Desalento

INSS e bolsas assistenciais sustentam 22,7% dos lares

Moradores de 15,9 milhões de residências do país vivem sem renda proveniente do trabalho

Por Queila Ariadne e Tatiana Lagôa
Publicado em 22 de julho de 2019 | 08:36
 
 
'Sem emprego, eu deixo de fazer muita coisa e não consigo fazer planos', diz Sabrina Rivas, bacharel em direito Foto: João Leus

O aumento e o prolongamento do desemprego levaram a um crescimento do número de residências sem renda do trabalho no Brasil. Em todo país, 22,7% das casas são mantidas com outras fontes de renda, como bolsas assistenciais, pensões e aposentadorias. Isso equivale a 15,6 milhões de domicílios, dos 71 milhões existentes, segundo dados compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A base de informações é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnadc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Trata-se do maior percentual de moradias sem renda proveniente do trabalho desde o início da série histórica do IBGE, em 2012. Na época, existiam 62,8 milhões de moradias no Brasil e 18,23% delas estavam nessa condição, ou seja, 11,44 milhões. Dessa forma, subiu 36,36% o número de domicílios sem pessoas atuantes no mercado de trabalho. “Entram nessa estatística apenas as residências em que nenhum morador tem emprego formal, informal, bicos ou emprego por conta própria. É um reflexo do alto nível de desemprego em que estamos”, afirma a pesquisadora do Ipea, Maria Andréia Lameiras. 

Realidade que a bacharel em Direito, Sabrina Rivas, 41, conhece muito bem. “Meu filho de sete anos e eu movamos na casa da minha mãe. Hoje, somos sustentados com R$ 500 de pensão alimentícia do pai dele e a pensão de um salário mínimo que minha mãe recebe do INSS”, conta. Ela chegou a essa situação depois de muito tentar, mas não conseguir um emprego. “Eu fui em várias agências, fiz cadastros em sites, levei meu currículo em muita empresa. Eu já perdi as contas de quantos processos seletivos eu participei. Está muito complicado arrumar trabalho”, lamenta. 
Essa é mais uma faceta do desalento, quando a falta de esperança deixa as pessoas sem condições de buscar uma recolocação, como mostrado na edição de ontem pelo O TEMPO. Segundo o professor de economia do Ibmec, Glauber Silveira, quando as pessoas não enxergam perspectiva de encontrar emprego, muitas delas simplesmente param de procurar. “O desânimo é tanto que muita gente não faz bico nem nada, e, portanto, passa a depender 100% do auxílio de outras pessoas”, explica.

A consequência, destaca Glauber Silveira, virá em forma do aumento da desigualdade social no Brasil. “O custo de vida aumenta, mas, com mais gente sem trabalho, a renda média cai. As pessoas mais pobres, da base da pirâmide, vão ser mais afetadas e a distância em relação a quem está no topo da pirâmide só vai se distanciar”, avalia.

45,5 milhões vivem com até 2,5 salários 

A cada dez residências brasileiras, seis têm renda familiar considerada muito baixa ou sem recurso do trabalho. São 45,5 milhões de casas sustentadas com até dois salários mínimos e meio, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “A renda familiar cai à medida em que parte da família perde o emprego. A situação está grave porque a recessão está muito prolongada, começou no fim de 2014. A crise chegou efetivamente no mercado de trabalho em 2016. Se pensarmos que estamos em 2019, é muito tempo”, afirma a pesquisadora do Ipea, Maria Andréia Lameiras.(QA/ TL)

Bolsa Família em queda no país

Mesmo com o desemprego e o número de residências sem renda do trabalho em uma crescente, a quantidade de beneficiários do Bolsa Família – um dos programas sociais que tem o objetivo de dar acesso aos serviços essenciais para os integrantes da baixa renda – segue em queda. De março deste ano a julho, o número de beneficiários caiu 3,47%, passando de 14,3 milhões para 13,8 milhões de pessoas no país. 

Segundo o Ministério da Cidadania, mais de 11 mil famílias solicitaram o desligamento voluntário do programa neste ano. (QA/ TL)