O reality show "Born To Fashion", que estreou em julho de 2020 pelo canal E!, chega a final nessa quinta-feira (15) e foi a primeira série do Brasil só com candidatas transgênero que chega para transgredir a moda brasileira e revelar o novo rosto da moda. No comando do programa, estão a top Laís Ribeiro, a atriz, cantora e roteirista Alice Marcone, o maquiador André Veloso e a estilista Lila Colzani — além de participações especiais como a do estilista Alexandre Herchcovitch.
Uma das finalistas é a mineira de contagem Luna Ventura, de 25 anos. Após o reality, a modelo e artista plástica se prepara para representar o Estado de Minas Gerais no concurso Miss Beleza T Brasil, que seleciona as candidatas trans mais bem preparadas para representar o país no concurso internacional, Miss Internatitonal Queen. O evento acontece no fim desse mês em São Paulo.
Como você avalia a sua trajetória no "Born to Fashion" e a importância de abordar a pauta da diversidade em um programa de TV?
Eu acredito ter feito um bom trabalho, as trocas que nós tivemos dentro do programa é onde mora o meu maior orgulho, aprendi muito sobre moda com as meninas e ensinei muito de atuação e corpo pra elas também. A gente tava muito mais empenhada nesse intercambio do que em competir. Cresci sozinha, longe de outras pessoas trans assim como a maiora de nós. É revolucionário estarmos em rede nacional dizendo sobre o recorte de cada corporalidade transvestigenere. Para que possamos entender que assim como a cisgeneridade, cada travesti é uma travesti! E estarmos sobretudo juntas, é o que mais me deixa feliz de tudo isso
Você irá disputar o Miss Brasil Trans 2020. Qual é a importância da possibilidade de representar o Brasil na Tailândia e como está sendo a preparação?
Quando se é uma travesti bonita, o que mais a gente ouve é a surpresa "Nem parece trans!" como se beleza fosse propriedade de cisgênero. O meu intuito é naturalizar a beleza trevesti que é de origem latinamericana. Minha vontade é agregar à comunidade internacional o discurso da nossa possibilidade de ser por nós mesmas, nomeadas por nós mesmas, sem reafirmar lugares construídos por pessoas cisgeneras. Quero um dia poder me comunicar com toda a comunidade ao redor do globo e acredito que o concurso internacional abriria essa possibilidade pra mim. Estou dando o meu melhor dentro de todas as recomendações da OMS para ter a chance de levar não só a beleza do Brasil, mas também nossa identidade e discurso.
Veja a apresentação de Luna Ventura no concurso Miss Beleza T Brasil.
Quais trabalhos você destacaria de importante na sua carreira, em Minas Gerais e no Brasil?
Minas Gerais é um dos Estados mais conservadores do nosso país. Logo quando comecei por lá, fui orientada que só teria sucesso caso fosse "menos travesti". Como se eu pudesse existir apenas se fingisse ser algo que não sou. Insistir na militância tem me fechado muitas portas. Mas, antes perder um job por transfobia do que corroborar com esse sistema que tenta nos excluir a todo custo.
Quais são os seus próximos passos e como enxerga a oportunidade e troca com as participantes no reality Born to Fashion?
O que eu aprendi em todo esse percurso é que a indústria vai fazer de tudo para continuar vivendo no século passado. Então, se eles querem nos tirar, a gente vai criar por fora o nosso. Ainda nos julgam pela transfobia, mas somos artistas incríveis. Só pensando nas minhas irmãs do reality show temos participantes que são roteiristas, desenhistas, cantoras, produtoras de moda, atrizes, comunicadoras.... A gente é muito bem qualificada. Jpa pensou se, ao invés de focarmos em entrar nesse mercado, a gente recriar ele para nós? Pois eu prometo a vocês, no que depender de mim, isso vai acontecer.
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