Outra estreia

Filme discute temas como xenofobia ao som de Bruce Springsteen

Longa-metragem "A Música da Minha Vida" conta a história de jovem paquistanês que tem uma epifania ao ouvir as músicas de The Boss

Qua, 18/09/19 - 19h50
Aumenta que isso aí é Bruce: As letras poderosas de “The Boss” conduzem a narrativa | Foto: Warner Divulgação

Não há como não relacionar “A Música da Minha Vida”, filme que estreia nesta quinta-feira em todo o país,  ao recente “Yesterday”. Ao menos de início. De pronto, ambos trazem, como protagonistas, atores britânicos de origem asiática, e são embalados por trilhas sonoras de matrizes bem específicas – no caso do primeiro, Bruce Springsteen, no do segundo, Beatles. O humor também é um elemento comum. Mas as semelhanças cessam aí.

Se "Yesterday" era pura ficção, "A Música da Minha Vida" é inspirado em fatos reais, que, por sua vez, foram transpostos para um livro, base do enredo. No filme de Gurinder Chadha,  as canções de “The Boss” – que, aliás, completa 70 anos no próximo dia 23 – embalam uma trama que, mesmo tendo como start o ano de 1987, aborda temas absurdamente atuais, como fascismo, racismo, xenofobia e desemprego (no caso sob o governo de Margareth Thatcher, a Dama de Ferro).

A história gira em torno de Javed (o carismático e encantador Viveik Kalra), único filho homem de uma família paquistanesa radicada na Inglaterra.

Os Khans, como outras famílias muçulmanas locais, são alvo frequente de ataques xenofóbicos inaceitáveis, mas contemporizados pelos mais velhos devido à condição de imigrantes (assim, não vale muito a pena chamar a atenção). 

Angustiado com a falta de horizontes, e ao mesmo tempo extasiado com o mundo que se descortina quando adentra a escola, Javed entra em choque com as tradições familiares, mas tem uma espécie de epifania ao descobrir a potência das letras de Bruce Springsteen, a partir de duas fitas K7 dadas por um colega.

A forma como as letras são apresentadas é um achado da direção. Nascido em Nova Jersey, em uma família pobre, Bruce transpôs, para suas composições, verdadeiras crônicas que, para Javed, cabem como uma luva.

No curso da trama, a vida da família vai se tornando mais difícil, já que o patriarca perde o emprego, e a recessão bate à porta. Aos poucos, a mãe de Javed precisa dobrar sua carga de trabalho (virando noites), mas nem isso atenua o drama econômico do clã, que passa a se valer de recursos dramáticos, como a venda das joias.

Javed, por sua vez, encontra, na professora de literatura da escola, a alavanca para provar ao mundo que tem, sim, talento. E muito. A ponto de ganhar um concurso que tem como prêmio uma ida a Nova Jersey, justamente a terra onde seu mito nasceu.

Vale dizer, aqui, da produção irretocável do filme, que recria os figurinos à la anos 80 de forma perfeita, como se o espectador que viveu aquela época entrasse de fato em um incrível túnel do tempo. 

E é nessa ambiência que Javed também descobre o amor, por meio de uma garota empenhada em mudar o mundo, por meio de ações como ir às ruas contra o fascismo ou reivindicar a soltura do líder sul-africano Nelson Mandela.

Trocando em miúdos, um filme delicioso, para rir, cantar, torcer e – por que não? – para fazer pensar. Ah, sim. E se emocionar também. Motivos suficientes para justificar que tenha causado frisson no Sundance Festival.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.