“Tô Na Vida”

A face roqueira de Ana Cañas 

Cantora paulista faz show no Teatro Bradesco, mergulhada em novo universo rock n’ roll que ronda sua carreira

Sáb, 28/11/15 - 03h00
Postura. Ana Cañas toca guitarra no show “Tô na Vida” e intensifica o flerte com o rock n’ roll, que vem desde o início de sua carreira | Foto: TV Cultura

Ana Cañas queria soar rock n’ roll – com todos os clichês perigosos que o rótulo pode carregar, ela se enveredou por guitarras distorcidas, amplificadores valvulados e gravações orgânicas ao vivo, como se quisesse fazer de um disco um concerto de rock. “Eu queria algo catártico e visceral no CD, que ele soasse como algo vomitado. Não como bonitinho”, diz a cantora. É por aí que ela tem extravasado uma essência mais pesada com “Tô na Vida” (Slap), seu quinto disco solo, apresentado em show neste sábado à noite, no Teatro Bradesco.

Embora tenha passeado por covers de rock antes, lançando até um clipe para versão de “Rock n’ Roll”, do Led Zeppelin, agora a história é diferente. Logo na capa de “Tô na Vida”, a cantora revela uma atitude mais drástica ao posar nua para a fotógrafa Caroline Bittencourt – embora a imagem seja mais poética do que ousada. “Quis dar logo de cara a ideia de desprendimento”, justifica.

Na sonoridade, Ana Cañas buscou o melhor. Teve como principal mentor o guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, que introduziu suas potentes linhas de guitarras em todas as 14 canções inéditas gravadas ao vivo entre os estúdios Space Blues e El Rocha, este último de Daniel Ganjaman. Além disso, o álbum ainda recebeu, em Los Angeles, a criteriosa mixagem de Mario Caldato Jr., considerado “o eterno quarto elemento” dos Beastie Boys.

“Tem uma coisa clichê que ronda o rock e pode ser muito perigosa. Por isso eu tive um critério diferente com o som. De certa forma, eu queria fazer um rock melódico. Passei um ano e pouco compondo as canções. No final, o Lúcio entrou para gravarmos uma demo. Foi legal também e foi a primeira vez que trabalhei fazendo demos. Ele me falava sobre influências, de Pixies, de Queens of the Stone Age, coisas diferentes. E aí fui ouvindo mais de 30 músicas para escolher as que entrariam”, revela a cantora.

Diante de um som mais pesado, ainda que esbarre em baladas de violão que não conseguem explodir, como “Existe” e “Um Dois Só”, Ana Cañas coloca para fora letras quase ingênuas, mas que, segundo ela, foram escritas propositalmente em linguagem simples e o mais acessível possível. “Quis um discurso direto, como é o rock. As coisas óbvias são ditas como são, sem grandes rodeios”, justifica.

Marcada por dar voz aos próprios versos, das 14 canções novas, nove delas são assinadas por Ana Cañas. Nas outras faixas, ela acrescenta parcerias com Pedro Luís, na agressiva “O Som do Osso”, e traz Dadi Carvalho, principal parceiro do último disco, para assinar “Hoje Nunca Mais”.

SHOW. Se no show anterior, do disco “Volta”, Ana Cañas mantinha um flerte forte com a MPB, a bossa nova e o jazz, interpretando no repertório Cazuza, Rita Lee e Alzira Espíndola, por exemplo, agora ela deixa sua voz de dicção impecável gritar – literalmente – em outra frequência. No novo show, a principal releitura fica por conta de “I Love Rock n’ Roll”, reverberada pelo mundo inteiro na voz de Joan Jett. “Confesso que me achei ousada por fazer essa. Mas tem incendiado o público e me senti à vontade no palco”, diz Ana, que estará acompanhada de Lúcio Maia (guitarra solo), Fabá Jimenez (guitarra base), Fabio Sá (baixo) e Marco da Costa (bateria).

Muito além de estar embriagada pelas canções mais densas, a cantora revela que não apresenta “Tô na Vida” na íntegra. As músicas de mais fôlego, como o rock “Indivisível”, com riffs ao estilo The Runaways, e “Coisa de Deus”, um folk rock acelerado, convivem lado a lado com outras que se tornaram obrigatórias em seus shows, como “Urubu Rei” e “Todas as Cores”.

“Eu ainda acho que fazer o disco inteiro é sacanear a plateia. As pessoas querem ouvir clássicos e hits, claro. A diferença é que colocamos tudo em uma linguagem mais potente, bebendo diretamente do rock. Me preocupei bastante com os timbres de guitarra. Eles são a primeira voz do show”, diz a artista.

Turnê

Depois de BH, Ana Cañas volta a São Paulo para alguns dos últimos shows do ano no projeto Tom Jazz – Sons da Nova, nos dias 4 e 5 de dezembro.

Agenda

O QUE. Ana Cañas apresenta o show “Tô Na Vida”

ONDE. Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.244, Lourdes)

QUANDO. Neste sábado, às 20h30

QUANTO. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)

 

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.