Impacto

Política agressiva do governo chinês traz prejuízos ao Brasil 

Há subsídio fiscal, controle de preços e até doação de terras para produtor local

Por Pedro Grossi
Publicado em 05 de março de 2014 | 03:00
 
 
Redução de custos. Condições trabalhistas de chineses são precárias e alguns trabalham 15 horas por dia, segundo especialista da Fiemg Foto: Kin Cheung/AP - 26.5.2011

A crescente participação chinesa no mercado mundial – fácil de ser comprovada verificando a procedência de diferentes itens, de blusas e sandálias até carros – pode ser explicada pela intensiva participação do Estado chinês na política industrial do país.
 

Um estudo inédito realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o escritório norte-americano King&Spalding, mostra os impactos da política protecionista chinesa no setor produtivo brasileiro. Uma em cada quatro empresas brasileiras sofre com a concorrência chinesa e 67% dos exportadores registram perda de clientes para a China.

A política chinesa consiste basicamente no subsídio fiscal, controle de preços e até doação de terras para produtores locais. Mais de sete setores produtivos recebem incentivos fiscais e financiamentos para baixar ainda mais o custo de produção. Além disso, em determinadas regiões do país, praticamente não existem leis trabalhistas nem processos de segurança e de controle de qualidade – o que deixa ainda mais baixo o custo dos produtos chineses. De acordo com o estudo, cada uma das 33 regiões da China utiliza mais de cem mecanismos de subsídio.

“É complicado competir em um mercado assim. Há fábricas na China em que o funcionário trabalha mais de 15 horas por dia e dorme na própria fábrica, sem ter nenhum direito trabalhista”, explica o presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves Fernandes.

Essa competição desleal já trouxe graves consequências para setores produtivos brasileiros, sem condições de competir com a invasão de importados chineses. “O setor têxtil e o de máquinas e equipamentos foram os que mais sofreram”, diz Gonçalves. “A valorização do dólar, que dificultou um pouco a entrada dos importados, e a desoneração tributária promovida pelo governo em alguns setores minimizaram um poucos os efeitos, mas a situação ainda é crítica”, observa.

O setor siderúrgico, por exemplo, se conseguiu incentivos fiscais para diminuir os custos de produção e dificultar a entrada de aço importado no Brasil, sofre com a competição internacional, uma vez que o aço chinês, mais barato, tem roubado fatias importantes do mercado externo.

“O processo de crescimento e diversificação da produção industrial chinesa trouxe oportunidades para alguns setores produtivos no Brasil, mas introduziu grandes desafios para a maioria dos setores industriais brasileiros, que viram afetadas suas posições no mercado doméstico”, afirma o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.