Cinema

A oitava trombeta do Apocalipse

Novo capítulo de “Transformers” é um dos piores longas da saga e do ano

Qui, 20/07/17 - 03h00
Medieval. A novidade robótica do filme é o dragão transformer, que possui várias cabeças e salva os lendários rei Arthur e Lancelot | Foto: fotos: paramount / divulgação

Não é fácil explicar o que é “Transformers: O Último Cavaleiro”. Ele envolve a lenda dos cavaleiros da távola redonda, um Merlin cachaceiro, a Pangeia, Stonehenge, uma cena na Segunda Guerra, um submarino e um planeta sugando a energia vital de outro, como um vampiro/sanguessuga.

É como se alguém tivesse misturado cocaína, LSD, anfetamina e suco Tang, cheirado tudo de uma vez, escrito uma história e dado para um adolescente de 12 anos dirigir. O garoto não entendeu, mas filmou tudo, contanto que fizesse “Boom!”. E deu para um dadaísta montar.

O longa, que estreia hoje, começa com rei Arthur e Lancelot sendo salvos por um dragão transformer, encontrado por um Merlin alcoólatra (Stanley Tucci). Junto com o dragão, o mago recebe um cajado intergaláctico. No presente, esse cajado é a chave para Cybertron, o planeta dos Transformers, sugar a energia da Terra e retornar a sua antiga glória.

Cade Yeager (Mark Wahlberg), protagonista do filme anterior, é escolhido como protetor do artefato, devendo encontrá-lo antes dos Decepticons e de Optimus Prime, que foi dominado pela maligna Quintessa. Mas, para isso, ele vai precisar da ajuda do conde Edmund Burton (Anthony Hopkins) e da professora britânica Vivian Wembley (Laura Haddock).

Quão ruim é o resultado disso? É tão ruim que vai fazer você se sentir mal por todas as vezes que disse que um filme era ruim – porque ele não chegava nem aos pés deste. Tão ruim que todas as coisas terríveis que têm acontecido no mundo nos últimos anos vão parecer meras trombetas do Apocalipse anunciando a realização de “O Último Cavaleiro” – porque, se fomos capazes de algo assim, não há mais esperança para a raça humana.

Os personagens ficam repetindo o filme todo que “o fim do mundo está próximo”. Mas você teme que ele não esteja perto o bastante, e que sua vontade de viver não dure as duas horas e meia do longa.

Há ainda uma garotinha latina, que Wahlberg chama de “pequena J-Lo” – fazendo você se sentir sujinho por estar ali. Uma afirmação de que “armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas”. E um negro (o bom Jerrod Carmichael) usado como alívio “cômico”.

A certa altura da “história”, os personagens estão procurando por um submarino e por Stonehenge – e você não entende muito bem exatamente o que está em um lugar e no outro. A partir daí, o melhor a se fazer é desistir de tentar entender o longa. E fazer como Hopkins, que caminha pela batalha final (que não tem sentido nenhum) como alguém olhando para uma obra de arte contemporânea em Inhotim. Mas mesmo que você opte por abstrair e fruir os efeitos visuais e sonoros como uma instalação de videoarte, é impossível se concentrar com os personagens incessantemente gritando as péssimas falas do roteiro.

Porque “O Último Cavaleiro” deixa claro que a única direção de Michael Bay para atores interagindo com telas verdes no lugar dos robôs gigantes é “Grite os diálogos!”. Talvez a esperança seja que a dor de cabeça resultante tenha efeito entorpecente.

Curiosamente, de todas as críticas frequente e justamente dirigidas a Bay, uma que não cabe muito ao filme é a de sexismo. Perto de Megan Fox e das mulheres anteriores da saga, a acadêmica Vivian Wembley não é exatamente machista – ainda que seja tão mal escrita e inverossímil quanto os demais personagens. Isso só deixa claro, porém, que quando não é sexista, o cineasta é simplesmente ruim.

No final, resta apenas torcer para que algum dos profissionais esforçados, competentes e honestos que trabalharam no filme tenham usado o (bom) dinheiro que receberam para salvar algum parente com uma doença grave ou algo parecido. Porque essa seria a única justificativa aceitável para a existência de “O Último Cavaleiro”. 

 

CRÉDITO
Cavaleiro. Wahlberg vive homem comum escolhido para proteger o cajado de Merlin

 

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