Exclusivo

‘Ações e programas do BDMG Cultural serão continuados’, diz presidente da Faop

Jefferson da Fonseca Coutinho deve ser empossado presidente do BDMG Cultural, que encerrará suas atividades neste ano

Por Alex Bessas
Publicado em 25 de abril de 2024 | 12:52
 
 
Colagem apresenta a fachada da Galeria de Arte BDMG Cultural e uma foto do presidente da Faop, Jefferson da Fonseca Coutinho Foto: Reprodução/Flickr BDMG Cultural | Élcio Paraíso/Bendita e Secult/Divulgação

Após a ampla repercussão e comoção geradas pelo anúncio do encerramento das atividades do BDMG Cultural, criado há 35 anos para fomentar, registrar e divulgar os processos culturais em Minas Gerais, o presidente da Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), Jefferson da Fonseca Coutinho, que deve ser empossado presidente da instituição neste momento de transição, garantiu à reportagem de O TEMPO que ações e programas antes encabeçados pelo BDMG Cultural serão continuados.

O novo presidente foi escolhido pelo Conselho de Administração do Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que entendeu que o instituto teria funções que competem à Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e, por isso, determinou que o banco deveria ampliar o suporte à cultura no Estado por meio da Faop. A instituição financeira sustenta que o apoio cultural do banco terá maior proveito se estiver articulado com outras ações culturais desenvolvidas e acompanhadas pela Secult do que atuando de forma difusa. Conforme comunicado não oficial que circulou na quarta-feira (24), a expectativa é que Coutinho seja responsável pela condução dessa transição da instituição para realinhar os investimentos do banco e fortalecer a cultura no Estado.

Contra a extinção da entidade, um protesto foi marcado para às 18h desta quinta-feira (25), em frente à Galeria de Arte BDMG Cultural, quando o espaço previa a abertura da mostra “Todas as coisas são infinitas coisas”, do artista visual Iago Marques.

Compromisso de continuidade

“Nós estamos chegando agora e, neste primeiro momento, vamos nos debruçar sobre todas as ações e programas, compreendendo-os melhor e trabalhando por sua continuidade”, argumenta Jefferson da Fonseca Coutinho. “O que nos faz aceitar com essa serenidade esse desafio é a garantia, por parte do Conselho do BDMG, da continuidade das ações e projetos. Portanto, a Secult recebe essa missão, de fato, com a compreensão que tem o dever de garantir a manutenção de todas as ações e programas antes encabeçados pelo BDMG Cultural”, sustenta Fonseca.

Segundo o gestor cultural, todas as ações previstas para este ano serão mantidas, incluindo o 23º Prêmio BDMG Instrumental e o Prêmio Marco Antônio Araújo, com foco na música instrumental, o Prêmio Flávio Henrique, que contempla a canção autoral, e o Ciclo de Mostras 2024, voltado para artistas visuais. No caso das três primeiras ações, diga-se, os editais de inscrição para músicos participantes foram encerrados neste mês e, com o comunicado do fechamento do BDMG Cultural, pairava dúvida se seriam mantidos. Já o Ciclo de Mostras será inaugurado nesta quinta-feira, com a exposição “Todas as coisas são infinitas coisas”, do artista visual Iago Marques. Também serão mantidas, garante, as outras três ocupações artísticas previstas para cumprir temporada na Galeria de Arte BMDG Cultural, que integra o Circuito Liberdade.

Há ainda a expectativa que a Galeria de Arte BDMG Cultural seja mantida aberta. “É algo que nos dá especial alegria, porque temos uma galeria em Ouro Preto e sabemos da importância desse espaço para a promoção não apenas para jovens artistas, mas também para os veteranos. Administramos a Galeria Nello Nuno com especial carinho, com uma curadoria muito cuidadosa. E entendemos que a Galeria do BDMG Cultural tem uma força enorme, que a gente precisa potencializá-la e fazer que ela seja ainda mais conhecida por todos os territórios de Minas Gerias”, reflete.

Sobre o trecho do comunicado não oficial, que circulou na quarta-feira (24), que sugeria que a Faop iria “herdar” parte da estrutura do BDMG Cultural, Coutinho indica existir o entendimento que há um capital humano no órgão que deve ser mantido. “Entendemos que a continuidade dessas ações, naturalmente, exige a participação técnica dessa experiência e desse patrimônio. É assim que tratamos”, assegura. Na quarta, funcionários e servidores do instituto relatam, em conversa com a reportagem, terem sido surpreendidos com a informação do encerramento das atividades do órgão, sem ter mais notícias sobre possíveis desdobramentos.

Integração

Jefferson da Fonseca Coutinho confirma que, durante esta fase de transição, ficará à frente tanto do Faop quanto do BDMG Cultural. “O BDMG Cultural não fazia parte do nosso sistema, não fazia parte da Secult. Estou desde maio de 2021 na Faop e me identifico muito com uma postura do secretário Leônidas Oliveira tem, que é para mim uma inspiração: a compreensão que os desafios de um são os desafios de todos. Estou em uma Secretaria de Cultura e de Turismo que é absolutamente transversal. Todas as vinculadas estão lado a lado trabalhando pelo interesse público da forma mais coesa possível. É assim que acredito que se dará esse encontro da Faop com o BDMG Cultural”, avalia.

Contudo, ele não soube precisar à reportagem quando será empossado presidente do instituto. “Lamento não saber te dizer exatamente a data, se (a posse) será publicado amanhã ou não. A gente está tão atento a essa questão de compreender a melhor forma possível de dar continuidade, que o foco é este. Sabemos que será um período de transição, trazendo as duas instituições para caminhar lado a lado, construindo o melhor caminho e a melhor integração”, disse.

“Vale ressaltar a vocação da Faop para a formação de jovens talentos, que é também uma vocação do BDMG Cultural”, sugere, reforçando que, na sua avaliação, o que muda na prática seria uma gestão mais integrada e atenta às demandas dos artistas em formação e dos artistas veteranos, das artes e dos ofícios em Minas Gerais. “Nós (a Faop) estamos em mais de 80 cidades de Minas Gerais, mas não tivemos uma parceria, um diálogo com o BDMG Cultural nesse período (desde maio de 2021, quando Coutinho foi empossado presidente da Faop). Neste momento, eu acredito que o que muda é uma maior integração com a Secult”, assinala.

Diálogo

Em relação ao diálogo com a classe artística, que realiza um protesto contra a extinção do BDMG Cultural, nesta quinta-feira (25), durante a vernissage da mostra “Todas as coisas são infinitas coisas”, de Iago Marques, Jefferson da Fonseca Coutinho diz que, por terem se passado apenas dois dias desde a decisão do Conselho do BDMG pela extinção de seu braço cultural, ainda não houve tempo suficiente para estabelecer um diálogo mais efetivo com o segmento. “Para isso, ainda precisamos do entendimento desse todo. Do entendimento em termos de recursos, no que vamos somar”, aponta.

Ao mesmo tempo, ele diz que a técnica da Faop está pronta construir esse diálogo. “Para se ter uma ideia, nós temos ido para todos os territórios de Minas Gerais pedindo licença a cada lugar, compreendendo as lideranças, as vocações de cada lugar”, destaca.

Coutinho também falou sobre a associação entre o gradual encerramento das atividades do BDMG Cultural e o fato de o governador Romeu Zema (NOVO) ter sido vaiado por cerca de um minuto quando apareceu em um vídeo na cerimônia de celebração de 35 anos da instituição, realizada no ano passado. O gestor diz não acreditar que os dois eventos possuam alguma ligação. “Verdadeiramente, eu não acredito, de modo algum, que essa ação seria uma provocação, basta dizer que nosso governador, desde sempre, tem encarado, de modo muito democrático, as críticas que recebe”, avalia. 

Sublinhando ser legítimo que os artistas se mobilizem em defesa da cultura, ele diz ser “prova viva”, à frente da Faop, que apontamentos externos ajudam a construir e avançar. Para Coutinho, porém, são injustas as queixas de pouco caso do governo do Estado em relação ao segmento da cultura. “Na Faop e no sistema de cultura da Secult, pelo contrário, estamos ampliando os nossos trabalhos, estamos descentralizando”, alega.