Jogos digitais

Setor de games cresce acima da média no país, mas é o 13º do mundo

Em receita, o setor cresceu 15,7% no ano passado, 6,1 pontos percentuais a mais do que a média global. Diminuição na tributação é vista com bons olhos por quem trabalha na área

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 20 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
Lula sugeriu que os videogames teriam influência negativa no comportamento de jovens e adolescentes Foto: Pixabay

A receita do setor de videogames no Brasil cresceu 15,7% no ano passado – 6,1 pontos percentuais a mais que a média global. Além disso, o número de desenvolvedoras nacionais aumentou 164% entre 2014 e 2018, de acordo com o segundo Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, produzido pelo então Ministério da Cultura.

Apesar desses avanços, os índices brasileiros ainda estão muito distantes dos maiores mercados. No primeiro semestre deste ano, o Brasil foi responsável por apenas 1% da receita gerada pelo setor: US$ 1,5 bilhão, contra US$ 151,8 bilhões do total. O país reúne 3,8% dos jogadores do mundo, com 75,7 milhões dos 2,5 bilhões de gamers. 

Isso coloca o Brasil na 13ª posição no ranking mundial da Newzoo, empresa de análise referência no mercado de games, situação bem diferente da apontada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). Duas semanas antes de anunciar redução de dez pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para consoles e jogos eletrônicos, ele havia dito, em seu perfil no Twitter, que o Brasil era o segundo maior mercado mundial. Essa posição, porém, o país ocupa em relação à América Latina, onde está atrás apenas do México – cuja receita no mesmo período foi de US$ 1,8 bilhão.

O ponto de virada para o setor de videogames no país veio em 2016, quando a Agência Nacional do Cinema (Ancine) deu espaço para produções digitais. Só em 2018, o órgão anunciou fomento de R$ 45,2 milhões à indústria via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Dois censos, realizados em 2017 e 2018, foram financiados pelo MinC para fazer um raio X do mercado.

Anunciada na última quinta-feira, a diminuição na tributação foi vista com bons olhos por quem trabalha com videogames no Brasil. De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), Vicente Vieira, apesar de a medida não impactar diretamente o mercado produtor, uma vez que atinge apenas o consumidor, ela foi vista como um aceno à categoria. “Não veremos ainda impacto, mas há esperança de que isso se desdobre no setor produtivo e que novas políticas sejam anunciadas para fomentar o mercado”, afirma. 

“Nos próximos oito ou dez anos, acredito que a produção local de games tenha crescimento entre 30% e 40%”, prevê o professor de jogos digitais da PUC Minas Marcos Arraes. Ele explica que, desde 2012, a indústria de videogames vem superando outros segmentos do entretenimento, inclusive ultrapassando pela primeira vez, no ano passado, a receita gerada pelo cinema nos Estados Unidos.

A expansão do mercado de games, para o professor, é também um reflexo da mudança de pensamento em relação ao setor no Brasil. “Havia preconceito, e isso fez com que caminhássemos a passos mais lentos, mas hoje vemos a área como tecnologia e inovação”, conclui. 

Mobile lidera crescimento

O mercado de games mobile foi o que mais cresceu em 2019 e representa 45% da receita mundial gerada pelo setor. Sozinho, o segmento fez circular US$ 68,5 bi no primeiro semestre deste ano e agrega o maior número de jogadores. No Brasil, o mercado de jogos para dispositivos móveis também é o maior –  pelo menos metade da população com acesso à internet joga games no smartphone ou no tablet. 

A indústria brasileira de games também é mais focado nesse segmento. Quase 70% das produtoras desenvolvem jogos para o mobile, enquanto 42% para computador e, apenas 15% para consoles. De acordo com Vicente Vieira, isso é explicado pela lógica atual do mercado, que torna o processo de produzir e distribuir jogos dispositivos móveis mais fácil. “Para o produtor, é importante investir em um mercado que está crescendo. Além disso, as plataformas móveis são mais amigáveis para o pequeno desenvolvedor, que consegue distribuir facilmente ao consumidor final”, afirma. 

Por outro lado, Marcos Arraes enxerga na tendência de crescimento do mobile maior facilidade de acesso aos produtos. “Jogos ‘triple A’, que são os grandes lançamentos das produtoras, são caros e restritos, muitas vezes, aos públicos A e B. No mobile possibilidade de atingir classes que não seriam impactadas antes. Há muita possibilidade de crescimento nesse segmento”, conclui.

Produções estrangeiras ainda dominam cenário no Brasil

Apesar do crescimento e do tamanho, o mercado brasileiro de games ainda é dominado por produções estrangeiras. O faturamento das desenvolvedoras brasileiras de jogos, majoritariamente focadas em plataformas móveis, não alcança 1% da receita da indústria de videogames no país, estima a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames).

A produção nacional, explica o vice-presidente da entidade, Vicente Vieira, sofre com a falta de um olhar mais atento por parte do setor público. Em países com mercado consolidado, argumenta, há grande incentivo estatal. “A França e o Reino Unido têm programas de fomento público desde 2007. O desenvolvimento de games envolve aporte financeiro elevado e precisa de um time de médio ou grande porte para acontecer. E nem sempre há retorno garantido do investimento”, diz.