Crescimento

Freelance garante renda para jovens diante do desemprego

Índice de empreendedores entre 25 e 34 anos passam de 19,2% para 30,3% em cinco anos

Seg, 08/01/18 - 02h00
A estudante Thaiana Gun viu no trabalho de anfitriã de cachorros uma oportunidade de garantir uma boa renda | Foto: Lincon Zarbietti

A ideia inicial era formar-se em ciências do Estado pela UFMG e se tornar servidor público, mas as coisas não aconteceram assim para o professor de inglês freelancer Jonathan Herneck, 26. E, para ele, tudo bem. “Percebi que os números eram mais atraentes como freelancer do que dando aulas em escolas de idiomas, tanto em ganho financeiro como controle da minha agenda. Foi melhor emitir o MEI (microempreendedor individual) do que ficar nas escolas”, diz.

Herneck faz parte de uma geração de jovens adultos que está preferindo abraçar o trabalho freelance a tentar um emprego formal com carteira de trabalho assinada. Segundo informações do Sebrae, em 2016, 30,3% dos empreendedores iniciais no país tinham entre 25 e 34 anos. Em 2012, eles eram apenas 19,2% do total.

Por outro lado, o levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) baseado na Pnad Contínua do IBGE do terceiro trimestre de 2017 aponta que os jovens de 18 a 24 anos são maioria, 26,5% do total, entre os desocupados do país. A produtora de conteúdo freelancer Débora Resende, 23, ficou quatro meses procurando emprego sem ser chamada pra nenhuma entrevista. “Procurando na internet formas de ganhar dinheiro em casa, acabei descobrindo a Rock Content e me candidatei pra escrever pra eles”, explica. “Se a pessoa for organizada e os trabalhos surgirem com frequência, dá pra ganhar bem mais do que em um emprego formal nessa área, só não tem os benefícios”, afirma.

Mito. A falta dos benefícios do emprego formal faz diferença. “Agora no fim do ano eu fiquei pensando bastante no 13º salário que não vou receber”, admitiu Débora, em tom de brincadeira. Mas a sensação de segurança do emprego formal já não conta tanto. “Sinceramente, é um mito enorme essa história de segurança, de estabilidade do mercado formal. E ser freelancer não é ‘bico’ é ser empreendedor também”, avalia Herneck.

“Estabilidade não é estar há muito tempo numa empresa, existem outras formas de consegui-la, e é possível fazer isso sendo freelancer. Hoje eu sou muito mais realizada profissionalmente do que quando trabalhava como contratada”, diz a assessora de imprensa Jéssica Meireles Santana. Ela trabalhou cerca de dois anos em uma assessoria de imprensa, mas optou por trabalhar como freelancer.

Renda extra. O trabalho freelancer também foi a opção da estudante de comércio exterior Thaiana Pereira Gun, 26, que é anfitriã de cachorros pela DogHero. A plataforma liga pessoas que podem cuidar de pets a quem precisa viajar. Com a atividade, a família da universitária chega a aumentar a renda em até R$ 3.000 por mês. “Quando conhecemos a DogHero, vimos a possibilidade de ganhar dinheiro, mesmo trabalhando”, conta a jovem, que hoje também faz estágio. “Abriu minha cabeça para outras possibilidades de conseguir renda, e o retorno é muito bom, além de ser uma coisa que gosto. Poderia ser uma atividade full time”, avalia Thaiana.

Subiu. A ocupação de jovens entre 18 a 24 anos cresceu 3,1% no 3º trimestre de 2017, ante o mesmo período de 2016, diz o Ipea. A taxa seguiu a queda global do desemprego.


Jovens são 60% dos profissionais de site

A internet é uma das ferramentas aliadas dos freelancers. No site GetNinjas, que oferece serviços terceirizados, 60% dos 350 mil profissionais cadastrados têm de 18 a 30 anos, segundo o CEO da empresa Eduardo L'Hotellier. “Esse público busca o GetNinjas primeiro por necessidade, segundo porque tem mais facilidade de trabalhar a tecnologia e terceiro por ser mais aberto para buscar alternativas de renda”, afirma o empresário. Ele conta que a média de ganho de um profissional do GetNinjas é de R$ 80 por hora.

A líder de marca da DogHero, Ana Leal, percebe a mesma situação. Ela conta que 58% dos anfitriões de cachorros da empresa têm de 18 a 34 anos. No caso da plataforma, 80% dos cuidadores são mulheres.

“Temos universitárias, mulheres que já têm outro trabalho home office ou freelancers. São jovens que estão mais antenados com a tecnologia”, conta. “As redes sociais são essenciais para quem é freelancer, sejam as plataformas ou Facebook e Instagram”, conta o professor de inglês Jonathan Herneck.

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