Sem crise

Mercado de carros de luxo segue em alta mesmo na pandemia

Em BH, estabelecimento voltado a esse perfil de veículos quadruplicou o faturamento em um ano; antecipação de sonhos que custam milhares de reais é um dos motivos

Por Rafael Rocha
Publicado em 19 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
No Brasil, modelos da Porsche tiveram um aumento de 30% nas vendas durante a pandemia da Covid-19 Foto: Ramon Bitencourt

Enquanto a maioria dos segmentos da economia derrete em prejuízos causados pela pandemia, uma parte do setor automotivo vem ocupando a dianteira quanto o assunto é lucratividade. No segmento de veículos de luxo, com automóveis que ultrapassam a marca dos R$ 400 mil, lojas estão batendo recorde de vendas mesmo em período de distanciamento social. Alguns estabelecimentos registram altas que vão de 30% a 100%, dependendo do recorte.

É preciso olhar os números do setor com lupa para captar essa movimentação econômica. No balanço de emplacamento divulgado mensalmente pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o crescimento de 14,56% no segmento de automóveis no comparativo de setembro e agosto dá apenas uma pista da elevação nas vendas. Quando se detalha o mercado dos veículos de luxo, a subida fica mais acentuada.

Andam bastante aquecidas, por exemplo, as vendas na AvantGarde Motors, que se apresenta como a maior loja de carros multimarcas premium do Brasil. Mesmo durante a pandemia, a loja de carros importados tem registrado recorde de vendas em seus 16 anos de existência. “Crescemos cerca de 70% em número de unidades vendidas”, diz Rodrigo Freitas, um dos três sócios. 

O emplacamento de veículos que custam mais de R$ 200 mil também está em elevação em Minas Gerais. Segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), 525 unidades foram emplacadas em setembro, uma alta de 28% na comparação com agosto, que teve 380 emplacamentos do perfil.

Entidades nacionais do setor confirmam a tendência de alta, mas são mais econômicas em números. A velocidade de crescimento da Avantegarde Motors, um pouco fora da curva, não deixa de chamar atenção. Segundo os donos, o faturamento da loja de seminovos quadruplicou no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período de 2019, passando de R$ 20 milhões para R$ 80 milhões.

Devagar

Enquanto a loja mineira colhe louros, o mercado nacional ainda não afundou o pé no acelerador. A venda de veículos importados de qualquer marca, por exemplo, apresentou queda no acumulado do terceiro trimestre deste ano de 26%, ante o mesmo período de 2019, dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa).

As vendas de marcas premium, que possuem os exemplares mais caros, tiveram menor impacto, com queda de apenas 1,4% no terceiro trimestre do ano, ante o mesmo período de 2019. 

Para o presidente da Abeifa, João Oliveira, dois motivos ajudam a explicar esse melhor desempenho nas vendas de carros cujas cifras possuem zeros a mais. “Havia uma demanda reprimida, pois esse padrão de cliente não teve a renda tão severamente afetada pela crise. A desvalorização cambial também fez com que o cliente antecipasse as compras para evitar que os preços dos carros aumentem”, avalia.

Uma marca que vem apresentando ganhos acima da média nacional é a Volvo, companhia onde Oliveira ocupa o cargo de diretor geral. Por lá, o crescimento nas vendas foi de 12% no terceiro trimestre, com queda acumulada em 2020 de 11%. “Temos muitos modelos híbridos, e a eletrificação é uma tendência cada vez maior no mercado brasileiro”, justifica ele.

 

Cinema particular

Com a pandemia, os sócios da AvantGarde Motors não só adiaram a inauguração da nova loja, como ainda não retomaram o funcionamento normal. No local de 6 mil metros quadrados, a Covid-19 fez com que os clientes procurassem cada vez mais a loja por videochamadas. Os empresários creditam a alta nos lucros ao uso da tecnologia, mas também ao fato de que o isolamento tem gerado economia às famílias dessa faixa de renda.

Os três pisos do imóvel que custou R$ 20 milhões, na avenida Raja Gabáglia, guardam cerca de 80 automóveis que são sonho de consumo de muitos. Recentemente, uma Ferrari F8 Tributo 2020 foi vendida por R$ 3,6 milhões. No imóvel, uma sala de cinema serve distrai adultos e crianças.
Para este ano, a expectativa é que o faturamento seja o dobro de 2019. “Esse ano vendemos aproximadamente 500 carros. Em agosto batemos as vendas do ano passado”, comemora o sócio Rodrigo Freitas.

Sonho do Porsche

Antecipação de sonhos que demandam bastante dinheiro é um dos motivos alegados pela Porsche Center para justificar o considerável aumento de 30% nas vendas. “Com as altas taxas de mortalidade por Covid-19, as pessoas se viram diante de um propósito: aproveitar a vida ao máximo enquanto ela existe. A experiência de dirigir um Porsche, independentemente do modelo, proporciona todo esse prazer”, avaliou, por e-mail, Marcelo Rohlfs, gerente geral da loja no bairro São Bento, região Centro-Sul de BH. A empresa afirma que já vendeu toda a cota de produção com entrega até fevereiro de 2021. Duzentos clientes estão na lista de espera.