Na hora da compra

Geração Z quer retorno rápido

Acostumados com a tecnologia, eles são mais exigentes e forçam empresas a inovar

Por Maria Lúcia Gontijo
Publicado em 08 de maio de 2017 | 03:00
 
 
Quando quer adquirir um produto, Vitória Zuppo usa as redes sociais para se informar Foto: Fred Magno

No site da estilista tem o número do celular e a sugestão “Tenho Whatsapp”. Mesmo assim, a estudante Sofia Vilela, 14, não conseguiu entrar em contato com a profissional que poderia fazer seu vestido de 15 anos. “Desisti dela e vou tentar outras. Se nem visualiza a mensagem, é porque não tem a urgência que preciso”, decreta. Assim é a geração Z, o grupo demográfico nascido entre 1994 e 2010, e que representa 25,9% da população mundial.

Essa geração tem urgência, quer resposta rápida. Eles já nasceram empoderados pela conectividade, compartilhando momentos nas redes sociais e fazendo compras online, mas muitos nem usam computador. Resolvem tudo com smartphone em punho. É o caso da estudante Marcella Albuquerque,17. Vive conectada e sempre que pode faz compras pelo WhatsApp. “Eu uso o aplicativo para comprar roupas, acessórios. Até bolo sem glúten já comprei. É muita facilidade”, diz.
Além disso, ela também usa as redes sociais para vender sua linha de joias. “Além do ‘Whats’, eu uso o Instagram para divulgar. A maioria das minhas clientes tem a minha idade e ama saber da coleção através das redes”, disse.

A estudante de publicidade e propaganda Vitória Zuppo, 20, é mais receosa. “Quando me arrisquei pela primeira vez a comprar online, gostei. Comprei algumas roupas da China e chegaram sem problemas, mas mesmo assim, fico receosa”, diz. Vitória prefere seguir marcas e lojas, ficar por dentro das coleções e depois comprar na loja física. “Se fico sabendo de alguma marca ou loja, já corro para o Instagram para ver os produtos. A marca que não tem perfil nas redes só tem a perder”, completa.

Segundo o diretor de e-commerce da Totvs, Maurício Trezub, essa geração busca o máximo de informações possíveis sobre tudo, principalmente na hora de comprar. “O que eles mais compram são produtos relacionados à moda e à tecnologia, especialmente celular. Além disso, apesar de ainda não estarem totalmente inseridos no mercado de consumo, influenciam os pais na hora da compra, fazem pesquisa na internet e vão à loja física”, aponta. Para Trezub, a geração Z não separa a vida real da digital.

“Para esse consumidor, a internet faz parte do dia a dia, ele não conheceu o mundo sem ela. Dispositivos móveis e redes sociais fazem parte da vida, para se relacionar com os amigos, assistir a filmes, comprar, estudar e até mesmo trabalhar”, explica.

Mais que tudo, o consumidor Z não é fiel a uma marca, mas sim ao que ela proporciona. “Como a diferença entre o real e digital praticamente não existe para essa geração, o esperado é que as empresas busquem novas formas de criar experiências diferentes, em todos os canais (físicos e digitais) para atrair, de fato, esses consumidores”, disse.

Para a jornalista especializada em negócios e carreiras Inácia Soares, as empresas precisam estar atentas às demandas desse público. “Se a empresa achar que trata-se de um cliente como qualquer outro, terá sorte se conseguir atrair e retê-los. Outro aspecto importante é a rapidez nos retornos. Jovens se sentem mais confortáveis com a simultaneidade de processos. Enviam e recebem a resposta quase que instantaneamente. Portanto, é preciso ter equipe dedicada ao atendimento digital”, explica.

“Quando a empresa entende o problema do cliente, ela consegue se comunicar melhor sabendo o que pode oferecer de solução para esse público tão exigente”, aponta a especialista em desenvolvimento de negócios da We Do Logos, Paula Del Sarto.

Mais conectada. A Geração Z envia, em média, 206 mensagens por dia, quase três vezes o volume da geração nascida nos anos 80, aponta pesquisa da McCann sobre o comportamento de jovens.

E-commerce, apenas, não é suficiente

As empresas ainda buscam alternativas para atrair o público de 16 a 20 anos. Segundo a especialista em desenvolvimento de negócios da We Do Logos, Patrícia Del Sarto, antes de investir, é preciso saber se o produto atende às demandas dessa geração Z. “A empresa, antes de criar um ecommerce, por exemplo, precisa analisar qual é o perfil de seus clientes. Entendendo isso, a melhor maneira de conquistar esse público é se comunicar de forma clara, investir na usabilidade, além de um apelo visual”, diz.

Paula ainda explica que quem não se preocupa em entender o cliente e acompanhar a mudança de seus desejos está fadado a fechar as portas.


Poder de consumo pede mais atenção

A geração Z quer agilidade, mas precisa de limite. Segundo a psicopedagoga Cristina Silveira, a atenção dos pais deve ser redobrada com o poder de consumo desta geração. “Os pais precisam estar atentos. Adolescentes e jovens precisam de limites, não importa se o dinheiro é deles e ou não. Eles precisam se conscientizar para não consumir desenfreadamente e perder o valor do dinheiro”.

Lucas de Freitas Sommer, 14, fica conectado na maior parte do tempo, e tem autorização dos pais para comprar pela internet. “Eu entro no site e já monto o que quero no carrinho de compras. Aviso minha mãe, e ela só me passa o código de segurança do cartão de crédito, os outros dados já estão cadastrados”, disse.

Sommer “não tem paciência” para comprar em loja física. “Prefiro comprar online pela rapidez e praticidade, resolvo tudo em poucos cliques. Compro mais tênis e jogos de videogame”, conta. A inspiração para muitas das aquisições vem do YouTube. “Vi um vídeo legal de um cara desenhando na parede de um quarto. Descobri qual caneta ele usava e comprei no site norte-americano”, explica.

“É uma geração imediatista que quer tudo para ontem. Cabe aos pais terem estratégias para educar financeiramente essa turma”, orienta a psicopedagoga.