MÚSICA

Das Quebradas alfineta classe média alta em uma parceria com o videomaker P.Drão

Videoclipe "Sintonia" conta com os moradores do bairro Jaqueline, da Zona Norte de BH

Qua, 19/05/21 - 13h57
Videoclipe 'Sintonia' foi registrado na Zona Norte de Belo Horizonte | Foto: Reprodução Instagram

“O rap é livre, e eu sou livre também”. A última frase dita por Das Quebradas, em uma conversa 100% online, diante das limitações provocadas pela pandemia do novo coronavírus, traduz o caminho do rapper belo-horizontino até aqui. Na última semana, em mais uma parceria com o produtor cinematográfico P.Drão, o artista lançou a música e o videoclipe “Sintonia”, que, ao contrário de suas outras produções recentes, deixou o recorte festivo de lado para falar mais claramente sobre o abismo que separa a sociedade.

"Em todos os meus trabalhos, a crítica social está presente — até mesmo em piadas e em duplos sentidos... mas, nesta (música), eu quis deixar mais explícito, com um linguajar mais explícito mesmo, para as pessoas entenderem o recado de cara”, disse Das Quebradas, em entrevista a coluna Trem Pra Fazer, do Manhã Super, da Super 91,7 FM. Em um dos trechos da canção, por exemplo, ele escancara o comportamento dos jovens que, quando estão no baile funk, querem tirar foto com os moradores da periferia, mas, ao trombar com eles na rua, escondem a bolsa por medo de serem assaltados.

E o videoclipe “Sintonia”, além da letra direta, sem firulas ou metáforas, também traduz com perfeição a quebrada do Das Quebradas. O vídeo foi registrado no bairro Jaqueline, na Zona Norte de Belo Horizonte, e conta com a presença pesada dos moradores do local — desta vez, nada de mulheres seminuas, banheiras, carros de luxo e bebidas para o alto. “Todo o elenco é formado por jovens, crianças e moradores do Jaqueline, do Residencial das Flores, popularmente conhecido como Nova Holanda, onde eu moro há cerca de 15 anos”, contou o rapper, que estourou no país inteiro com o videoclipe “Ela Gosta de Dinheiro” (2013), uma de suas dobradinhas de sucesso com o produtor cinematográfico mineiro P.Drão (saiba mais clicando aqui).

Referência
Além do título “Sintonia”, a tipografia usada na nomenclatura do novo trabalho do Das Quebradas é bastante semelhante a da série homônima lançada pela Netflix, em 2019. Coincidência? Claro que não! “A série se popularizou e fez com que muitos jovens de classe média alta começassem a frequentar os bailes usando as nossas roupas — e, quando digo ‘nossas’, eu digo as mesmas roupas que os jovens da periferia usam. Daí, surgiu a brincadeira de que, agora, todo mundo quer ser igual aos personagens de ‘Sintonia’, todo mundo quer ser da periferia, mas cês tão preparados para viver o que as pessoas da periferia vivem?”, questiona o artista.

Ouça a coluna Trem Pra Fazer:

Carregando...

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.