Recrutamento

O negócio é ser doméstica 

Desemprego em outros setores faz número de candidatos a vagas na área aumentar 80%

Dom, 21/06/15 - 03h00
De volta. Carmen deixou um emprego de camareira em hotel para trabalhar em casa de família | Foto: LEO FONTES / O TEMPO

A conquista de direitos iguais aos dos demais trabalhadores e a redução do emprego em diversas áreas, fruto da crise econômica, estão levando trabalhadores a buscar o emprego doméstico, segundo especialistas em recrutamento e seleção de pessoal especializados em emprego doméstico. Na Requinte Seleção de Pessoal, o número de candidatos que desejam um emprego na área aumentou 80% nos primeiros cinco meses de 2015, frente ao mesmo intervalo do ano anterior, segundo o diretor da empresa, Rodrigo Fernandes.

O motivo para o aumento do interesse pela área, na avaliação dele, é a crise. O problema, de acordo com ele, é que nem todas as vagas serão preenchidas, já que a demanda por esses profissionais também caiu em torno de 70%. “Há cinco meses não faço mais anúncios buscando profissionais”, diz.

Na Lar Feliz, a procura por vagas também aumentou. Segundo o diretor da empresa, Alexandre Rocha, entre 30 a 40 pessoas vão à agência por dia, enquanto que, no mesmo período de 2014, estava na casa de dez a 12. “Fora os telefonemas, que aumentaram consideravelmente neste ano”, diz.

Números recentes do IBGE confirmam a mudança de cenário do emprego doméstico, que vinha em queda há sete anos. A Pnad Contínua Trimestral revelou que, nos três primeiros meses de 2015, o emprego doméstico cresceu 1,6% em relação ao mesmo período de 2014, aumento que não era observado em um primeiro trimestre desde que a pesquisa começou, em 2012.

O coordenador de Trabalho do IBGE, Cimar Azeredo, afirma que o aumento no número de domésticos está muito mais relacionado à falta de emprego em outros grupamentos de atividade do que propriamente à Lei das Domésticas, que tem um efeito de modificar a estrutura do emprego doméstico, mas não a quantidade de trabalhadores.

Outro levantamento do IBGE, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), com série histórica mais longa e restrita a regiões metropolitanas do país, mostra que o número de empregados domésticos vinha caindo desde 2010, com a renda crescendo até 60% nos últimos oito anos – cenário que, agora, está se alterando.

O diretor da Lar Feliz frisa que os salários dos empregados domésticos, influenciados pela crise no país, vem apresentando redução. “A média para um empregado doméstico, até o ano passado, era de R$ 1.400. Agora está na casa dos R$ 1.100 a R$ 1.200”, diz. De acordo com ele, as exigências do empregador aumentaram. “Eles querem o cumprimento das 44 horas semanais e todos os descontos que eles têm direito de fazer”.

O consultor organizacional e diretor presidente da Rhumo Consultoria, Sérgio Campos, observa que os rendimentos da classe média vêm caindo, o que contribui para a redução do valor pago aos empregados domésticos. “É importante lembrar que é justamente a classe média a principal empregadora dessa categoria. Com a inflação e a redução da renda, além do receio de perder o emprego, muitas famílias estão cortando os empregados domésticos, trocando-os pelos diaristas”, analisa.

Atenção

Multa. O empregador doméstico que não registrar na carteira de trabalho a contratação do trabalhador está sujeito à multa de R$ 402,53 (378,28 Ufir), por cada funcionário não registrado.

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