Espetáculo

Coral Lírico de MG e Ars Nova realizam concertos e celebram aniversários

Em meio a comemorações, membros de grupos corais também se preocupam com o momento atual da cena no Estado

Por Bruno Mateus
Publicado em 27 de maio de 2019 | 03:00
 
 
Em comemoração aos 40 anos, Coral Lírico de Minas Gerais se apresenta nesta terça e quarta-feira no Palácio das Artes Paulo Lacerda/Divulgação

O aniversário de dois grupos artísticos de Minas Gerais é motivo especial para celebrar a música coral e o canto lírico, tão tradicionais no Estado desde o fim do século XIX. Por isso, o Coral Lírico de Minas Gerais, que recebeu o título de patrimônio histórico e cultural mineiro em janeiro, comemora 40 anos de história com dois concertos amanhã e quarta-feira no Grande Teatro do Palácio das Artes. Já o Ars Nova-Coral, da UFMG, que há seis décadas é uma das referências no país, se apresenta hoje no Teatro da Assembleia Legislativa.

Para falar dessa tradição dos corais em Minas, é preciso voltar à fundação de Belo Horizonte, em 1897. É o que explica o matemático, músico e professor e pesquisador de teatro e canto coral Ernani Maletta. Ele diz que a capital mineira foi um verdadeiro polo de canto lírico porque a cidade recebia grupos europeus, o que acabou por forjar essa cultura de se incentivar a música coral. Em função disso, até metade do século XX, BH foi o maior centro de produção de ópera do país. Assim, nos anos 60 e 70, durante a ditadura militar, vários grupos nasceram no Estado.

“Era como uma forma de colocar para fora aquele desejo de se expressar artisticamente. Ser muito voltado para a música é uma característica do mineiro. Acredito que o grande número de corais que surgiram é fruto de um desejo de manter a tradição do coro”, afirma Maletta, convidado para ser o diretor cênico do espetáculo do Coral Lírico em comemoração às quatro décadas de atividade. “Precisamos chamar atenção das pessoas para a importância do canto coral para a formação da cidadania”, completa.

Se em outro momento os corais viviam um cenário de produção efervescente, agora o panorama oferece mais desafios, e os cortes progressivos dos investimentos na área cultural por parte dos governos federal e estadual são um entrave significativo. Se não bastasse a falta de incentivo estatal, tentar unir o erudito do popular e aproximar as pessoas do canto coral também é um grande desafio.

“Sofremos com essa falta de público, mas não podemos deixar a peteca cair”, comenta Lara Tanaka, regente titular do Coral Lírico de Minas Gerais. Ela afirma que a estratégia para superar esse distanciamento é realizar apresentações com outros grupos, como as que o próprio Coral Lírico já fez com a Happy Feet Jazz Band e com os BeHoppers, grupo que divulga o lindy hop, dança surgida no fim dos anos 20 no Harlem, em Nova York. 

“Estamos vendo muito de perto as dificuldades para manter a programação dos corais em BH, vamos aos trancos e barrancos. O grande desafio é fazer com que a cultura do canto coral em Minas não se perca”, avalia Wellington Vilaça, membro do Coral Lírico e presidente da Associação dos Músicos Cantores do Coral Lírico de Minas Gerais (Ancol). 

Corista do Ars Nova, Og Martins também se preocupa com o movimento em Minas. Profissionalmente, ele diz que o momento é bastante instável. Por outro lado, na cena amadora, “tem muita coisa rolando”. Para Martins, incentivar a cultura do coro também passa pela democratização e descentralização dos próprios concertos: “A programação atende, mas sempre em um nicho, nos mesmos lugares, principalmente na região Centro-Sul de BH. Fora disso, fica meio complicado”, diz. 

Futuro. Desde os anos 80, o Coral Infantojuvenil do Palácio das Artes se dedica a estimular a formação de jovens cantores com faixa etária entre 8 e 16 anos e divulgar o canto coral no Estado. André Brant, regente titular do coral, acredita que a função do grupo é apresentar o mundo do coro a crianças e adolescentes e prepará-los para o profissionalismo. Além dessa missão, Brant destaca que o corpo artístico também acompanha produções quando solicitado pela Fundação Clóvis Salgado. 

O fato de realizar concertos em espaços públicos na capital mineira e no interior de Minas é, para Brant, essencial para democratizar o canto coral e oferecer diferentes possibilidades ao público. 

Segundo o maestro, o repertório, que vai da música erudita ao folclore e ao popular, em vários idiomas e estilos, é trabalhado exatamente para romper fronteiras e preconceitos dos ouvintes com a música coral. “Procuro mesclar obras populares, do repertório de MPB, e obras eruditas em outros idiomas. Atualmente, estamos trabalhando com francês e inglês. Essa é uma realidade dos corais”, afirma Brant. 

Agenda. Para celebrar seus 40 anos, o Coral Lírico de Minas Gerais realiza duas apresentações – amanhã, às 12h, no Grande Teatro do Palácio das Artes, com entrada gratuita, e quarta-feira, às 20h30, no mesmo local. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Já o coro Ars Nova, para comemorar seus 60 anos, se apresenta hoje, às 20h, no Teatro da Assembleia Legislativa. A entrada é gratuita.