Entrevista

'O problema é a infraestrutura, como baratear o Custo Brasil'

Roberto Simões é presidente da Faemg, que possui 395 sindicatos rurais filiados e representa mais de 400 mil produtores mineiros

Por Helenice Laguardia
Publicado em 30 de agosto de 2018 | 03:00
 
 
'O problema é a infraestrutura, como baratear o Custo Brasil' Foto: Ramon Bitencourt

Roberto Simões

Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg)

Com 395 sindicatos rurais filiados, a Faemg representa mais de 400 mil produtores mineiros. O dirigente da entidade, Roberto Simões, fala sobre o setor agropecuário que responde por um terço de toda a riqueza produzida no Estado e mais de 20% dos empregos gerados em Minas Gerais.

Como você define a atuação da Faemg?

O sistema sindical patronal rural é composto pelo sindicato, federação e confederação nacional. Esta é a única cadeia oficial que consta da lei de representação do setor produtivo. Legitimamente somos representantes de todos os produtores rurais mineiros. Isso se faz por meio de três entidades: a própria federação, o Senar que é o braço de educação, formação profissional e promoção social e o Instituto Antônio Ernesto de Salvo destinado aos estudos e projetos inerentes ao setor. É assim que atuamos procurando fortalecer os sindicatos, equipá-los prepará-los para que cada vez melhor atendam os produtores rurais que são nossos clientes. 

Como você define o atual momento do produtor rural em Minas e no país?

É um dos momentos mais difíceis que temos vivido. Temos problemas econômicos, sociais e políticos, O setor do agro é sempre um dos últimos a sofrer com a crise porque produz os alimentos. E Minas Gerais detém um dos sistemas agrícolas mais diversificados do país por isso temos um pouco mais de segurança que os outros setores. Somos o primeiro produtor brasileiro de café com 52% do mercado, primeiro em leite e derivados com quase 30%, primeiro em florestas plantadas, primeiro em equinos, hortigranjeiros forte. O setor é bastante diversificado e por isso mesmo resiste um pouco, mas, evidentemente que não é uma ilha na economia brasileira e mineira. Na medida em que temos tantos problemas, finalmente (a crise) chega no setor e uma das causas principais é a queda de renda da população. 

Ouço reclamação de produtor que está abandonando a atividade, no caso do leite. Como a Faemg tem atuado?

Não temos capacidade para regular mercado. Então, é tentar capacitar cada vez mais o produtor para que ele adote tecnologia adequada para ele ter custos mais baixos. À medida em que tenha custos menores ele se torna competitivo então pode suportar melhor as variações de mercado. Em produtos como o leite estamos reunindo com a indústria e devemos criar em Minas o Conseleite. É um conselho onde assentam paritariamente a indústria e os produtores com a condução de estudos por universidades que analisam os dados da indústria, os dados de custos dos produtores e há esse encontro de discussão que traz à luz a formação dos preços para que ambas as partes conheçam. Temos que trabalhar as cadeias completas. Não podemos falar só de produtor, nem só de indústria, nem só de distribuição.

Vemos um discurso por parte dos candidatos de agregar valor ao setor agropecuário, até que ponto isso é falação?

Essa crítica de quem conhece pouco a área de que vendemos só commodities (matéria-prima) e que isso é ruim. Mas preste atenção: a soja traz no seu bojo tanta tecnologia, que é o mesmo que tem num avião da Embraer. Porque tem nisso Embrapa, pensadores e pesquisadores brasileiros, agricultor que desenvolveu, tecnologia moderna, informática, genética brutalmente desenvolvida, enfim, um grão daquele não é mais aquela commodity do passado que era uma agricultura extrativa. Hoje, não precisamos ter vergonha nenhuma de dizer que exportamos em grande quantidade commodities. A Noruega é um exemplo típico que só exporta commodity e ninguém nunca chamou a Noruega de atrasada, só o Brasil. É objetivo da Faemg – com todos os treinamentos e programas de gestão e formação de novos líderes – focar na necessidade de uma parte menor da sua produção com valor agregado porque é impossível fazer uma agricultura desse tamanho e toda ela com valor agregado. 

O que esperar do próximo governador de Minas e do presidente do Brasil?

O problema fundamental é a infraestrutura, como baratear o Custo Brasil. Nossas estradas, ferrovias, hidrovias precisam de muito investimento ainda. Uma política com mais horizonte de planejamento, não apenas planos anuais, encarar melhor a questão de seguros. É inimaginável que se faça uma agricultura do tamanho da brasileira sem seguro praticamente. Nos países avançados é quase 95% segurado. Aqui, se chegar a 5% é muito. É preciso simplificar, desburocratizar, ninguém quer fazer as coisas erradas. Precisa diminuir a papelada. Nos impostos tem um intrincado que poucos conseguem entender. A principal reivindicação que sempre foi feita é que: se vai projetar medidas ouça, por amor de Deus, ouça o setor primeiro porque é mais fácil de chegarmos a um consenso. 

Você é a favor do porte de arma nas zonas rurais?

Sou, desde que bem regulamentado, quais as medidas necessárias e os registros é razoável a pessoa ter como poder se defender. Porque os bandidos cada vez mais bem equipados e sabendo que a população está à mercê deles que nada pode fazer. Temos tido atualmente, no passado fazia-se apenas o roubo ou o furto, de uns tempos para cá com a entrada de drogas, começaram as agressões físicas e perdas de vida. Eu acho que é mais do que razoável se houvesse a regulamentação correta e a possibilidade de ter uma arma para se defender na propriedade. 

Sobre o projeto que acelera a regulamentação dos agrotóxicos, ele é a lei do veneno ou é a lei do remédio?

É preciso que as pessoas conheçam o setor e parem de discutir na base do eu acho. Dizem que o Brasil é o maior usuário de defensivos. Não é o correto. O Japão aplica oito vezes mais do que nós, a Coreia quatro vezes mais, a Europa toda, os EUA idem. Isso é regulamentado, cientificamente estudado, tem as dosagens próprias, até onde pode ser aplicado. Uma agricultura desse tamanho – e o mundo vai crescer para mais de 9 bilhões de habitantes e para alimentar essa população – não há como fazer uma agricultura orgânica, sem nada. Ela não conseguirá produzir os volumes necessários. Tem que estudar as fórmulas e saber até quando pode ser aplicado para que se tenha uma produção que mate a fome do mundo. As pessoas precisam conhecer para depois ficar falando. No Senar, um dos treinamentos mais procurados é o uso correto, na dosagem correta. 

Você diz que por interesses internacionais em desestabilizar a competitividade agrícola brasileira, o setor é colocado em cheque nas questões ambientais. Como tirar essa roupa de vilão do produtor rural?

Concorrentes internacionais e mesmo alguns nacionais gostam muito de usar fatos não comprovados para desqualificar nosso excelente desenvolvimento agrícola. São grupos internacionais como Ongs que são financiadas por países como Venezuela, Dinamarca, Alemanha e outros. O que eles querem é cercear nossa força de produção a preços competitivos no mercado internacional. Já pegaram e engessaram a Amazônia 80% não pode ser mexido. Tudo bem. Agora tem-se notícia que vem um grupo de técnicos internacionais com 50 milhões de euros definidos por essas Ongs e governos para tentar fazer a moratória do cerrado brasileiro. Isso é apenas cercear a agricultura brasileira de grãos que dá show no mundo, é esse o grande ciúme que estamos causando e grande impacto econômico nos países que têm pouca área e pouco sol e custos muito mais altos do que os nossos então eles têm que usar todo o tipo de argumento que nos barram.