Artes visuais

Entre pedreiras e visões recortadas da serra do Curral

“Ainda que Dura” trata da relação de Belo Horizonte com a paisagem no entorno

Seg, 26/08/19 - 03h00
Uma das obras é a instalação de marcos topográficos nas cinco pedreiras originárias de BH | Foto: flávia regaldo e aruan mattos/reprodução

A dupla formada pelos artistas belo-horizontinos Flávia Regaldo e Aruan Mattos, há cerca de dois anos, vem trabalhando no projeto que deságua agora na mostra “Ainda que Dura”, em exposição até o dia 31 no Espai. A pesquisa, desenvolvida pelos dois, partiu do interesse em refletir e revisitar a relação de Belo Horizonte com a paisagem montanhosa do seu entorno.

Para tanto, os artistas basearam-se na própria experiência como moradores da capital e, sobretudo, encontraram inspiração na literatura de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), cujos versos, como bem sublinha José Miguel Wisnik no livro recente “Maquinação do Mundo: Drummond e a Mineração”, já traziam perspectivas sobre as extrações de minério no Estado.

“Há também um conto interessante de Drummond que se chama ‘Triste Horizonte’, em que ele fala um pouco da perda da serra (do Curral), na verdade. Ele conta que está precisando de um ar para colocar os pensamentos para respirar e quer subir na serra do Curral. Mas, quando chega lá, ele encontra uma cerca”, diz Mattos.

Foi, então, a partir dessas referências que os artistas começaram a investigar a materialidade das pedras que são retiradas das montanhas. Nessa pesquisa, eles se depararam com a própria construção de Belo Horizonte, que foi, inicialmente, edificada com os insumos retirados de cinco pedreiras. São elas Carapuça, Acaba Mundo, Morro das Pedras, Viação Prado Lopes e Lagoinha, situadas, respectivamente, nas regionais Leste, Centro-Sul, Oeste, Noroeste e Nordeste.

“Nós encontramos vestígios dessas pedreiras. A única ativa é a  do Acaba Mundo, e, claro, depois outras foram surgindo. Mas, essas cinco primeiras, formavam um anel em volta da cidade”, conta Flávia. A busca da localização dessas pedreiras deu origem à instalação de marcos topográficos, que podem agora ser encontrados pelos habitantes da capital.

“Fizemos esses marcos com desenhos gráficos, em vez de informações sobre coordenadas dessa pedreiras e, a partir desses cinco pontos, nós criamos um polígono e demarcamos um ponto entre eles que fica na avenida Brasil com a rua Alagoas. Ali no canteiro central, nós instalamos um sexto marco”, explica Flávia. 

Uma série de serigrafias, concebidas a partir de caminhadas por Belo Horizonte, também compõe a mostra. “Nós mapeamos todos os pontos de onde podemos ver a serra do Curral de todas as ruas dentro da avenida do Contorno”, completa ela. “A percepção é que essas visões acabam sendo frestas entre os prédios”, frisa Flávia.

Agenda
O quê. Mostra “Ainda que Dura”
Quando. Até o dia 31, das 17h às 20h
Onde. Espai (rua Tenente Anastácio de Moura, 683, St. Efigênia)

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