Nesta quinta

Amauri Reis estreia na websérie #Quarentemas com 'Luxúria'

O ator conta que o personagem dele é um voyer, que está preso em casa durante a quarentena e começa a vigiar as pessoas de todas as formas que consegue

Qui, 01/10/20 - 09h51
Amauri Reis é ator, produtor e diretor teatral. Com 42 anos de carreira, já atuou em dezenas de peças teatrais, incluindo “Vexame”, de Wesley Marchiori, com direção Inês Peixoto: por essa montagem, recebeu o prêmio Sesc/Sated | Foto: Diogo Faria/Divulgação

O ator Amaury Reis não esconde o entusiasmo ao discorrer sobre sua participação na websérie #Quarentemas: ele é o protagonista de "Luxúria", que vai ao ar nesta quinta-feira (dia 1º), às 20h, pelo perfil do Instagram @teatroemmovimento e pelo canal no Youtube/teatroemmovimento.  "Esse episódio, ele me proporcionou um retorno à criatividade da improvisação. Eu ia gravando e mandava (o resultado) para a Inês Peixoto (diretora),  que aprovava ou não, ou, ainda, dava um toque, tipo 'faz assim', 'faz assado'... Gostei muito desse processo,e  a criatividade da gente fica ainda mais aflorada".

Em cena, o público vai se deparar com um voyer. "A Inês me ligou, me deu um tema e, a partir daí, começamos a discutir. Eu moro, em frente ao (edifício) Maletta. É um prédio de 30 andares, eu moro no sétimo, então, tem muita coisa para olhar (risos). E começamos. Ela foi me direcionado para o que ela queria, e fui criando em cima. Foi mais na improvisação, se eu sentia necessidade de falar, falava".

Amaury conta que Inês é uma amiga de longa data. "São 50 anos de amizade (risos). A gente se conheceu criança ainda, já trabalhei muito com ela como atriz, já dividimos palco, e ela me dirigiu em 'Foi Bom, Meu Bem?', 'Vexame' e agora, há pouco tempo, em 'Boa Noite, Cinderela'. Adoro o trabalho dela, adoro o humor dela, é muito parecido com o meu, a gente se identifica neste humor", relata.

Mas os elogios não param aí. "A Inês, ela é de uma delicadeza para dirigir, conduzir o ator... Impressionante, ela deixa a gente muito solto e, ao mesmo tempo na mão dela. E eu confio plenamente. É muito importante o ator confiar no diretor, e eu confio inteiramente nela, sei que ela vai me conduzir do jeito que quero ser conduzido, mas do jeito dela. Além disso, essa experiência, mesmo de longe,  trouxe a oportunidade de a agente trocar ideias, e é  sempre um prazer trabalhar com ela e estar ao lado dela. Sabe aquela pessoa que nunca fala mal de ninguém? Para quem tudo está sempre bom, mas que também não é Poliana?  Ela é assim, bacana, fofa demais, e do bem demais. Estar ao lado dela já é um presente, um presente delicioso. Quero sempre estar nas mãos da Inês", exalta.

Como não poderia ser diferente, a reportagem do Magazine provocou Amaury a falar sobre este período de pandemia. "Acho que é um período estranho. Uma coisa inimaginável. Pensávamos até em uma terceira guerra mundial, mas esse tipo coisa, ficar todo mundo preso dentro de casa, por causa de um vírus...,Foi um susto, uma angústia muito grande, uma quebradeira. No início, como outras pessoas, achava que seria por pouco tempo, depois, a gente viu que ia se estender, e foi muito ruim". 

No tocante a eventuais lições de vida, Amaury entende que talvez seja "a de a gente entender que essa vida é muito efêmera". "Então, a gente não tem que ter grandes coisas, grandes posses, grandes nada. Mas sim grandes sonhos". Ele reconhece ter tido a sorte de, profissionalmente, estar contratado, neste momento, não ter ficado economicamente à deriva. "Então, mesmo não trabalhando como ator de teatro, algo que amo, continuei recebendo meu salário mensal,  o que já me garantiu 80% de tranquilidade. Mas, claro, a pandemia me afetou em termos do prazer de estar no palco e mostrar minha arte, o que eu adoro fazer. E também pelo fato de não poder assistir (outras produções). Porque o teatro, na live, eu particularmente não gosto, não quis fazer. Até tenho um monólogo, me chamaram para fazer, mas não quis, porque não gosto. O que me dá prazer é estar no palco. Mesmo com pouquíssimas pessoas na plateia, é estar ali, mostrando meu trabalho. É importante, gostoso, prazeroso, e acho que o teatro no vídeo, ele não tem a força do palco. Eu assisti a muitas lives, e eu acho bacana, mas não e o que quero fazer", assume.

Na televisão, seus trabalhos mais recentes foram na Globo: as novelas “Orgulho e Paixão” e “Salve-se Quem Puder” - essa, aliás, acaba de ter suas gravações retomadas, após o hiato devido à pandemia da Covid-19.  "A Globo voltou a gravar. São milhões de protocolos para entrar no set, mas me dá muita felicidade estar exercendo de novo a nossa arte, a nossa profissão. Agora, quando volto a BH e volto a me confinar, volta a angústia", admite.

Ele acrescenta que é muito desolador ver o contingente de pessoas que está passando muitas dificuldades. "É triste demais, principalmente artistas que vivem só de sua arte, são momentos difíceis demais. A gente tem que dar um jeito, até de recuperar a dignidade do ator. Mas é um momento que eu acho que vai passar. Ainda não passou, mas o número de mortes parece estar se reduzindo - embora, na minha opinião, morrer um ou 100 é uma tristeza do mesmo jeito. Talvez sejam tempos nos quais a gente vai ter que aprender a ocnviver com a doença", analisa.

Amaury pontua: "Na verdade, tudo é assim, vem o pânico, depois a gente convive com a coisa como se fosse normal. Como com a corrupção, o bandido é preso, e o país manda soltar, é uma tristeza você acabar convivendo com isso achando que é normal, que tudo é normal".
Quanto a um mundo pós-pandemia, ele se arrisca: "Fico vendo que pessoas falam 'ah, nós vamos sair melhor, mais amigos'. Não acho. Se essa pandemia foi usada por governantes para roubar muito mais... Se neste momento de doença, de morte, de catástrofe, de pandemia, as pessoas roubaram mais ainda, você acha que quando passar isso vai ser melhor? Eu não acredito. Tenho uma desilusão imensa do país. Na verdade, do mundo. Mas eu falo desse país porque eu moro aqui, eu vivo aqui, eu quero o bem daqui. Eu luto por isso aqui. Então, eu tenho uma desilusão imensa, quando vejo isso, quando as brigas das pessoas, as fofocas, neste período em que a pessoa em vez de estar pensando no bom de todos". Ele salienta que não se considera uma pessoa sem defeitos. "Veja, eu não sou bonzinho, mas penso que temos que ser justos e corretos na vida. Eu tenho uma formação da minha mãe e de meu pai que é muito de integridade e de caráter. As pessoas falam: 'Você é muito bonzinho, você é bobo'. Eu digo: 'Tudo o que não sou é bobo, eu sou bom, e sou mesmo, o que eu poder ajudar, ajudo, mas bobo, não sou. Às vezes as pessoas tentam me fazer de bobo, e a gente deixa, mas tudo bem. Mas não acredito que o ser humano vai mudar pela pandemia, se não, já teriam mudado. As pessoas já  teriam se cuidado mais em função do outro", diz, referindo-se àqueles que aproveitaram as regras de flexibilização para irem às ruas sem os devidos cuidados.

"A partir do momento em que eu saio para a rua, sem máscara, sem nada, e volto para a minha casa, e tem mais gente lá, eu não estou protegendo aquele! Estou pensando só em mim. Então, se tivesse que mudar,  as pessoas já estariam pensando no outro, não falo geral, mas muitos estão assim. Eu espero, no pós-pandemia, que pelo menos volte o trabalho, que pelo menos volte o teatro, mas, claro, todos os trabalhos, que os que quebraram consigam se reerguer de novo. Porque muita gente quebrou, e isso eu acho muito triste. Mas eu não quero ser pessimista, eu quero ser otimista. Então, eu quero que no pós-pandemia que a gente ao menos a gente volte a ser feliz e a ter esperança, porque até a esperança a gente está perdendo, então volto àquele tempo de ter esperança de dias melhores mesmo, e de encontros, de amizade, ver quem foi seu amigo, que é seu amigo, e 'garrar' nessa pessoa. Vamos 'garrar' nos amigos", conclui, em tom mais animado.

 

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.