IBGE

Mineiros têm R$ 4,8 bilhões a menos para gastar neste ano

Cenário de potencial de consumo tem migrado para as cidades do interior

Por Gabriel Ronan
Publicado em 17 de junho de 2022 | 05:59
 
 
O plano de trabalho prevê cinco etapas em Belo Horizonte, com duração de um ano e meio Foto: Fred Magno / O Tempo

Pesquisa recente do IPC Maps 2022, elaborada com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, aquém das expectativas, o consumo das famílias deve movimentar cerca de R$ 5,6 trilhões ao longo deste ano no Brasil, representando aumento real de apenas 0,92% em relação a 2021, a uma taxa positiva de 0,42% do PIB. Em Minas Gerais, segundo a pesquisa, houve uma queda de R$ 4,8 bilhões no potencial de consumo ante 2021. Percentualmente, essa redução foi de 0,85%.

Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing Editora e responsável pela pesquisa, esse resultado é reflexo da lenta recuperação pós-crise pandêmica agravada pelo atual cenário de confronto entre Rússia e Ucrânia, na Europa. Além disso, o levantamento mostra como o perfil empresarial brasileiro foi afetado, com o fechamento de mais de 1,1 milhão de empresas de 2021 para cá.

Nesse cenário, conforme Pazzini, as 27 capitais, embora com perdas em relação a 2021, aparecem respondendo por 29,07% do total de gastos no país; enquanto o interior mantém sua participação no consumo em 54,9% até o final deste ano.

Queda maior em BH

Em Belo Horizonte, a queda percentual foi ainda maior, de 2,39%. Na prática, a população local tem R$ 2,2 bilhões a menos para gastar neste ano. Responsável pela pesquisa, Pazzini diz que o observado na capital mineira acompanha a situação de outras grandes cidades brasileiras.

“Isso tem acontecido, via de regra, na maioria das capitais brasileiras, porque o cenário de potencial de consumo tem caminhado para os municípios dos interiores dos Estados”.

“As cidades interioranas têm feito um trabalho de atração de empresas para seus parques industriais, oferecendo redução de impostos e sem cobrança de aluguel para as estruturas”, observa Marcos Pazzini.

O responsável pela pesquisa destaca que houve uma migração do dinheiro disponível para consumo no país. Segundo Pazzini, esses recursos saíram da região Centro-Sul e migraram para a região Nordeste do país, beneficiada pela volta do turismo interno e externo.

Consumo no país ainda sob efeito da pandemia

Quando a análise se volta ao Brasil, o IPC Maps mostra que o país não se recuperou dos efeitos da pandemia na economia. Em 2020, o Brasil teve um recuo de 6,5% em seu potencial de consumo. No ano passado, houve recuperação de 4,5%. Mas a expectativa de uma alta expressiva neste ano, com a reabertura total das atividades econômicas durante o ano, não se confirmou.

“O que se esperava é que, neste ano, o país registrasse crescimento pouco maior do que o estimado de 0,92%. Só que, devido a fatores internos e externos, como a cotação do petróleo, que eleva os custos da gasolina e do diesel, além dos preços dos alimentos, que pressionam a inflação, o potencial de consumo está sendo afetado”, diz Pazzini, responsável pelo estudo.

MEIs são destaque negativo na pesquisa

O levantamento do IPC Maps acontece desde 1995. Quatro anos depois, em 1999, os pesquisadores passaram a registrar dados sobre as empresas brasileiras. Desde então, 2022 é apenas o segundo ano em que o Brasil fechou mais CNPJs que abriu – o outro período é o de 2020, evidentemente por causa da Covid-19.

De 1,2 milhão de empresas que foram fechadas neste ano, 1,026 milhão desse contingente é formado por microempreendedores individuais (MEIs), conforme o levantamento.

“A gente verifica que tem uma questão de abertura desenfreada dessas empresas porque você chegou num patamar-limite de faturamento. Isso de certa forma não é saudável. Você também tem a questão do funcionário que era CLT, mas que virou MEI para a empresa deixar de ter os encargos sociais tão altos. Essa queda de empresas é, de certa forma, um saneamento daquele crescimento desenfreado que tivemos nos últimos anos”, afirma Marcos Pazzini, responsável pelo IPC Maps.

Em Minas e Belo Horizonte, também houve diminuição das empresas. O Estado fechou 125 mil companhias: 62 mil do setor de serviços e 49 mil no comércio. Já a capital encerrou 5.577 CNPJs ao todo neste ano até aqui. O alívio na cidade fica por conta do crescimento em serviços: abertura de 2.242 marcas. (GR)