Música clássica

Coral Lírico de Minas Gerais se apresenta nesta 4ª em comemoração pelos 45 anos

Coro executará obra “Paixão Segundo São João, de Bach, ao lado da Orquestra Sesiminas

Por Laura Maria
Publicado em 17 de abril de 2024 | 06:00
 
 

A memória de Cláudia Malta não é de uma mera espectadora. Diretora Artística da Fundação Clóvis Salgado, ela se lembra dos primórdios do Coral Lírico de Minas Gerais, que se apresenta nesta quarta-feira (17), como participante obstinada. “Antes de me tornar diretora artística, fui bailarina da Companhia de Dança Palácio das Artes e atuei ao lado do coral durante muitos anos”, assinala. Daquela época, ela se lembra “com carinho” de ter dançado grandes óperas junto do coral, como Madame Butterfly, de Puccini, e Um Baile de Máscaras, de Verdi.

Sendo assim, não é de hoje que Cláudia acompanha de perto – por vezes ao lado – a história do Coral Lírico de Minas Gerais, que completa 45 anos em 2024. Nesse quase meio século de existência, ela viu o coral se transformar em um “dos raros coros profissionais de todo o Brasil”, receber título de Patrimônio Histórico e Cultural do Estado e experimentar repertório diversificado, da ópera a música popular brasileira. 

“O coral cresceu muito nos últimos anos, e hoje todos os membros do coral são formados em universidade, muitos deles já têm mestrado e doutorado, inclusive no estrangeiro. Essa é uma preocupação que não existia nos anos 70, por exemplo”, avalia. A diretora artística da Fundação Clóvis Salgado recorda ainda que o Coral Lírico advém “da antiga Schola Cantorum [do latim, escola de cantores]” e do primeiro regente, “o saudoso maestro Luiz Aguiar.” “O coral sempre foi regido por grandes profissionais, como o Marcos Thadeu Miranda Gomes, um tenor fantástico”, rememora.

Quanto ao regente atual, o argentino Hernán Sánchez, ela é só elogios. “Ele conquistou esse posto quando veio aqui, em 2019, pela primeira vez, como maestro convidado. O coral apaixonou-se pela técnica e pelo estilo de regência do maestro. O Hernán trabalha com o coro de diferentes formas, mistura os músicos em diferentes naipes, e isso emprega uma harmonia muito interessante. Além disso, ele é um regente muito rápido: em poucos dias, o coro aprende uma nova obra”, acentua Claudia. 

Natural de Buenos Aires, o regente titular já se sente ambientado às montanhas. “Como pão de queijo todos os dias de café da manhã”, brinca. “O povo mineiro me recebeu muito bem. Nós, músicos, somos geralmente mais tímidos, mais introvertidos. Mas aqui me senti muito acolhido pelo coral”, revela Sánchez.

Coral tem uma trajetória de conquistas

Ao longo de sua história, o Coral Lírico de Minas Gerais acumula uma série de conquistas, e levar a música clássica para qualquer canto talvez seja uma das maiores delas. O coral é demandado constantemente para ir até cidades do interior, e a sua adaptabilidade permite que ele se desloque mais facilmente que uma orquestra, por exemplo. “Como não há exigência de um espaço, o coral pode se apresentar facilmente em uma igreja, e não necessariamente cantar música sacra. Além disso, dois ônibus já são mais que suficientes para acomodar todos os músicos”, enumera Claudia.

Outra grande triunfo do coral foi ser reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado, em 2019. “Esse é um grande reconhecimento, sem dúvida. É quase uma estabilidade, nós ficamos quase intocáveis. E o grande diferencial é, justamente, poder levar grandes obras para a comunidade”, elabora Claudia, que enumera ainda a versatilidade do coral tanto em passear por novos repertórios quanto pela sintonia com diferentes orquestras. 

“Os profissionais estão aptos para cantar qualquer obra que são demandados. Mas a paixão deles é a ópera, porque também encontram possibilidade de atuar também: eles são bons atores. O coral conquistou o público com o Noites Líricas, projeto do Hernán que leva os profissionais para lugares pequenos, como a sala João Ceschiatti, no Palácio das Artes”, pontua a diretora artística. 

Obra em comemoração pelos 45 anos

Para comemorar seus 45 anos, o Coral Lírico de Minas Gerais se apresenta, nesta quarta-feira (17), no Palácio das Artes, com a obra “Paixão Segundo São João”, de J. S. Bach, que, a propósito, completa 300 anos de existência em 2024. “Temos um grande desafio pela frente. Essa obra tem uma coisa maravilhosa e passa por momentos diferentes da história do apóstolo João”, comenta Sánchez, citando episódios marcantes da vida do apóstolo de Jesus Cristo.

O coral será acompanhado da Orquestra Sesiminas e contará com a presença de seis solistas, além de músicos convidados. Outra grande atração da noite é a presença do artista plástico de Juiz de Fora, Carlos Bracher. Durante a execução da obra, que tem uma duração média de uma hora e meia, ele pintará ao vivo um quado de quase três metros de altura. “Eu não faço a menor ideia do que vai sair”, brinca o pintor. 

“Inacreditavelmente, estarei no palco interpretando um trabalho em conjunto com a orquestra e o coral. Será uma performance, feita com uma imensa paixão. É isso: uma paixão dentro de outra paixão”, afirma, citando o nome da obra de Bach. Na visão dele, a “música é a grande base do sentimento artístico e tem um grande sentido poético da própria arte em si; ela é a mais extraordinária das artes.”

Ele conta que será um “negócio dificílimo pintar diante de 1600 pessoas”, mas que vai tentar se “desligar” para concretizar a façanha. “Tento me neutralizar. Ao mesmo tempo, sinto a vibração emocional de cada um dos indivíduos que estarão ali”, teoriza. Ao fim da pintura, o quadro fará parte da Série BH, em que presente pintar de 40 a 50 quadros retratando a capital mineira. “Estava me preparando para começar a série, e eis que veio esse convite que será o início oficial dela. Quero pintar praças, avenidas, montanhas e igrejas, vai ser um negócio muito lindo”, finaliza.

SERVIÇO

Coral Lírico de Minas Gerais se apresenta com “Paixão Segundo São João”, de Bach
Quando. Hoje, às 20h
Onde. Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Ingressos aqui