A primeira vez que subi no ponto mais alto do icônico Acaiaca, o edifício celebrava 70 anos. Naquele 2017, fui recebido na laje da construção por Antonilson Batista, um dos funcionários do prédio. Ele mesmo demonstrava se impressionar pela Belo Horizonte que, lá de cima, se estende diante dos olhos. Com o indicador em riste, apontou para o distante Horto. Depois, voltou-se para o outro lado, mostrando a Fundação Hilton Rocha, ao pé da serra do Curral. Ele ainda me confidenciou gostar mais de ver a montanha eleita símbolo da capital mineira nos dias nublados. “Parece que o céu abraça a terra”, disse. Em seguida, se inclinou para observar o trânsito de pessoas, carros, ônibus e motos ao redor do Pirulito da praça Sete, nas proximidades do Acaiaca. “Quando estamos lá embaixo, tudo parece uma bagunça, daqui de cima tudo está organizado”, refletiu. 

Na época dessa visita, o prédio ainda buscava redescobrir uma vocação para aquele espaço, cuja vista imponente estava restrita a uns poucos sujeitos de sorte. Hoje, no entanto, a cidade parece ter despertado para a beleza das alturas. Não por outro motivo, o termo “rooftop” ganhou o vocabulário. No Acaiaca, no entanto, o estrangeirismo é evitado. “Nada a ver esse nome em inglês para um lugar tão importante para a nossa cidade e que tem como símbolo duas esculturas de rostos indígenas, não é?”, brinca Rosana Alkmin, gestora do prédio, o mais alto de BH, ao explicar que prefere chamar o lugar de “terraço” mesmo. 

Após passar por uma reforma, realizada no período mais crítico da pandemia da Covid-19, quando houve a restauração de portas, janelas e pisos originais da construção de 1940, o espaço finalmente parece ter encontrado uma vocação. Ocupando o 25º andar do edifício histórico, o terraço agora oferece aos visitantes uma experiência turística: uma vez ao mês, ocorre uma visita guiada, sempre no fim da tarde – subindo, é claro, pelo elevador que vai do 1º ao 25º andar em 20 segundos, a uma velocidade de 20 km/h.  

A próxima visita acontece na quarta-feira (1º), das 17h30 às 19h30, com ingressos vendidos pelo Sympla. “O projeto é oferecido para as pessoas conhecerem o espaço, contemplarem a vista de 360° da cidade toda e os pontos turísticos símbolos da capital mineira, como a serra do Curral, o Parque Municipal, o viaduto de Santa Tereza e a praça da Estação. E, claro, tirar fotos e ouvir as histórias sobre a memória e arquitetura do Acaiaca, tudo embalado por música ao vivo”, detalha Rosana. Além da visita, a gestora conta que o terraço também abre conforme a demanda de locação para pequenos eventos particulares e corporativos. “Já recebemos ensaios fotográficos, festas de casamento e até pedido de noivado. Muitos aniversários também são feitos aqui, principalmente da geração que vivenciou o edifício. É uma forma de resgate das memórias afetivas”, relata. 

Foi justamente nesse espaço que a festa eletrônica Trembase aportou em uma noite de julho do ano passado. “Era o nosso quarto evento, e queríamos proporcionar uma experiência diferente para o nosso público. Então consideramos ir para locais históricos e marcantes da cidade”, lembra o produtor cultural André Ribz, inteirando ter entrado em contato com a administração do prédio, que aceitou a proposta. “O que achei mais bacana foi conseguir ter uma visão ampla da cidade. É maravilhoso! Você vê a praça da Estação, o viaduto Santa Tereza, o bairro Floresta... A gente já teve esse movimento de retomada do centro, e é legal ter essa experiência de ver tudo ali de cima, tudo conectado”, elogia. 

Depois da experiência no Acaiaca, o coletivo à frente da Trembase realizou, em setembro, outra edição nas alturas. Dessa vez, o lugar escolhido foi o rooftop do prédio projetado por Oscar Niemeyer para sediar o Banco Mineiro de Produção. O edifício, que em 1953 abriu as portas pela primeira vez para sediar uma conservadora instituição financeira, passou por uma série de reformas e restauros a partir de fevereiro de 2017. A reabertura aconteceu em 2019, quando a edificação se tornou a sede do inovador P7 Criativo, que visa projetar Minas Gerais no cenário da economia criativa mundial. Vale dizer, a requalificação do espaço, tombado como patrimônio pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), prezou pela manutenção de sua identidade. 

“As pessoas ficaram encantadas com a vista do lugar, que permite um olhar panorâmico para a cidade. E, nessa festa, a proposta foi fazer ao entardecer, diferentemente do que fizemos no Acaiaca, em que o evento se desenrolou à noite e de madrugada”, explica Ribz. Esse mesmo deslumbramento é presenciado quase rotineiramente por Cleonice Lopes Alves, analista de negócios e parcerias no P7 Criativo. “É uma experiência incrível, as pessoas ficam mesmo impressionadas”, garante. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando o espaço recebeu, entre junho e julho de 2022, a sétima edição do Modernos e Eternos, um evento cultural de arquitetura, design, décor e arte.  

Cleonice ainda informa que, geralmente, o lugar recebe eventos corporativos e detalha haver ali a estrutura de uma cozinha industrial, que funciona apenas para eventos privados. No futuro, a ideia é que o lugar abrigue iniciativas abertas ao público que se proponham a explorar experiências gastronômicas. 

Mais atividades nas alturas 

E ainda há fôlego para novas iniciativas nas alturas na área central de Belo Horizonte. Tanto que foi inaugurado neste mês, no terraço do edifício Dona Júlia Guerra, construído na praça Sete na década de 1980, o Mira!, um espaço aberto para as mais diversas iniciativas culturais. “O prédio ocupa o lugar deixado pela antiga livraria Rex, destruída por um incêndio”, comenta Francis Dias, um dos sócios da casa, pontuando que o arranha-céu de 25 andares foi erguido a partir de uma proposta arquitetônica modernista – “no intuito de trazer novos ares e modernidade ao centro da capital”, assinala. 

O local vai funcionar conforme a demanda de projetos e eventos. Já está programada, para o dia 10 de março, por exemplo, uma nova edição da festa Alta Fidelidade. A partir do próximo mês, o terraço vai abrigar também a segunda unidade do Zuzunely, restaurante e café especializado em brunch com produtos artesanais, assinado pela chef Bruna Haddad. “Ocupar um lugar no centro da cidade – e com essa vista indescritível – é muito simbólico para a gente. Sinto que há um movimento de crescimento do hipercentro de BH, mas a maioria das casas é ocupada por chefs homens, que acabam ganhando muito mais destaque que as mulheres. Ter esse ponto ocupado por uma cozinha de mulheres é muito importante”, avalia ela, informando que o plano é que o café da manhã seja aberto ao público de quinta a domingo, entre 8h e 15h. 

Tradicional. E, muito antes desse movimento de redescoberta dos terraços do centro de BH, o Top Bar, localizado no 24º andar do Condomínio do Edifício Bandeirantes, também nas imediações da praça Sete, já seduzia visitantes – entre os quais alguns ilustres, como o baiano Caetano Veloso. No lugar, há quase seis décadas, os visitantes podem desfrutar de um clima aconchegante e da vista panorâmica do centro da cidade, com especial perspectiva da igreja São José.  

Novo na praça. Outra edificação da área central a abrir seu rooftop para eventos, além de funcionar como bar e restaurante, é o prédio Empresarial Helena Maria. Funciona no lugar, desde agosto de 2021, o Eleven Café, localizado no 11º pavimento do edifício. Por lá, o almoço é servido das 11h às 15h.

SERVIÇO:

Terraço do Acaiaca (av. Afonso Pena, 867, 25º andar, centro). Visitas guiadas realizadas uma vez por mês. A próxima acontece na quarta-feira (1º), das 17h30 às 19h30, com ingressos vendidos pelo Sympla. Espaço também recebe eventos privados.

Rooftop P7 Criativo (rua Rio de Janeiro, 471, 25º andar, centro). Terraço pode ser usado em eventos privados. No futuro, há a intenção de abrir o espaço para visita do público, onde deve funcionar um café e restaurante.

Mira! (rua Rio de Janeiro, 600, edifício Dona Júlia Guerra, 25º andar, centro). Prevista para março a inauguração da 2ª unidade do Zuzunely, restaurante e café especializado em brunch com produtos artesanais, assinado pela chef Bruna Haddad. Funcionamento de quinta a domingo, de 8h às 15h.

Top Bar (rua dos Tamoios, 200, Condomínio do Edifício Bandeirantes, 24º andar, centro). Bar e restaurante com proposta intimista. Funciona de segunda a sábado, a partir das 18h.

Eleven Café (rua Espírito Santo, 250, edifício Empresarial Helena Maria, 11° andar, centro). Bar, café e restaurante, espaço também recebe eventos privados. Funcionamento para almoço de segunda a sexta, de 11h às 15h.