de 4.850 metros de cercas existentes”.