Túlio Mourão

Cinco décadas voltadas à música

O compositor, pianista e arranjador mineiro festeja o marco com um livro de crônicas e um álbum de inéditas

Por Patrícia Cassese
Publicado em 13 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
Instrumento de estima: ao piano, o mineiro já acompanhou vários ícones YouTube/Reprodução

Após um lançamento – em dezembro – em Divinópolis, sua cidade natal, Túlio Mourão deve em breve autografar o livro “Alma de Músico” (Gulliver Editora, R$ 39,90) na capital mineira. A obra – que já está nas grandes livrarias, virtuais e físicas – é uma das iniciativas alusivas aos 50 anos de carreira do compositor, pianista e arranjador, que, no próximo dia 18, completa 68 anos. O marco, ele considera o 1º Festival Estudantil da Canção.

“Foi quando conheci o pessoal que viria a formar o Clube da Esquina: Tavinho Moura, Márcio Borges, Toninho Horta, Lô Borges, Beto Guedes... Um encontro que me estimulou a seguir na música”, diz ele, que, vale dizer, chegou a iniciar a faculdade de arquitetura na UFMG.

O livro reúne 48 crônicas. “São memórias, tanto de fatos da vida como histórias da profissão. Na verdade, quem me estimulou a publicar foi o (jornalista e frade dominicano) Frei Betto. Porque passei 30 anos no Rio de Janeiro (assim que deixou a faculdade, Mourão se mudou para a capital fluminense) e vivi muito próximo de pessoas que, ao fim, fizeram aquela que é considerada como uma das melhores fases da música brasileira. Mas, veja, não é um compêndio acadêmico, e sim um documento que contextualiza muito essa fase”, diz ele, lembrando que o título veio, claro, da canção homônima, uma parceria sua com Jairo Lara (aliás, seu conterrâneo). “E, na minha opinião, serviu como uma luva”, avalia.

Aqui, vale uma pausa para lembrar que Jairo integrou, nos anos 70, o grupo AdCanto, que contava, ainda, com Lemão, Kiko Lara e Lou Petrus e que marcou época em Divinópolis e região, assim como a canção “Alma de Músico”.

Voltando ao livro, entre as crônicas está, por exemplo, “Marcelino Pão e Vinho”, no qual Mourão compartilha um episódio engraçado de sua infância – o de quando foi escolhido para atuar em uma encenação, em sua cidade natal, da obra homônima de José María Sánchez, transposta para o cinema em 1955, sob a batuta do espanhol Ladislao Vajda.

Outros projetos

Além do livro, o meio século de trajetória artística de Túlio Mourão também será marcado pelo lançamento de um CD de inéditas. “Esse disco está nos finalmentes. Há muito tempo eu não fazia um trabalho autoral. Lancei um álbum (“Afinidades”, de 2017) com a Dona Jandira, outro (“Paixão e Fé”, 2019) com a Titane, mas trabalhos com foco mais no meu lado pianista. Esse novo álbum põe em cena o compositor”, explica ele. 

Mourão lembra que, embora o disco traga composições recentes, elas, ao mesmo tempo, evocam lembranças da infância, além de reverberarem influências. Neste feixe de canções, “a força melódica é uma característica, assim como no processo composicional” dele em geral. “E são músicas que têm uma estrutura, não são mero pretexto para improvisação, como em geral acontece na música instrumental. Como venho do exercício de criar trilhas, a consistência é muito importante”, explica.

Quando o disco for lançado, ele pretende fazer uma série de shows, inclusive em um novo formato: “Estou organizando uma espécie de talk-show, no qual também conto histórias. Falo do livro, das crônicas, e toco também”.

Desafiado a fazer o tradicional balanço que datas redondas demandam, Túlio Mourão diz, sobre seus 50 anos de carreira: “Fico feliz, tranquilo, com o que já deixei em termos de trilhas sonoras de filmes, discos lançados ou composições cantadas por outras pessoas.

Feliz também quanto aos lugares aonde minha música chegou. Na primeira vez que fui à África, por exemplo, uma rádio de Luanda tinha um dos meus discos. Ter gravado com nomes como (o guitarrista) Pat Metheny e (o saxofonista) Bob Berg, ter música registrada por Nara Leão... Acho que o que há a fazer hoje é tentar contribuir para criar uma mentalidade mais amiga em torno da cultura. Que entenda o papel e a força da cultura dentro da sociedade e da vida das pessoas. Acho que a arte não pode se furtar ao papel da militância, buscando uma discussão mais esclarecida e qualificada”, conclui.