Inovação

Pó de ardósia é aposta para novo e poderoso fertilizante

Empreendedor da cidade de Papagaios aumentou colheita utilizando tecnologia

Dom, 15/09/19 - 03h00
Já seco, o pó de ardósia é jogado na lavoura, onde serão plantadas as semente | Foto: Olivier Cabanellas

Uma enchente em Santa Catarina fez crescer, por acidente, a quantidade e a qualidade do arroz. Na época, há cerca de dez anos, um pesquisador descobriu que o segredo da multiplicação vinha do pó da ardósia que escorregou para a plantação.

Foi nessa história e em outros casos de sucesso do uso de rejeitos de rochas que o agricultor Olivier Cabanellas buscou inspiração. Comparando com plantios que usaram fertilizantes químicos na mesma região, o mineiro conseguiu aumentar a produtividade sua última lavoura de milho em 49%.

Cabanellas não está sozinho. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está estudando usar resíduos de rochas ornamentais como fertilizantes, em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e com a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas).

A expectativa é que a iniciativa seja executada a partir do ano que vem. “Ainda estamos desenhando o projeto, que conta com um zoneamento agroecológico do país. O objetivo é levantar onde tem oferta e demanda por agrominerais, pois cada região tem rochas especificas.

E o ideal é desenvolvermos cadeias regionais, como o que já está sendo feito em Papagaios, na região Central de Minas, que é o maior polo exportador de ardósia do mundo”, explica o pesquisador da Embrapa, Éder Martins.

Ensaios

É exatamente nessa região que Cabanellas vem aplicando, com sucesso, o fertilizante agromineral feito a partir do resíduo da ardósia.

“Quando usei o pó da rocha pela primeira vez, o volume de milho não nasceu tão bonito. Disseram que eu era doido. Eu estudei e entendi que, para funcionar, o solo precisava ter vida. Então vi uma técnica usada no Japão, que deposita arroz no solo, e ele é colonizado por bactérias”, conta o empreendedor.

Após testes sobre a proporção dos elementos e o tempo da aplicação, Cabanellas, que trabalha com mineração de ardósia, descobriu que era preciso adicionar fonte de carboidrato e de energia para acelerar a multiplicação das bactérias.

Deu certo. “Colhi uma safra 5% menor, mas minha produtividade cresceu de 30% a 40%, pois a nutrição aumentou”, lembra.

Na avaliação do geólogo consultor da Abirochas, Cid Chiodi, os testes têm tudo para dar certo e ajudar a reduzir a dependência do Brasil em relação à importação de fertilizantes.

“As coisas funcionam muito melhor quando partem da base da cadeia. No caso, são os próprios agricultores que têm testado e confirmado a eficiência do pó de ardósia”, comenta Chiodi.

Hoje, o pó da ardósia de Papagaios já fornecido para vários agricultores do país.


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