Falta de insumos

Guerra mantém tendência de alta do preço do cafezinho no Brasil neste ano

Conflito na Europa encarece combustíveis e fertilizantes e aumenta custo de produção, explica analista de agronegócio

Por Rômulo Almeida
Publicado em 09 de março de 2022 | 16:13
 
 
O cafezinho é só o primeiro a receber nosso bom - e amargo - açúcar Foto: ASSOCIATED PRESS

O conflito entre Rússia e Ucrânia é mais um elemento que vai elevar o preço do café no Brasil neste ano. Insumos usados no plantio registram alta de mais de 100% no custo. A tendência de alta no preço do produto é observada desde o ano passado nas prateleiras, quando o pacote de 500g acumulou alta de 42%, segundo o IPCA.

Se em 2021 os inimigos do cafezinho foram a secas e as geadas, em 2022 a guerra no leste europeu traz incertezas sobre insumos e logística. Cerca de 25% dos fertilizantes utilizados na cafeicultura brasileira são importados da região em guerra. A alta dos combustíveis também tende a encarecer a produção do grão, já que 80% da cafeicultura é altamente mecanizada. 

A avaliação é da analista de agronegócio da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg) Ana Carolina Gomes. Ela explica que o encarecimento de insumos é um problema que começou ainda no ano passado.

"No ano passado, diante da eventual sinalização de elevação de custos [de fertilizantes], o próprio governo elaborou um programa, mas são ações de longo prazo. Hoje as ocorrências globais deixam o setor de agronegócio, especialmente a cafeicultura, em sinal de alerta. Não talvez pela falta, porque a gente compra de outros países, mas tem um peso porque praticamente 1/4 vem da Rússia".

Os fertilizantes usados no Brasil também vêm da China (13%) e do Canadá (9%).

O impacto do conflito nos preços dos combustíveis também vai atingir a produção de café. "Hoje praticamente 80% da cafeicultura utiliza a colheita mecanizada, com uso de tratores. Então é algo que também onera os custos de produção", diz a analista. 

Outro insumo que teve alta muito acima da média é o potássio, substância muito utilizada na produção cafeeira. Segundo Ana, o produto ficou 205% mais caro em dezembro.

O preço do pacote de 500g do pó de café ultrapassou a marca de R$ 18 nas prateleiras dos supermercados no fim do ano passado. Em Belo Horizonte, o produto chegou a ter uma variação de 27%. Os dados são do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). 

O Brasil é o maior produtor de café do mundo, e Minas Gerais está em primeiro lugar entre os Estados do país. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), foram colhidas 21,45 milhões de sacas em 2021, o equivalente a 46% da safra em todo o país. 

O café é cultivado em 451 municípios de Minas em uma área de 1,3 milhão de hectares. De todo o montante produzido no estado, o do tipo arábica responde por aproximadamente 99%, de acordo com dados da Seapa.