Experiência

Circuito Villas e Fazendas, em MG, ganha destaque na rota turística

Municípios mineiros conectados entre si reúnem restaurantes, fazendas tombadas, fábricas artesanais e experiências gastronômicas

Seg, 30/05/22 - 06h06

Se inventariarmos o potencial turístico do Estado de Minas Gerais, com certeza a concentração estará em sua comida. Dados da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) comprovam: antes da pandemia, em 2019, a cozinha mineira movimentou cerca de R$ 20 bilhões. Diante de números expressivos como esse, não é segredo dizer o quanto os sabores que vêm dos nossos fogões são potências que demandam, cada vez mais, investimento e atenção de todos que compõem a cadeia produtiva da gastronomia no Estado – caso do projeto Circuito Villas e Fazendas, rota turística que possui aproximadamente 270 km de extensão, conectando 12 municípios entre si: Caranaíba, Casa Grande, Catas Altas da Noruega, Conselheiro Lafaiete, Cristiano Otoni, Itaverava, Lamim, Piranga, Rio Espera, Santana dos Montes, Senhora de Oliveira e Queluzito, pertencentes à região do Alto Paraopeba e Vale do Piranga. Juntas, as cidades se destacam por fábricas artesanais, quitandas, fazendas, produção de cerveja e destilarias artesanais de cachaça, queijos e boa comida mineira.

Em Itaverava, a destilaria Pedra Brilhante ganha destaque pela recente atividade da cachaça, envelhecida em barris de jequitibá-branco, bálsamo e jaqueira, enquanto a Santa Efigênia segue a tradição septuagenária de produção de alambiques, sendo, inclusive, a maior fabricante do destilador de cobre da América Latina. Além da cachaça, a destilaria também acompanha o boom da produção de gim no Estado, sendo responsável por desenvolver receitas do destilado. “Já desenvolvi cerca de 40 receitas de gim, em um processo que dura cerca de um mês com cada cliente”, disse Lenizio Barbosa dos Santos, sócio da destilaria e responsável por assinar combinações de ingredientes de célebres gins mineiros como O’Gin, Zuur e Runna. Apesar de Minas Gerais ser considerado o maior produtor de cachaça artesanal do país, mineiros como o Lenizio também querem e já merecem ser reconhecidos como excelentes produtores de gim. 

Apesar da tradição que resiste nesses destinos, cervejarias recentes também estão no roteiro. Criada em 2013, a Mar d’Morros, de Conselheiro Lafaiete, oferece um espaço de degustação onde os visitantes podem beber diversos estilos de cervejas e chopes especiais – por lá, 15 mil litros de cerveja são produzidos por mês. O cardápio é assinado pelo chef Edu Gomes, que, segundo ele, mescla uma cozinha contemporânea com uma cozinha reconfortante. Um dos petiscos mais aclamados, o bolinho de paleta com queijo canastra, é feito em uma cozinha improvisada: um trailer, estacionado no lote ao lado da cervejaria. “Aqui a gente faz tudo, até mesmo a defumação a seco das carnes, tudo dentro do trailer”, contou ele, que já teve experiência dentro da cozinha do chef Jefferson Rueda, reconhecido pelo A Casa do Porco, que fica em São Paulo, e único brasileiro a figurar na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo.

A região também é destaque na produção de azeite – basta uma rápida olhada nas gôndolas de supermercado para se ter a certeza de que Minas Gerais é o maior produtor de azeite da região Sudeste, mesmo com a atividade recente, de pouco mais de dez anos. A primeira experiência de produção de azeite aconteceu em Maria da Fé, também em 2008, e cerca de 40 municípios realizam essa prática no Estado. 

Catas Altas da Noruega, cidade que faz parte do Circuito Villas e Fazendas, é um desses destinos de destaque. O clima frio do município impulsiona do cultivo nos olivais de Catas Altas da Noruega, que fica na Fazenda Estância do Pinheiro. 

A produção ainda é pequena – são mil litros por ano – mas, na boca, o produto é extremamente aromático e fresco. “Produzimos azeite de excelente qualidade e estamos atraindo turistas que gostam e desejam conhecer o processo de produção”, observa Moacir Nascimento, 68 anos, engenheiro florestal e proprietário da fazenda que produz três tipos de azeitonas: maria-da-fé, arbequina e grappolo. 

Herança

Em Piranga, o destaque do Santuário do Bom Jesus de Bacalhau, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1996, é reconhecido pela gastronomia caseira. Longe de restaurantes e chefs estrelados, a comida é batizada pela casa de origem e pelas mãos de quem faz: são as delícias da Célia, as quitandas da Sônia e o cardápio servido no fogão a lenha do Terreiro do Vovô. 

Uma vez que toda comida carrega uma história, a de Piranga não seria diferente. A comunidade quilombola de Bacalhau, que fica a 11 km do município de Piranga, foi certificada pelo governo federal em abril de 2021. A presença do quilombo deixou traços na cultura gastronômica da região, em receitas como o tradicional cuscuz, de origem africana – por lá, a maioria das famílias ainda preserva o fogão a lenha e o forno de barro para preparar deliciosas quitandas e doces.

A repórter viajou a convite do Circuito Villas e Fazendas

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