Outro olhar

Fotógrafo autodidata viraliza com registros de uma BH ‘distópica’

Daniel Monteiro buscou no cinema a referência estética de sua linguagem fotográfica

Por Alex Bessas
Publicado em 29 de março de 2024 | 06:30
 
 
Foto de Daniel Monteiro, feita ao entardecer, no Parque Municipal de Belo Horizonte Foto: Daniel Monteiro/Divulgação

Com cenas de uma cidade soturna, ora esvaziada, ora com espaços em disputa, o fotógrafo autodidata Daniel Monteiro, 26, se propõe a lançar outro olhar para a caótica rotina que movimenta ruas, bares, praças e parques na noite belo-horizontina. “Eu não sei bem como classificar o meu trabalho, porque não foi nada sobre o qual pensei muito. Pelo contrário, sempre foi algo mais espontâneo, uma linguagem que fui desenvolvendo por identificação”, reconhece o autor de fotografias que viralizaram, nas redes sociais, com registros da paisagem urbana da capital mineira.

“Confesso que fiquei até meio surpreso e meio sem entender porque viralizou tanto”, diz ele, que celebrou, na última semana, o fato de ter superado a marca de 10 mil seguidores no Instagram. 

Belo Horizonte, porém em 2049 pic.twitter.com/PgVv7apbQk

— daniboy (@danielxmonteiro) July 12, 2022

“O que eu acho que aconteceu agora foi uma ampliação disso com o TikTok e o Instagram, que possibilitaram que eu alcançasse mais pessoas, inclusive gente mais velha e de outras cidades, pessoas que diziam que nunca tinham olhando a cidade dessa maneira. No X (antigo Twitter), por outro lado, desde que comecei a fotografar BH, sempre tinha algum post que viralizava”, indica, situando que gosta de registrar principalmente imagens do centro belo-horizontino.

“É o meu lugar favorito, porque além do fato de a cidade ter sido planejada naquela região, sinto que tem um fluxo de pessoas e trânsito interessantes no registro fotográfico”, detalha Monteiro, que trabalha profissionalmente como fotógrafo realizando ensaios com artistas, que costumam estampar capas de álbuns ou para serem usadas em divulgação de novos projetos.


O fotógrafo Daniel Monteiro, que viralizou com fotos de uma BH 'distópica'

Os registros da cidade em si, por outro lado, continuam sendo, para ele, mais um passatempo do que qualquer outra coisa. Nessas imagens, capturadas em uma Sony A7 com uma lente analógica e em um iPhone SE, Monteiro privilegia a noite e os dias chuvosos, que emprestam um clima notívago às cenas por ele registradas.

Obviamente, ao preterir a luz natural, seus registros conferem protagonismo à iluminação artificial de lâmpadas, faróis, letreiros e neons que colorem a urbe, cuja paisagem é valorizada não só pela perspectiva do autor do clique, como também pelo trabalho de edição – feito no Lightroom, seja pelo computador ou pelo smartphone –, que aposta no alto contraste das imagens e na prevalência de cores ora frias, ora quentes.

@danielmonteirox BH em dia de chuva fica lindo ✨ #fotografo #fotografia #tiktokfoto #fyp #belohorizonte #street ♬ Stargazing (Slowed + Reverb) - Marcelo De Carvalho

Esse conjunto de elementos forma uma identidade imagética que começou a ser assimilada pelo artista ainda na adolescência, por meio do cinema.

Referências

“Aos 12 anos, assisti a um filme chamado ‘Tron: O Legado’ e achei as imagens muito bonitas, impactantes. Acho que foi a primeira vez que tive contato com essa identidade futurista, distópica”, comenta Daniel Monteiro, fazendo menção ao filme norte-americano de ficção científica lançado em 2010, com direção de Joseph Kosinski.

A referência permaneceu em reserva até 2016, quando Monteiro se formou no ensino médio e começava a explorar as funções de uma câmera fotográfica. “Eu comecei a sair para fazer fotos da paisagem para aprender, para descobrir como usar o equipamento; estudar foco, luz…”, situa, lembrando que, nessa época, esse foco estético estava adormecido e só viria a ser explorado quando, dois anos depois, ele já se sentia mais seguro ao fazer seus cliques.

“Acho que esse foco reapareceu quando eu assisti ao filme ‘Blade Runner’, tanto o mais antigo quanto o mais recente”, localiza. “Como eu já estava fotografando, tentei trazer aquela estética, que me encantava, para o meu olhar”, revela, entre elogios tanto à versão de 1982, dirigida por Ridley Scott e estrelada por Harrison Ford e Rutger Hauer, quanto à de 2017, que teve Denis Villeneuve como diretor e Ryan Gosling e Harrison Ford no elenco.

A essas produções se somam, sobretudo, a quase totalidade de filmes já realizados pelo cineasta Wong Kar-Wai, pertencente ao movimento chamado de “Segunda Nova Onda” do cinema de Hong Kong, sendo o primeiro chinês a ganhar o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes, em 1997. “Sempre que eu posto alguma foto, aparece alguém dizendo que lembra o cenário de um filme dele”, comenta, sensivelmente orgulhoso pela reincidente comparação.

“Além disso, com o tempo, fui procurando outras fontes de inspiração, algo que encontrei acompanhando alguns fotógrafos, principalmente asiáticos, que sigo nas redes sociais”, pontua, acrescentando que, hoje, sua maior referência é a fotógrafa Rafaela Urbanin – “ela também é de BH e também aposta em uma linguagem semelhante ao que eu busco”.