Estreia

Continuação mostra um Gato de Botas em crise existencial

Segundo filme solo com o personagem aborda o peso da idade, o medo da morte, além de sinalizar para uma nova animação com Shrek

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 05 de janeiro de 2023 | 08:22
 
 
Gato de Botas ganhou uma continuação após 12 anos Foto: Universal/Divulgação

Tirando alguns especiais para TV, a família “Shrek” teve como último capítulo, há 12 anos, o primeiro longa-metragem solo do Gato de Botas. E é justamente o personagem saído dos contos de fadas, criado por Charles Perrault e transformado em assassino de aluguel com sotaque espanhol, o responsável por reativar a franquia nos cinemas.

Principal estreia desta quinta-feira, “O Gato de Botas 2: O Último Pedido” traz um gato em crise após desperdiçar oito vidas – se perder mais uma, morrerá para sempre. Aconselhado por um médico da vila, ele se retira de cena, virando um entediado felino doméstico na casa de uma senhora e sepultando as suas grandes aventuras como espadachim.

 

O roteiro leva para esse universo do faz de conta questões existenciais como o peso da idade, o medo da morte e o que devemos dar valor em nossa existência. Será o momento para o peludo protagonista rever seu individualismo e narcisismo, com alguns personagens, novos e antigos, ajudando a conduzi-lo a uma auto-avaliação.

A gata Kitty Pata-Mansa retorna nesta continuação, mais uma vez entre tapas e beijos, refletindo os conflitos de um típico casal – falta de confiança, prioridade ao trabalho e entendimento do que é uma verdadeira vida a dois. Cachinhos Dourados e os Três Urso, outro clássico dos contos de fada, surgem como rivais na busca do mítico Último Desejo.

Esse flerte com a história de Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa é o principal ingrediente a desenvolver as motivações humanas, num grande leque que o seu ponto de partida no desejo de poder, a partir de João Trombeta, principal antagonista de “Gato de Botas 2”, um mimado e frustrado garoto crescido que quer reunir todas as magias e feitiços do mundo.

Mas o que o roteiro quer enfatizar mesmo é a importância da família, num sentido mais amplo, em que os laços não precisam ser necessariamente de sangue, como demonstra a relação entre Cachinhos Dourados e os ursos. Também entra em cena um cachorrinho que foi abandonado e que se junta ao Gato de Botas na jornada épica pelo Último Pedido.

A humildade, a bondade e os propósitos singelos do cão são sempre contrapostos aos sonhos grandiosos dos demais, com conceitos zen-budistas que ajudam a cimentar a mensagem final do filme. Essa lição de moral se mistura às divertidas citações a fábulas clássicas, um dos predicados que fizeram o sucesso do ogro Shrek em quatro filmes.

Por falar no monstrengo verde que derrubou o império Disney ao vencer o Oscar de melhor animação em 2002, ele também aparece em “O Gato de Botas 2” de forma indireta, quando o protagonista e seus novos amigos revelam que o próximo destino serão as terras de Tão Tão Distante, onde moram Shrek, Fiona e o Burro Falante.

A expectativa é de que os caminhos do grupo que trouxe um deboche muito particular ao mundo dos desenhos animados voltem a se cruzar num futuro muito breve. Para usar um termo em voga com os filmes da Marvel, nesse universo expandido de Shrek, os personagens estarão, cronologicamente, num tempo posterior à história dos cinco primeiros longas.