Artes visuais

Documentário baliza o aniversário de Fani Bracher

“A Casa Verde de Todas as Cores, presente das filhas Blima e Larissa Bracher, será exibido hoje pelo Youtube e pelo Instagram

Por Patrícia Cassese
Publicado em 11 de junho de 2021 | 03:00
 
 
Explosão de cores: A artista, que aniversaria nesta sexta, se permitiu usar tons mais impactantes Larissa Bracher/DivulgaçãoE

Nesta sexta-feira (11), dia em que completa 77 anos, a artista plástica Fani Bracher vai receber um presente pra lá de especial das filhas, Blima e Larissa, frutos do seu casamento com o também artista Carlos Bracher. Só que não se trata de uma surpresa: afinal, Fani é a protagonista do documentário “A Casa Verde de Todas as Cores”. O citado presente será exibido pelo YouTube e pelo Instagram do Ateliê Casa Bracher (instagram.com/ateliecasabracher).

Nele, Blima assume a direção, enquanto Larissa, a produção executiva. O filme desvenda, além de memórias de uma vida, uma nova faceta do talento de Fani, já há algum tempo empenhada em pintar painéis nas paredes da casa que mantém em Piau, na Zona da Mata mineira. 
Na verdade, a ideia começou a ser tocada em 2019, mas foi com a chegada da pandemia do novo coronavírus que acabou ganhando fôlego. Fani, que mora em Ouro Preto, onde, com Carlos, mantém o Ateliê Casa Bracher, achou por bem passar aquele início de um período de muitas dúvidas e incertezas na cidade conhecida pela riqueza agrícola. “Quando a quarentena veio, tudo parou em Ouro Preto. E como em Piau não havia sido registrado nenhum caso de Covid, decidimos ficar lá. Permanecemos quatro meses”, rememora. 

Nesse movimento, Fani acabou se reconectando com suas raízes maternas. “Foi lá que eu fiz a primeira comunhão, que fui crismada, coroei na igreja... Então, tenho uma vivência em Piau. Mais recentemente, essa casa acabou ficando pra mim, e lá venho trabalhando pequenos detalhes: pinto vitrais do banheiro, cabides, as malas enormes... Fiz um trabalho de craquelê em cima das pias e do tanque... Enfim, é uma obra que não vai tendo fim. Vou vendo as coisas e vou fazendo. Então, esse documentário é focado em Piau – não tem nada a ver com Ouro Preto, onde vivo há 50 anos”, elucida.

As paredes da casa, nas quais ela pintou os painéis, medem 4 m². “Ao fim, deu 90 m² de painéis”, diz ela, orgulhosa por ter tido a coragem de, aos 75 anos (em 2019), ter resolvido enfrentar escadas para dar vazão a esta nova vertente. “Riscava com carvão mesmo e começava a pintar”. Uma novidade foi o uso de cores vivas, inexistentes nos trabalhos mais conhecidos da artistas, que trazem a temática da mineração, do quadrilátero ferrífero, com muito cinza e muito preto. “Os painéis são muito coloridos, Na verdade, é uma explosão de cores”. Outra curiosidade é que eles acabam sendo um work in progress. “Desenhar e começar a pintar, é um dia só. Nos outros dias, você cobre tudo, vai vendo os detalhes, seu olho vai te mostrando o que tem que modificar ou não... Então, não tem um tempo certo para acabar o painel, não. Às vezes, ainda hoje, quando eu olho, mexo, modifico. É meio que uma obra aberta”.

Além dos painéis, ela segue fazendo intervenções em estampas europeias, principalmente italianos, de santos. “Durante a pandemia, recebi muitas encomendas dessas estampas e trabalhei também bordando. Mas continuo a trabalhar também com óleo sobre tela. Na verdade, são várias frentes, nas quais você vai trabalhando à medida que vai tendo necessidade”.
Vacinada com as duas doses, Fani ressalta que nem por isso se sente confiante. “Os cuidados não diminuíram. De forma alguma. Mesmo porque, estamos atravessando tempos muito terríveis aqui no Brasil, muito tristes. Muito desencontro de ideias, muita falta de perspectiva: tem vacina, não tem, vem, não vem. Querendo ou não, você é atingido por esse redemoinho. Mas, por outro, trabalhar ajuda muito a ficar com a cabeça boa, a não ficar deprimido, entende? Vejo muita gente maravilhosa indo embora. É muito, muito, muito triste”, lamenta.

O aniversário entra em cena para ratificar o privilégio de poder usufruir da vida. “Ela é um sopro. Por isso acho que temos que a valorizar tanto, sermos gratos. Eu sou muito grata! Acho que sou uma pessoa abençoada. Somos privilegiados, porque o que a gente vê diariamente na televisão é uma tristeza tão grande que você não tem nem direito a reclamar de nada. Tem que agradecer, agradecer, agradecer. Claro, não estou falando do positivismo tóxico. É preciso ter uma visão real das coisas que não estão saindo bem, mas, na medida do possível, é tentar ser positivo e ajudar as outras pessoas”, conclui.

Serviço
Documentário “A Casa Verde de Todas as Cores"
De: Blima e Larissa Bracher
Exibição Hoje, no YouTube e no Instagram do Ateliê Casa Bracher (instagram.com/ateliecasabracher)