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Indexar tabela de frete com diesel acalma caminhoneiros

Algumas lideranças pregam trégua com governo, outras defendem paralisações

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 19 de abril de 2019 | 03:00
 
 
Greve dos caminhoneiros em maio do ano passado parou o país por mais de um semana e impactou a economia Foto: Estadão Conteúdo

Em meio a boatos de paralisação, a proposta do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, de aumentar o valor do frete mínimo quando o diesel for reajustado, foi bem recebida por alguns representantes da categoria dos transportadores de carga autônomos. A declaração de Freitas ocorreu em uma reunião na noite dessa quarta-feira (17) no Ministério da Agricultura com lideranças dos caminhoneiros e a ministra da pasta, Tereza Cristina. Um vídeo da reunião foi divulgado pelo representante da categoria Wallace Landim, o Chorão, via WhatsApp.

Para o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Minas Gerais (Sinditac-MG), Antônio Vander Silva Reis, indexar a tabela pelo diesel faz sentido “uma vez que o diesel leva em média 60% do frete”, afirma. “O correto é isso. Existe uma tabela de frete que precisa ser corrigida de acordo com os gastos e garantir que o motorista consiga viver. Essa tabela precisa ser respeitada e fiscalizada”, acrescenta o presidente do Sindicato Interestadual de Caminhoneiros, José Natan Neto. Já a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) informou que só vai se posicionar sobre a proposta após a reunião com Tarcísio Freitas na próxima segunda-feira.

Por nota oficial divulgada nessa quinta-feira (18), a CNTA declarou que um levantamento junto a 140 sindicatos, nove federações e uma associação colaborativa apontou que o reajuste do diesel anunciado pela Petrobras entre 4,5% e 5,1% “reacendeu uma insatisfação generalizada na categoria, que está impaciente à espera de uma resposta do governo”, diz.

O líder do Comando Nacional do Transporte (CNT), Ivar Schmidt, acredita que é cedo para falar em paralisação. “Obviamente, nós não gostamos de mais despesas, mas existe a percepção de que o governo atual é muito recente e ainda não teve tempo de trazer uma solução. Mas se tiver mais dois reajustes já seria motivo para uma nova greve”, afirma o representante.

Risco. O representante dos caminhoneiros Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, disse nessa quinta-feira (18) que grupos de caminhoneiros iniciarão uma paralisação a partir de 29 de abril. “A maioria dos grupos já decidiu pelo dia 29 de abril. Tem uns ou outros que acham que é pouco tempo, que devemos esperar ainda, mas a maioria concorda sobre o dia 29”, disse. “Isso não foi uma decisão só minha, foi decidido em grupo por várias lideranças de caminhoneiros”, ressaltou. Segundo ele, os caminhoneiros decidiram antecipar a paralisação, anteriormente prevista para 21 de maio, em função do novo aumento do diesel.

Chorão. Na reunião com os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura), nessa quarta-feira (17), Wallace Landim afirmou que estava “atrás de trabalho para a categoria dos autônomos” e que era necessário negociar com os embarcadores.

Grãos. A ministra da Agricultura Tereza Cristina afirmou, durante a reunião, que pretende “destravar” a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para que os motoristas autônomos “possam transportar produtos que a Conab adquire”.

Guincheiros prometem greve neste sábado

Empresas de guincho e motoristas autônomos anunciaram nessa quinta-feira (18) que a categoria entrará em greve a partir deste sábado (20). Lideranças dos guincheiros reclamam da baixa remuneração recebida das empresas de seguro – que contratam o serviço de guincho – e o descumprimento da tabela mínima de frete. A classe reivindica reajuste emergencial imediato, com pagamento mínimo a partir de R$ 2 por quilômetro rodado, além de R$ 150 fixos por saída.

Atualmente, diz a categoria, o valor médio pago é de R$ 1,40 por quilômetro, mais o valor fixo de R$ 65. Além disso, eles reclamam do não cumprimento de parecer da ANTT que reconhece a categoria como transporte de carga, e não apenas como prestadores de serviço.

Autônomos em várias frentes

Enquanto Wallace Landim, o Chorão, negocia com o governo, Wanderlei Alves, o Dedeco, confirma uma paralisação para o próximo dia 29. Os dois são líderes dos transportadores autônomos de carga e evidenciam a divisão em que a categoria se encontra. 
“Até então (sobre a greve) são só boatos”, afirmou nessa quinta-feira (18) Sidnei Nascimento, um transportador autônomo que participou da paralisação de maio do ano passado. “Na verdade, enquanto as lideranças não decidirem, não temos uma resposta (se vai haver greve em abril)”, completou.

O presidente do sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Minas Gerais (Sinditac-MG), Antônio Vander Reis, afirmou que seus associados não vão participar da paralisação neste mês. Já o presidente do Sindicato Interestadual de Caminhoneiros, José Natan Neto, cita uma possibilidade de greve, mas em junho. “Vamos programar uma paralisação para 30 de junho, mas discutindo com a base, fazendo ata, levantando uma pauta que é extensa para negociar. Não na correria. Muitas pessoas dizem que têm representação, mas não tem nenhum documento”, afirma José Natan. “Tem uma diferença que o governo tem que separar, representação e reivindicações. Hoje, tem muitos lá reivindicando. Representar é outra coisa”, avalia Reis.

Segundo Alves, a mobilização, assim como a greve do ano passado, “está sendo feita por grupos de WhatsApp fechados apenas para caminhoneiros”, diz.

Tabela de pagamento mínimo foi parar na Justiça

O não cumprimento do frete mínimo, criado no ano passado para atender as demandas dos caminhoneiros após a greve da categoria, tem levado os motoristas para a Justiça e sem sucesso, segundo o presidente do sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Minas Gerais (Sinditac-MG), Antônio Vander Reis.

“Não adianta o Legislativo criar leis, se o Judiciário não determina seu cumprimento”, diz sobre decisões judiciais contrárias aos caminhoneiros que tentaram garantir o frete na Justiça. “Essas situações deixam os caminhoneiros desacreditados, e eles só pensam em fazer greve”, afirma. “A Justiça precisa dar mais atenção aos pedidos dos caminhoneiros”, conclui.