Literatura

Jacques Fux lança em BH novo livro de ensaio sobre a obra de Georges Perec

O premiado escritor investiga as relações entre as escolhas literárias de Perec e os traumas da Segunda Guerra

Sáb, 23/03/19 - 03h00
“Georges Perec: A Psicanálise nos Jogos e Traumas de Uma Criança de Guerra” é o segundo livro de não ficção de Jacques Fux | Foto: MARIA EDUARDA DE CARVALHO/DIVULGAÇÃO

O poeta e romancista francês Georges Perec (1936-1982) atraiu curiosidade para os seus escritos ao produzir uma literatura – assim como o inglês Lewis Carroll (1832- 1898) e o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) – que coloca o leitor diante de jogos de palavras e enigmas. Estes, por sua vez, eram inspirados no universo da matemática. 

Importante referência para o premiado escritor mineiro Jacques Fux, a obra do francês é tema do seu novo livro, “Georges Perec: A Psicanálise nos Jogos e Traumas de uma Criança de Guerra”, que aponta como o legado do escritor, considerado um dos mais importantes da segunda metade do século XX, pode suscitar reflexões a partir de outras abordagens. O livro será lançado hoje no Centro Comunitário da Associação Israelita Brasileira, em Belo Horizonte.

Desta vez, Fux, que já havia publicado “Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo” (2011), volta-se às relações entre as escolhas literárias de Perec e os impactos da Segunda Guerra Mundial na vida dele. Afinal, o conflito foi responsável pela morte do seu pai, na frente de batalha, e de sua mãe, em Auschwitz – campo de concentração nazista instalado no sul da Polônia, durante aquele período.

O trauma é um tema que interessa Fux há anos, como deixa a ver os romances de sua autoria em que a questão também aparece. Esse aspecto, além do apreço de Perec pela matemática, foi o que o instigou a ler a obra do francês.

“Perec tem um livro maravilhoso chamado ‘W ou A Memória da Infância’, em que relata suas lembranças de menino. Ali há uma parte que é totalmente autobiográfica, e outra em que ele inventa um mundo de jogos, que faz referência à estrutura nazista. Perec também publicou ‘A Boutique Obscura’, em que trata do seus sonhos”, diz Fux.

De acordo com o mineiro, “W ou A Memória da Infância” o inspirou muito enquanto escrevia “Meshugá: Um Romance sobre a Loucura” (2016). “Nesse livro, eu conto a história de uma criança, Sarah Kofman, que é levada por sua mãe para uma instituição católica, onde ela é escondida durante a Segunda Guerra. Depois, ela se torna uma professora e uma grande especialista, e a trajetória dela me permitiu tratar dessa questão dos traumas de infância, que é algo também estão presente nos textos de Perec”, compara Fux.

Pesquisa

Para ele, seu novo livro de não ficção, que resulta do seu pós-doutorado em Harvard, permite discutir como nesse interesse obsessivo de Perece pela matemática pode-se identificar algumas saídas encontradas pelo autor para lidar com as perdas que marcaram sua trajetória.

“Os jogos de palavras e o controle obsessivo do texto surgem quase como que a única saída visualizada por ele desse mundo que acabou criando Auschwitz”, pontua Fux. 

“Perec estava tentando compreender como foi possível a ascensão democrática de um regime nazista, afinal Hitler foi eleito. E a França abraçou o nazismo, embora depois tenha recusado isso. E hoje nós estamos vendo novamente a emergência de governos autoritários, então a obra de Perec segue bastante atual”, conclui.

Agenda

O quê. Jacques Fux lança “Georges Perec: A Psicanálise nos Jogos e Traumas de uma Criança de Guerra” (ed. Relicário, 140 págs.)
Quando. Neste sábado (23), às 18h
Onde. Centro Comunitário da Associação Israelita Brasileira 
(Rua Rio Grande do Norte, 477

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